Eu comecei a ver Emily em Paris porque a primeira coisa que fiz quando comecei a receber um salário fixo razoável foi fazer um curso de francês. Fiz dois anos e meio. Sei falar francês? Não. Mas sei pedir um número 4 no McDonald's se precisar...
Eu comecei a ver Emily em Paris porque a primeira coisa que fiz quando comecei a receber um salário fixo razoável foi fazer um curso de francês. Fiz dois anos e meio. Sei falar francês? Não. Mas sei pedir um número 4 no McDonald's se precisar, e consigo ler alguma coisa. Também me agarro a todas as oportunidades que a Netflix me dá pra não esquecer o conhecimento que me resta. Por isso, adorei Emily em Paris. O Felipe, meu amor, diz que é boba, mas ele nem assiste... | ||
Na série, a Emily é uma norte-americana que vai trabalhar com marketing digital no "emprego dos sonhos" em Paris. