Carregar o mundo nos ombros: não faça isso!
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Carregar o mundo nos ombros: não faça isso!

Tem aquela musiquinha boa dos Paralamas...

Randall Neto
3 min
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Tem aquela musiquinha boa dos Paralamas...

"eu hoje joguei tanta coisa fora, vi o meu passado, passar por mim, cartas e fotografias, gente que foi embora, a casa fica bem melhor assim"... Paralamas sempre foi uma bandinha meia boca que, vez por outra, acertava a mão. Nessa música, o verso diz que a Lua, em função daquela coisa da gravidade, merecia a visita de bailarinos ao invés de militares, é sensacional essa sacada, uma coisa quase caetânica!

Tem um filme antigão, se não me engano chama "Retratos da Vida", pinta uma cena de militares na rua e tocando o Bolero de Ravel... fiquei pensando na música pras bailarinas na Lua, fugindo do óbvio que seria o som desse bolero vida vamos nós e não estamos sós.

Aquela companhia de Goiânia fazia umas apresentações com músicas do Arnaldantunes, era massa.

Acho que bailarinas na Lua, ao som de Black Sabbath, seria muito louco!

Eu não joguei nada fora hoje, mas vi um pedaço do meu passado passar por mim.

Mais precisamente, fui até o dia em que eu descobri, por telefone, já que eu estava em Brasília, que nosso segundo filho seria uma menina.

A Nina!

Que foi batizada como Marina, mas desde sempre foi Nina. Quando eu tive a certeza que seria pai da Nina e não do Henrique ou Tarcício ou Ulisses ou Ciro ou qualquer um desses nomes que a mãe não concordava, me lembrei, NA HORA, do final do episódio de Californication em que o Hank canta a música mais linda do Bob Dylan pra filha...

Eles estão andando, a filhinha fala algo sobre o coração partido e alguma coisa que fizesse aquilo parar de doer. O pai, com conhecimento de causa, fala que nunca vai parar... não lembro direito o diálogo, sei que ele começa a cantar essa música do Dylan e quando eu assisti, ainda não era pai de uma menina.

Mas chorei mesmo assim... e hoje eu chorei de novo... antevendo o dia em que ela vai falar comigo sobre esse tipo de problema, e percebi que sim, ela vai me procurar pra falar sobre isso. Sei da ligação que as filhas tem com as mães e tal, mas acho que ela vai saber que é comigo essa prosa. Que se tem alguém que vai cantar uma música do Bob Dylan sobre coração partido, serei eu.

Voltei a música... relembrei do episódio. E de uma versão que o Alfredinho gravou no Stonewall. Eu achava mais legal que a original com o Zimmermann, que heresia! A gente chora por qualquer besteira, até pelo coração partido da sua filha de seis anos que ainda vai demorar pra acontecer.

É a falta das coisas, é a estrada que não termina nunca, um sol se pondo maravilhosamente, um dia inteiro de pé e a saudade do pai que nunca mais vai ver uma Copa do Mundo comigo, dos amigos e da Família em Goiânia... já tava sentindo falta disso antes mesmo de acontecer.

Em qualquer sequência de músicas que eu faço, depois de "If You See Her Say Hello", vem "Hey Jude". Uns 3 minutos de na na na na na na na na na na na e eu me imagino abrindo o vidro do carro, deixo o vento frio entrar e canto alto, muito alto, até secar as lágrimas do rosto!

"Don't carry the world upon your shoulders", thanx, Sir McCartney, "the movement you need is on your shoulders", indeed, Sir McCartney...

Incrível o poder que essas músicas pop ainda tem sobre mim, ainda aos 49, it's only rock and roll but I like it, Sir Jagger...