De volta ao terror.

O mundo na última semana ficou estarrecido com cenas chocantes, dignas de filmes zumbis de dezenas de milhares de pessoas invadindo o aeroporto internacional de Cabul, na tentativa desesperada de fugir do grupo terrorista Taleban que acabava de tomar o poder depois de 20 anos de invasão por parte do governo americano no Afeganistão. Depois de mais de 2 trilhões de dólares gastos nos últimos 20 anos, na vã tentativa de estabilizar e modernizar um país sectário e dividido pela sua composição social e política intrincada, a saída americana de forma conturbada e caótica, mostra 2o anos de esforços jogados fora por uma administração americana confusa e principalmente fragilizada internacionalmente.

 A história de tudo isso pode ser contada inicialmente pelo surgimento do grupo terrorista Taleban, nascido no final da guerra civil afegã e na esteira da saída das tropas soviéticas do país (1979 - 1989), grupos de combatentes oriundos das escolas religiosas localizadas principalmente na fronteira com o Paquistão, viriam a formar um grupo de combate, pautado em sua visão de mundo baseado na Sharia islâmica, conjunto de leis que rege a religião mulçumana. Em um país fragmentado e esfacelado pela guerra civil, este grupo rapidamente tomaria pela primeira vez o poder em 1996, impondo a Sharia na mais cruel e brutal interpretação. De acordo com sua interpretação da Sharia, homens seriam proibidos de fazer a barba, assistir televisão se vestir e adquirir costumes que rementem a vaga lembrança de modernidade e que lembre o ocidente. Situação pior viveria as mulheres, proibidas de estudar e trabalhar, sair a rua desacompanhada e apenas com permissão de seu marido. Não poderiam mostrar nenhuma parte do corpo e em caso de suspeição de adultério, seriam condenadas a morte por apedrejamento. O estupro era algo normal e aceitável nesse mundo lunático visto pelos olhos Taleban assim como o casamento forçado de mulheres e menores de idade.

Com o governo de uma nação, hoje com 38 milhões de habitantes, o Afeganistão viria ser um oásis para grupos terroristas do mundo inteiro, com seus muitos campos de treinamento, exportando terror para todo o mundo. O mais célebre grupo terrorista viria ser a Al-Qaeda do seu conhecido líder Osama Bin Laden. Em 11 de setembro de 2001, todos assistiram chocados, quando aviões comerciais repletos de pessoas se lançaram contra as torres gêmeas em Nova York, no que foi considerado o maior ataque ao território americano por uma força estrangeira. A força do Taleban naquele momento era evidenciada e sentida em todo o mundo como uma vitória do grupo contra a América. Logo após, os EUA invadiram o Afeganistão varrendo do poder rapidamente o grupo terrorista e ocupando o país permanentemente.

Isso nunca aconteceu!!!

Como um país dividido por etnias e tribos com seus interesses particulares e um governo sem representatividade marcado por corrupção extrema, o país nunca conseguiu caminhar por conta própria e a todo momento sofria com o medo do Taleban voltar. O grupo terrorista nunca perdeu poder de fato e durante o período em que se encontrava nas montanhas controlando o interior do país, foi se reforçando e aumentando o tamanho muito em conta do financiamento através do tráfico de drogas com plantações de papoula, matéria prima para a fabricação da heroína. Hoje é estimado uma receita de 200-300 milhões de dólares para o grupo oriundas do tráfico, dinheiro mais que suficiente para se manterem como uma força dominante no país.

Por outro lado, EUA sempre tiveram a intenção de sair do país, administrações posteriores sempre alimentavam planos para a retirada das tropas mas nunca a realizaram, por questões estratégicas, medo do país cair nas mãos do Taleban novamente ou simplesmente por medo de enfraquecer a imagem dos EUA no mundo. Até que o atual presidente americano, Joe Biden, resolveu fazer de forma surpreendente e sem planejar. Quando o presidente americano ordenou a saída, seus analistas e conselheiros não imaginariam que o Taleban seria capaz de voltar ao poder, mas o grupo esperando o momento certo e fortalecido, em menos de 40 dias já controlava o país completamente e batia nas portas de Cabul. O que se viu, foi o caos mostrado ao mundo com milhares de pessoas e tropas americanas aguardando o resgate no aeroporto, último território controlado pelos EUA, a saída abrupta resultou em uma catástrofe para a administração Biden, transformando o ato em um dos maiores vexames políticos da história americana. Com a decisão desordenada, 40 mil americanos ainda se encontram no Afeganistão, desamparados e sem saber quando e como serão resgatados. Militarmente, o exército afegão supostamente responsável pela proteção do povo, depôs suas armas e fugiram para o Irã, deixando para atrás armamentos americanos de ultima geração como Helicópteros de combate Apache, mais de 100 drones, milhares de veículos blindados e mais de 20 caças de combate, sem contar dezenas de mísseis e foguetes, fuzis e milhões de cartuchos de munição, deixados para trás, equipamento cedido pelos EUA que foi herdado pelo regime Taleban.

Logo após a tomada de poder, duas potencias mundiais (China e Rússia) se apressaram em reconhecer o regime Taleban como legítimo governante do país, isso causou repulsa mundial, pois um grupo terrorista que oprime e massacra sua população, jamais poderia ter o reconhecimento como um governo legitimo. Mas isso é explicado pelo interesse econômico destas duas nações, pois recentemente foi descoberto no Afeganistão provavelmente a maior reserva de Lítio, um mineral fundamental para energia elétrica e fontes limpas de combustível, do mundo equivalente a 1 trilhão de dólares do minério. A tomada de poder vai trazer impactos em todo mundo, no campo religioso, a vitória do Taleban trás para outros grupos terroristas do mundo, a revitalização e animação de luta para conseguir o mesmo propósito. O HAMAS na faixa de gaza, o HEZBOLLAH no sul do Líbano, o EL SHABBAB na Somália, se fortalecerão e redobrarão sua luta, inspirados na vitória Taleban. No campo humanitário, o fluxo de refugiados para a Europa irá aumentar dramaticamente, trazendo mais problemas e crise econômica em um continente cada vez mais assolado e impossível de absorver mais refugiados. 

Tudo isso somado a cenas brutais e cada vez mais comuns nos noticiários, de homens e mulheres sofrendo os mais terríveis abusos em uma nação jogada a sua própria sorte e relegada a volta do terror cada vez mais fortalecido. Que Deus, ALÁ e todos os outros deuses existentes protejam o Afeganistão.