Desmistificando o dinheiro com um pouco de história.
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Desmistificando o dinheiro com um pouco de história.

Então vamos lá: Se você quer remover ou começar a remover o mistério, o caos e a confusão que o rodeia o dinheiro, o melhor lugar para começar é responder essa pergunta:

Cris Resende
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Então vamos lá: Se você quer remover ou começar a remover o mistério, o caos e a confusão que o rodeia o dinheiro, o melhor lugar para começar é responder essa pergunta:

O que é o dinheiro?

Não estou falando do papel e sim daquilo que vem antes de ter dinheiro.

O dinheiro não tem nada a ver com mal e nem bem, O dinheiro é simplesmente uma ferramenta de troca. Uma ferramenta perfeita de troca, nada mais nada menos. É uma promessa de pagamento. É uma invenção que permite que a gente troque os bens que nós criamos, e os serviços que nós oferecemos, com uma maior facilidade. E por isso ele é uma das invenções mais importantes da nossa espécie, da civilização. Sem dinheiro nossa civilização não teria, talvez, nem mesmo sobrevivido

O dinheiro tem dois propósitos. Primeiro padronizar valores para que as pessoas possam realizar trocas de uma maneira mais fácil e o segundo propósito é poder estocar com facilidade seu trabalho para que possa fazer uma troca mais tarde.

Calma que eu vou explicar melhor, mas para isso, primeiro preciso fazer uma retrospectiva, para entendermos como foi que o dinheiro surgiu. Assim você vai entender o conceito por trás dele claramente e tudo isso que eu já falei até aqui.

A história do homem e do dinheiro

A história do dinheiro coincide com a história do ser humano. Contar a história do dinheiro é o mesmo que contar a história da evolução humana.

A origem de todo sistema monetário está no sistema de trocas, mas eu quero ir ainda mais longe para explicar de que maneira tudo ocorreu. Não é possível explicar o contexto da sua criação sem antes entender os porquês que envolvem a necessidade de se ter um sistema, onde a troca e a confiança são necessários como condição de pré-existência.

O ser humano primitivo vivia em cavernas onde eles se abrigavam do frio e sobreviviam com o que a natureza provia dentro de um raio bastante limitado.

Possuía uma inteligência rudimentar e a medida que começou a desenvolver sua inteligência, desenvolveu-se também as suas necessidades.

Assim, começaram a procurar maior conforto e isso, essa busca por melhores alimentos, melhores condições de vida, os levaram a se deslocar por distâncias cada vez maiores a fim de encontrar melhores meios de subsistência.

Esses seres humanos começam a se organizar em clãs, grupos de indivíduos que viviam juntos, com objetivos em comuns, que conseguiam sobreviver devido ao fato de estar em grupos e a partir dessa coletividade, nasceu as necessidades individuais.

Esses grupos passam a ocupar espaços e se multiplicar e por sempre estarem em movimento, acabavam por encontrar seus semelhantes de outras famílias. Isso quando não levava ao embate, levava á concretização do escambo, ou seja, trocavam o que tinham por algo que não tinham de outro clã.

A partir da fixação desses povos primitivos em uma determinada área, possível através da domesticação de animais e do desenvolvimento da agricultura, as trocas passam a ser mais intensas, pois, por mais que esses povos fossem eficientes em produzir diferentes coisas dentro da área escolhida para viver, onde se fixaram, a diversificação não era suficiente, precisavam de coisas que não produziam.

A fixação desses clãs em uma determinada área fez com que  o sistema de troca se desenvolvesse com intensidade e tornou-se um sistema onde a reciprocidade era a chave fundamental, exigindo dupla coincidência de vontades entre seus agentes que trocavam aquilo que tinham de excedente por aquilo que desejavam e não possuíam. Essas pessoas posteriormente serão chamadas de comerciantes.

Como cada região ocupada possui condições climáticas e de terreno únicas (o que chamamos hoje de terroir), esses pedaços de terra possuíam, e até hoje possuem, vocação própria. O que de certa forma limita aquilo que pode ser produzido. 

