Porque uma pia não é só uma pia.
Porque uma pia não é só uma pia. | ||
Não tenho a ginga e a malemolência do Jorge Ben pra falar da pia como ele falou da gravata florida do homem, mas a pia, de certa forma, é também, uma declaração de princípios. | ||
Antes de mais nada: não é preciso um processo longo e elaborado de desleixo para a pia chegar a este estado. Dois dias, já bastam. | ||
E aí, cada xícara, cada talher, cada pratinho, vira aquele ditado horroroso, "o que é um peido pra quem tá cagado?". | ||
É um cheiro ruim a mais, numa situação fedida, sei lá, essa matemática não fecha. | ||
Mas o que uma pia neste estado diz sobre alguém? | ||
Depende... | ||
Eu sei exatamente o que ela diz sobre o meu atual momento e o que aconteceu para este estado de coisas. | ||
Durante uns dois meses, estive obcecado com a pia. Fazia parte da minha rotina matutina. | ||
Antes de esfriar. De entrar numas com um monte de coisas e de simplesmente olhar para ela e dizer "hoje, não". | ||
Viver sozinho tem dessas coisas. É a gente com as nossas pias. | ||
Hoje eu encarei a pia. Sem heroismo nenhum. Hoje em dia, por alguma razão, uma rapaziada resolveu usar o termo ESTOICO pra qualquer coisa (suspeito que tenha algum guru ganhando dinheiro com isso, como sói acontecer a cada vez que gente de conhecimento raso parece descobrir palavras e conceitos), suspeito que alguém haverá de dizer que eu lidei com a minha pia estoicamente. | ||
É só esponja, água, detergente e falta de preguiça. | ||
Como quase tudo na vida. | ||
A gente se surpreende, quando está sozinho, com o tantão de coisas que só dependem da gente. | ||
E como isso é ao mesmo tempo, libertador e maravilhoso! |