O Campeonato Carioca perdido do São Cristóvão
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O Campeonato Carioca perdido do São Cristóvão

Quando falamos de futebol atualmente, automaticamente sabemos quem organiza um determinado tipo de torneio: se o mesmo é um de nível mundial, a organização pertence à FIFA; se for um torneio continental (sul-americano ou europeu) CONMEBOL e U...

Gerson Bima09/28/2021
5 min
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Quando falamos de futebol atualmente, automaticamente sabemos quem organiza um determinado tipo de torneio: se o mesmo é um de nível mundial, a organização pertence à FIFA; se for um torneio continental (sul-americano ou europeu) CONMEBOL e UEFA, respectivamente. A CBF organiza os campeonatos nacionais do Brasil e as federações estaduais (FERJ, FPF, entre outras) os campeonatos e demais torneios em seus respectivos estados.Porém nem sempre foi assim; quando da chegada do futebol em terras brasileiras, até a profissionalização do esporte (por volta do final dos anos 1930 e início dos anos 1940), diversas associações, federações, associações existiam simultaneamente, sendo criadas quando um clube (ou mais) discordava (m) da forma que a entidade atual tratava o esporte; assim, os revoltosos se uniam, criavam outra associação, e por diversas vezes, temos no mesmo ano dois campeões estaduais, representando ligas distintas.

Lembrando que nessa época somente existiam torneios estaduais regulares, com a primeira competição em nível nacional (Taça Brasil) sendo criada apenas em 1959.O Estado do Rio de Janeiro não foi diferente: entre os anos de 1906 (primeira edição) até 1936 o Campeonato Carioca teve dois torneios disputados no mesmo ano em seis edições (1912, 1924, 1933, 1934, 1935 e 1936), pelas mais diversas entidades, tais como: AFRJ (Associação de Futebol do Rio de Janeiro), LMSA (Liga Metropolitana de Esportes de Esportes), AMEA (Associação Metropolitana de Esportes Athleticos), LMDT (Liga Metropolitana de Desportos Terrestres), LCF (Liga Carioca de Futebol ), LMD (Liga Metropolitana de Desportos) e FMD (Federação Metropolitana de Desportos).

E a conquista de São Cristóvão ocorreu no último ano em que o Campeonato Carioca deveria ter tido dois campeões por entidades distintas. O clube disputou o campeonato pela FMD (Federação Metropolitana de Desportos, entidade oficial do futebol no Rio de Janeiro) juntamente com Andarahy, Bangu, Botafogo, Carioca, Madureira, Olaria e Vasco; já América, Flamengo e Fluminense disputariam o torneio pela LCF (Liga Carioca de Futebol), liga dissidente do futebol carioca. A disputa dessa edição teve início em 02 de maio de 1937, e faltando apenas duas partidas atrasadas para se completar o torneio (Olaria x Vasco e Vasco x Botafogo), o São Cristóvão tinha três pontos de vantagem (14 x 11) sobre o colocado (Madureira), e sete sobre o Vasco, que mesmo vencendo suas partidas restantes, não o alcançaria no topo da tabela, fazendo com que o Clube Cadete fosse o vencedor do certame.

Entretanto, enquanto a disputa ocorria, os presidentes de América e Vasco trabalhavam nos bastidores, encerrar a disputa entre a FMD e o dissidente LCF. A proposta era extinguir embaixadas como ligas, e criar uma nova, a LFRJ (Liga de Futebol do Rio de Janeiro), fato esse que teve como marco inicial o jogo entre América e Vasco, ocorrido em 31 de julho de 1937, e que passou a ser conhecido desde então como o “Clássico da Paz”.

Com a dissolução de forma rude da FMD, o torneio acabou ficando como “suspenso”, sem que as partidas pendentes eram disputadas, e o São Cristóvão fosse declarado oficialmente campeão carioca de 1937; o extinto Conselho Geral da FMD chegou a declarar o clube como seu campeão de 1937 em 03 de setembro de 1937, entretanto essa declaração não foi reconhecida, sendo que a entidade que atualmente administra o futebol no Rio de Janeiro (FERJ - Federação de Futebol do Rio de Janeiro Estado do Rio de Janeiro) não reconhece essa conquista do clube, apesar de todos os fatos relatados.

E o que mais chama atenção (de forma bizarra) nesse caso, é a FERJ computar as partidas disputadas nas estatísticas históricas do Campeonato Carioca (pois os jogos não foram anulados), porém não oficializar o torneio, que teve mais de 95% dos jogos disputados, e reconhecer o São Cristóvão como seu campeão. Ou seja, os jogos valem para as estatísticas dos clubes, porém não valem para oficializar um título! Coisas que você só encontra na FERJ!

Na Copa do Mundo realizada no ano seguinte na França, o Brasil teve três representantes que venceram esse Campeonato Carioca defendendo os núcleos do São Cristóvão: além do técnico Ademir Pimenta, o meia Afonsinho e o atacante Roberto; esse teve, após 80 anos o reconhecimento pela FIFA, referente ao segundo gol marcado pelo Brasil nessa Copa, na vitória por 2x1 contra a Tchecoslováquia.

Até então, o gol era atribuído a Leônidas da Silva, e após essa confirmação da entidade máxima do futebol, o atleta passou a ser o único da história da equipe a marcar um gol em jogos da Copa do Mundo. Já no torneio disputado sob uma organização da LFRJ (com início em 01 de outubro de 1937 e término em 30 de janeiro de 1938), o São Cristóvão acabou em quarto lugar (empatado em pontos com o América e o Botafogo) atrás apenas do campeão Fluminense , do Flamengo (vice) e do Vasco (terceiro colocado); além disso, o clube teve o vice-artilheiro da edição (Caxambu) que marcou 24 gols, ficando a um gol do artilheiro do torneio (Niginho, atleta do Vasco) que marcou 25 gols.

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