Uma breve catequese sobre a morte
0
0

Uma breve catequese sobre a morte

catolicismo puro e simples

Cris Resende
7 min
0
0

catolicismo puro e simples

Nós nascemos e jamais morremos, essa é uma afirmação que tem a aparência simples, mas que guarda dentro de si muitos segredos.

Se nascemos e não morremos, porque celebramos os fiéis defuntos no dia 02 de novembro?

A igreja tem por tradição rezar pelos mortos, mas esta oração não se estende à todos os mortos.

Vou explicar tudo mas é necessário primeiramente definir os termos e assim clarear todo o conceito por de trás deste pensamento.

O que significaria então rezar pelas almas?

Ao rezar pelas almas estamos entrando em contato com essa dimensão complexa da morte. Por isso se faz necessário saber do que se trata.

Quando nós morremos somos julgados por Deus. Essa é uma explicação que nos dá um entendimento sobre o processo pelo qual passamos quando desencarnamos. Para entender esse processo é necessário explicar o que é Deus nesta dimensão.

Deus é misericórdia e também justiça pura, sem mancha alguma de qualquer manifestação negativa. Ou seja, a misericórdia de Deus e a Sua predisposição em perdoar é infinita, da mesma forma ele é a justiça plena.

Para que ele nos perdoe, exercendo a sua misericórdia, se faz necessário querer este perdão. Ele não vai dar aquilo que não pedimos, ou aquilo que não desejamos, por mais correto que isso seja. Esta é a causa de se fazer necessário o arrependimento.

Quando falecemos, deixamos essa forma de existência material, limitada, padecente e retornamos ao todo, à eternidade.

Quando deixamos essa forma de existência material, as noções de tempo e espaço, limitadas pelos nossos sentidos, deixam de existir. Assim entramos na eternidade, ou seja, em todos os tempos. Também entramos na dimensão do todo, ou seja, em todos os lugares.

O tempo e espaço ainda existirão, mas passam a ter outra dimensão, se tornam infinitos.

Como nossa mente, material é finita, tem limitações, a expressão dessas ideias infinitas ganham a dimensão expressiva possível de acordo com a limitação do próprio pensamento, da linguagem e de todos os aspectos materiais que coordenam nosso pensar.

Aquilo que é infinito não cabe dentro daquilo que é finito.

Por isso, explicar a morte no seu sentido mais amplo é difícil é como colocar um camelo no furo de uma agulha.

Quando morremos, no instante em que desencarnamos e entramos no eterno, a forma em que morrermos será a forma que entraremos na eternidade e a partir daquele momento, aquilo que somos naquele instante, seremos para sempre, pois não seremos mais capazes de modificar a nossa existência material, que foi deixada para trás.

Por isso o julgamento perfeito de Deus. Como não teremos mais contato com a materialidade do nosso corpo, não será mais possível corrigir erros, arrepender-se, pensar diferente. Essa dimensão material não é mais possível, porque não estaremos em posse dessa existência que conhecemos, estaremos entrando em outra forma de existir.

Na eternidade seremos aquilo que somos no instante em que morremos, e nem a maior predisposição de Deus em perdoar é capaz de modificar isso.

O que devemos fazer de bom, as correções de rota de vida, os atos de bondade, de piedade, de caridade são para serem feitos nesta existência material, para que quando chegue o momento da morte, estejamos preparados para entrar na eternidade da melhor maneira possível, ou seja, quanto mais santos formos, maior a nossa possibilidade de salvação.

Nesta equação do julgamento final não existe terceira alternativa. Na hora da morte ou estamos eternamente salvos ou eternamente condenados.

Você pode se perguntar então, mas se não é possível salvar os mortos por que nós católicos rezamos por eles?

A resposta é, não rezamos pela salvação dos mortos, rezamos pela salvação dos vivos.

Pelos mortos, rezamos por aqueles que já estão salvos, mas que ainda passam pela purificação necessária antes de ter contato com Deus. Rezamos pelas almas que estão na porta do Céu mas ainda não entraram.

As nossas orações não têm efeito sobre aqueles que entraram na eternidade em estado de inimizade com Deus. Não têm efeito sobre aqueles que ao morrer entraram na dimensão eterna sem arrependimento, revoltados, tristes com a própria existência, ...

Rezamos sim pelas almas que estão no estado de purificação, no purgatório, conhecidas ou não, é na oração pelas almas que encontramos o mais completo exercício de piedade.

Isso tudo porque a maioria esmagadora das pessoas necessitam dessa purificação antes de se encontrar com Deus. Rezamos para que seja breve este período, menos doloroso.

É possível alguém entrar no céu diretamente, mas esta é uma enorme exceção. Não é a regra. A regra é a de que todos nós necessitemos, em algum grau, dessa purificação que em linhas gerais, é o que nos educa no entendimento dessa nova dimensão infinita de existência.

Assim, nós católicos rezamos e rezamos muito por aquelas almas que amamos e também por aquelas que não conhecemos, as almas esquecidas, ou sejam, todas as almas que mais necessitam.

Quem reza o Rosário repete a cada dezena a jaculatória que o anjo ensinou aos pastores de Fátima: “Ó meu Jesus, perdoai-nos, livrai-nos do fogo do inferno, levai as almas todas para o céu e socorrei principalmente as que mais precisarem.”

Essas almas que mais precisam são aquelas que estão no purgatório.

Assim, o que os católicos de fato fazem neste dia dos fiéis defuntos? (Não gosto de chamar de finados pois esta palavra remete a um fim que pode erroneamente ser interpretado como um fim último, quando na verdade não o é.)

Durante o mês de novembro, temos como devoção o oferecimento da missa, colocar o nome na intenção da missa. O sacrifício da Santa Missa traz benefícios enormes às almas no purgatório. É necessário rezar muitas missas em benefício das pessoas que lá estão.

É importante lembrar que no purgatório a pessoa que lá está, já está salva. A única porta de saída é para o céu.

Outra devoção é o oferecimento de obras, de orações, oferecer a sua comunhão, jejuns, esmolas, boas obras, tudo pela libertação das almas do purgatório.

Outra prática comum é oferecer indulgências.

Mas o que seria uma indulgência? De acordo com o Catecismo da Igreja Católica, cânone 1471, define: “A indulgência é a remissão, diante de Deus, da pena temporal devida pelos pecados já perdoados quanto à culpa. O fiel bem disposto obtém essa remissão em determinadas condições, pela intervenção da Igreja como dispensadora da redenção, distribui e aplica, por sua autoridade, o tesouro das satisfações (isto é dos méritos) de Cristo e dos Santos.”

Referência Constituição Apostólica de Paulo VI ap. Indulgentiarum Doctrina I: AAS 59 (1967)

Assim, neste mês de novembro, temos a oportunidade de oferecer indulgências pelos fiéis defuntos. Na prática, visitando os cemitérios, as missas, e todos os oferecimentos que já citei podem ser feitos e oferecidos aos defuntos.

Por causa da pandemia, a Igreja determinou que tudo aquilo que tradicionalmente faríamos somente no dia 02, e os oito dias conseguintes, é estendido por todo mês de novembro a fim de evitar demasiada aglomeração.

No que consiste essa prática?

Consiste em 8 visitas ao cemitério, e rezar pelas almas. Lembrando que se faz necessário estar em estado de graça, ou seja, confessar, comungar e também rezar pelo Papa que é quem concede a indulgência.

A confissão pode ser uma só e é válida para as 8 indulgências.

A comunhão deve ser feita em 8 diferentes ocasiões.

E as orações pelo Papa devem também ser feita em 8 diferentes ocasiões.

Fazendo isso você terá 8 indulgências que você pode oferecer a Deus pelas almas pelas quais você queira rezar.

Além disso,  no dia 2, você pode receber indulgência sem precisar ir ao cemitério. Basta ir a uma Igreja e lá você reza pelos defuntos, um Pai Nosso e um Creio. Não é necessário nem ser na missa, basta rezar na Igreja. Claro que isso não elimina o fato de ter que estar em estado de graça, confessar e comungar e rezar pelo Papa.

Estas são as condições habituais para se conseguir a indulgência plenária.

Essa possibilidade é estendida também para qualquer dia do mês de novembro por causa da pandemia.

Assim rezemos muito neste mês de novembro para que Deus nos conceda as indulgências e as almas pelas quais rezamos o quanto antes possam contemplá-lo face a face.