Microdose de PunkYoga #7
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Microdose de PunkYoga #7

Eu comecei a ver Emily em Paris porque a primeira coisa que fiz quando comecei a receber um salário fixo razoável foi fazer um curso de francês. Fiz dois anos e meio. Sei falar francês? Não. Mas sei pedir um número 4 no McDonald's se precisar...

Nathan Fernandes
7 min
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Eu comecei a ver Emily em Paris porque a primeira coisa que fiz quando comecei a receber um salário fixo razoável foi fazer um curso de francês. Fiz dois anos e meio. Sei falar francês? Não. Mas sei pedir um número 4 no McDonald's se precisar, e consigo ler alguma coisa. Também me agarro a todas as oportunidades que a Netflix me dá pra não esquecer o conhecimento que me resta. Por isso, adorei Emily em Paris. O Felipe, meu amor, diz que é boba, mas ele nem assiste... 

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Na série, a Emily é uma norte-americana que vai trabalhar com marketing digital no "emprego dos sonhos" em Paris. Ela deve ser a única pessoa do marketing digital que não tem um burnout, mas uma das coisas mais legais é como eles retratam as diferenças culturais entre os norte-americanos e os franceses. Por exemplo, a Emily sempre leva uma gentil patada toda vez que tenta falar de trabalho em jantares e festas. Os franceses simplesmente não falam de negócios quando estão fora do horário de trabalho. Não os da série, pelo menos. 

Já os personagens de Uncoupled, que vivem em uma Nova York rica e trabalham com imóveis de luxo, não tem pudor nenhum em assediar possíveis clientes onde quer que eles estejam, o que é normalizado e, mesmo sendo em uma série de comédia, revela bastante sobre essa cultura baseada no trabalho, na acumulação e no lucro. 

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Também gostei de Uncouple, porque, além de ser a única série em que o amigo gay não é só uma escada pro personagem principal já que o personagem principal é ouro gay de 50 anos, a série mostra que existem muitas histórias pra além da heterossexualidade. 

Penso em como muita gente, incluindo eu, acaba reproduzindo essa mentalidade norte-americana de trabalho insano, e de transformar tudo em trabalho, e de estar a todo tempo pensando em trabalho... Durante muito tempo, eu sigo esse roteiro, porque acabei entrelaçando minha vida pessoal ao trabalho em um nó difícil de desfazer. Não é ruim, é um privilégio, na verdade. Mas essas séries, mesmo sendo de comédia, me deram um impulso pra questionar que talvez precise haver um limite... 

O que eu andei lendo:

🤪 Entenda como a casa do BBB é construída para expor os jogadores à loucura e ao sexo, do Gustavo Zeitel, na Folha, inaugurando o novo conceito do crítico que sabe que é elitista e ainda prefere continuar destilando cinismo. 

🤡 Face cultural do bolsonarismo explica destruição de obras de arte, do Francisco Bosco, na Folha. Análise excelente sobre o escárnio dos fascistas pela cultura. 

🙃 Um governo de sereias, do José Eduardo Agualusa, n'O Globo, comentando sobre o plano de governo elaborada pela filha pequena, que preza pela representatividade dos povos do mar. 

😌 Ano que vem, não vou emagrecer, da ótima newsletter Segredos em Órbita, da Vanessa Guedes. Uma pérola sobre auto-aceitação, como bem disse minha amiga Ju Faddul. 

🧐 Sobre ela, com ela, para ela: a ayahuasca e a identidade indígena, da Angélica Santa Cruz, na piauí. Excelente trabalho de reportagem sobre a Quarta Conferência Indígena da Ayahuasca. 

😶 'Onda cigana' toma TikTok com biscoitagem e brigas sobre quem é 'autêntico', da Claudia Castelo Branco, no Tab UOL

🤓 O que a estrutura de nossas narrativas diz sobre nós?, na newsletter A Diletante, da Ariela K. Quando vi o título achei que seria uma coisa mais pessoal, mas fala muito sobre "nós", enquanto sociedade também. 

🤩 Vagaluz, do Thales Molina. O Thales é um dos ilustradores mais fodas que eu conheço, tive o prazer de trabalhar muito com ele. Agora, pela primeira vez, ele publicou na rede o pdf da única HQ que ele lançou, uma história muda sobre um vaga-lume em busca de luz. 