A inclinação para se produzir algo era única de cada família que tinha suas preferencias e limitações para desenvolver e desempenhar determinadas atividades, alguns teciam bem, mas não possuíam argila para fazer potes, outros faziam bons potes de barro, mas não sabiam tecer, ...

Outro aspecto que tinha enorme influência era determinado pela vocação da terra que ocupavam, nem tudo que semeavam dava em todo lugar e nem todos os animais domesticados eram abundantemente encontrados. A maneira que tinham de diversificar essa produção e ter aquilo que era necessário para sobreviverem, era fazendo trocas, o escambo de mercadorias. E mesmo quem não possuía nada fazia trocas, trocavam seus serviços por aquilo que era necessário para sobreviver.

O sistema de trocas diretas durou vários séculos e deu nome á vários vocábulos que usamos até hoje, como o salário que era a troca do trabalho (serviço) por uma quantidade determinada de sal.

Uma curiosidade. A partir do momento em que as trocas se tornam muito intensas, elas começam a precisar de um registro para serem controladas, assim surge a primeira forma de linguagem escrita que se tem notícia.

O registro de trocas de um templo, que eram gravadas em argila, é o registro mais antigo de escrita que temos notícia hoje. A escrita com a função que conhecemos hoje, surgiu da necessidade de se manter um registro de trocas.

Evolução do sistema de troca para o sistema financeiro

Com o avanço tecnológico, melhores embarcações e maiores distâncias percorridas, a necessidade em se criar um sistema que fosse baseado na crença de um pagamento futuro se torna latente.

Vou dar um exemplo: Imagine que você está vivendo há 3500 anos atrás e que é um agricultor. Não existe dinheiro, a forma de se fazer trocas é fazendo o escambo de mercadorias e serviços diretamente.

Você tem lá seu pedacinho de terra e produz trigo, mas para fazer pão você precisa de sal, que não é possível encontrar nas redondezas, mas você sabe que algumas léguas adiante, um dos seus vizinhos tem sal estocado.

Daí você carrega o trigo na carroça e vai lá nesse vizinho. Chegando lá percebe que o vizinho que tem sal não precisa de trigo, ele já tem trigo, mas ele diz que precisa de leite. Daí você vai atrás de leite para trocar por trigo.

Chegando lá no vizinho que tem leite ele te diz que não precisa de leite mas sim de argila pra fazer potes de barro. Daí você tem que achar alguém que tenha argila e queira trigo, para poder trocar a argila por leite, para poder trocar o leite por sal e assim poder fazer pães. E sabe-se lá quanto tempo isso demoraria.

Lembre-se que não havia tecnologia, estradas, nem nada que facilitasse isso. Era muito ineficaz e bagunçado.

Se quiséssemos algo que não produzíamos tínhamos que trocar diretamente os produtos que tínhamos por aquilo que desejávamos. A dificuldade era grande e assim, a partir da dificuldade de troca, as pessoas começam a bolar sistemas para facilitar a vida de todos.

As primeiras formas de trocas financeiras

O nascimento de um rascunho de um sistema monetário coincide com o surgimento da escrita. Os primeiros sistemas de pagamento da história eram placas de argilas usadas na antiga Mesopotâmia (hoje Iraque). Pequenas placas de argila eram talhadas com escrita cuneiforme explicitando um determinado acordo. Esse pequeno pedaço de argila dava o poder de receber no futuro as mercadorias ali assinaladas.

Uma pequena placa de argila encontrada nas ruinas de Uruk, cidade da antiga Mesopotâmia revelou que trabalhadores naquela época tinha seus salários pagos por cerveja. (Essa pequena peça de argila se encontra no British Museum) A placa é uma espécie de holerite, esse registro é o mais antigo comprovante de um método de organização de trabalho, envolvendo patrões e empregados, trabalhos e pagamentos.

A escrita cuneiforme nasce da necessidade de se fazer um registro permanente da história humana ou de uma transação, facilitando assim a contabilidade e a administração, como eu disse há pouco.

Inicialmente era usada na contabilidade dos templos que as acumulavam, através de oferendas, escravos, rebanhos e terras. Os sacerdotes tinham que registrar as operações como empréstimos, pagamentos e mercadorias acumuladas.

Essas placas de argila marcavam a propriedade, cálculos e transações comerciais também.

Outros sistemas surgiram nessa mesma época, além das ´placas de argila, como anéis fabricados através de conchas que eram presos a um cordão e permitiam trocas de pequeno valor. Isso aconteceu na Suméria.

O escriba, pessoa que dominava a escrita cuneiforme, era o encarregado em administrar o fluxo econômico. Ele foi a primeira forma de contador da história.

A moeda como conhecemos hoje, um metal cunhado que representa um valor nasceu na Lídia (Turquia) no século VII a.C.

Foi somente a partir do domínio da cunhagem a martelo, onde a partir de marteladas em um metal precioso maleável (geralmente ouro e prata) signos monetários eram impressos valorizando a nobreza dos metais empregados. Esses signos ressaltavam a sua origem, mas ainda não existia o câmbio, toda moeda tinha o mesmo valor.

Lembre-se que nessa época o deslocamento era difícil portanto o escambo de moedas de diferentes lugares não era feito de maneira intensa como é hoje.

Embora a evolução dos tempos tenham levado a substituição do ouro e da prata por metais menos raros, preservou-se, com o passar do séculos a associação dos atributos da beleza e expressão de cultura ao valor monetário da moeda.

A simplificação

Como se pode perceber o dinheiro nasceu da necessidade de se simplificar e organizar o sistema de trocas. Nunca perca isso de vista, dinheiro é uma ferramenta facilitadora de trocas e acompanhou o desenvolvimento do intelecto humano, de forma concomitante. A historia do dinheiro é a história do homem e da sociedade. Sem ele talvez nem teríamos sobrevivido, não teríamos tantas soluções.

Com essas moedas, por elas serem reconhecidas universalmente como um padrão de valor, uma garantia de pagamento futuro, você pode agora trocar o que quiser pelo que precisar, sem precisar fazer a troca direta, carregar uma carroça (se possuísse uma) e dar a sorte de encontrar uma troca que te satisfaça.

Além disso a partir do reconhecimento destas unidades de padrão de valor, o homem começa a poder estoca-las, guardar valor, o que é algo muito expressivo.

Poupar ou estocar chame como quiser

Vamos voltar para a questão do produtor de trigo, você é um produtor de trigo. Como um produtor de trigo você trabalha o ano inteiro e você colhe o trigo uma vez por ano. Hoje é possível guardar o trigo com segurança, mas naquela época, não tinhamos um silo bem organizado.

Então em três, quatro meses o trigo mofava, ou brotava, ou era infestado por inseto, ... E o que você tinha que fazer? Teria que guardar o trigo em algum lugar. Mas a colheita acontece só uma vez ao ano, como é que você ia trocar trigo durante o ano inteiro por ovos, e por todas as outras coisas que você necessitava mas não produzia? Se você não trocasse o trigo rapidamente, você ia ficar com problemas.

Então, quando não existia dinheiro, você precisava trocar o seu trigo por qualquer coisa que tivesse disponível naquele momento. Que era um pouco menos perecível.

Se você necessitasse de um  cavalo, por exemplo, mas não tivesse um cavalo disponível para você trocar pelo seu trigo no momento da colheita? A égua do vizinho só viria a dar a luz em 8 meses e você não tinha como estocar o trigo até lá, se o estocasse por tanto tempo, você não ia ter mais o trigo, já teria mofado, ou brotado, ou sido enfestado,... O dinheiro mudou tudo isso também.

Com o dinheiro, você pode trocar o trigo por moedas e essas podem ser guardadas para você poder trocar por coisas que necessitava durante o tempo em que não tinha mais trigo. Durante o tempo que quiser, podia até deixar para os filhos. Assim era possível guardar com segurança parte do que você produziu, seu trabalho. Agora era possível guardar até isso.

Assim o dinheiro surgiu não só para facilitar as trocas, mas também como forma de passar adiante a sua riqueza. Com ele foi possível estocar o trabalho, fazer planos e expandir os horizontes.

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