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O que andei assistindo

VÍDEO: Emicida sobre o Rei Pelé, no Papo de Segunda. A dificuldade que é ser rei num país que destrói ídolos. 

VÍDEO: A desconhecida 'rede de sorrisos' entre mulheres negras, da Jamille Ribeiro, na BBC Brasil. Excelente pauta, que só poderia ter sido feita por uma mulher negra. 

VÍDEO: Sample Breakdown: Daft Punk, no Tracklib. Um vídeo curtíssimo mostrando como o Daft Punk usa trechos de outras músicas nas suas composições. Foda demais. 

VÍDEO: Lili entrevista Rita von Hunty, no canal da Lilian Schwarcz. Caí por acaso nesse ótimo papo sobre história, política e sobre como homens e mulheres estão apenas interpretando um papel na sociedade. 

VÍDEO: Ministro Barroso, o chavoso. Em uma madrugada muito animada, acabei revendo partes do julgamento do STF sobre a descriminalização da maconha, pra uma reportagem que tô escrevendo sobre cannabis terapêutica. O voto do ministro Barroso é uma aula sobre a hipocrisia da Guerra às Drogas — que não combate droga nenhuma e ainda mata um monte de gente. Esse trecho #thuglife é particularmente ótimo. 

VÍDEO: Glenn Greenwald e Celso Rocha de Barros debatem em live, na TV Folha. Admiro o Glenn desde que pude conversar com ele pra escrever um perfil na Playboy. Mas fiquei bem confuso quando vi uns tweets dele defendendo o Monark. Queria entender melhor o que ele pensa sobre liberdade de expressão. Por isso, fiquei empolgadééérrimo quando vi que ele ia discutir exatamente sobre isso numa live com o Celso, que eu sempre leio na Folha. Foi uma conversa rica, bizarramente civilizada e com argumentos ótimos e inteligentes. É o Brasil feliz de novo!

SÉRIE: Extremistas, na GloboPlay. Eu não aguento mais alugar minha mente pro Bolsonaro, mas esses trabalhos que trazem algum aprofundamento sobre o inferno que a gente viveu nesse governo são como pequenos cacos de uma vidraça quebrada que a gente só vai recompor lá no futuro. Eu não consigo resistir a catar esses cacos. E esse doc tem roteiro da Carol Pires, que fez o excelente podcast Retrato Narrado, sobre a origem do Bozo.  

SÉRIE: Encantado's, na GloboPlay. Eu não consigo medir o quanto que eu achei engraçada essa série sobre um supermercado do subúrbio carioca que vira escola de samba à noite. Ainda vou falar mais dela por aqui. 

SÉRIE: Casamento às Cegas, na Netflix. Desde que fui impedido de ver De Férias Com O Ex Caribe: Salseiro VIP, porque não tenho login da Star+ ou sei lá que merda, tô querendo me envolver num reality. E comecei a ver a segunda temporada de Casamento às Cegas. É impressionante ver tanto heterossexual doido pra casar. 

O que eu andei ouvindo:

PODCAST: A complexidade de um rei, do Ubuntu Esporte Club. O que fazer quando o maior rei do Brasil também já foi um grande babaca? Ótimas reflexões para além do futebol. 

PODCAST: O Ateliê, do Chico Felitti. O Chico tem muito jeito pra contar histórias, ainda mais quando envolvem seitas e gente rica. Tô acompanhando com ansiedade cada episódio. 

PODCAST: Pico dos Marins, da GloboPlay. Sobre o desaparecimento completamente misterioso de um escoteiro nos anos 1980. 

PLAYLIST: Playlist Fantasma. Esses dias minha amiga Anna me pediu indicações de pós-punk e rescussitei minha playlist de pós-punk dançante que é uma beleza. 


Por enquanto, é só, pessoal! Espero que tenham curtido a primeira newsletter do ano. Em quinze dias eu volto, com uma edição especial.... Eu falei faraó? #ficaadica

Se quiser me mandar um alô, uma sugestão, compartilhar uma angústia ou um elogio, me responde esse e-mail ou me encontra lá no insta

Vai pela sombra e fica na paz de Bowie.

Com amor, 

Nathan 

Se você chegou aqui através de um link, deve tá pensando: "Como eu assino essa newsletter maneira?". Ora, é só deixar seu e-mail aqui. E dá pra ler as edições anteriores aqui também. Se não curtiu e tá aqui lendo esta última linha, admiro sua capacidade de autoflagelação.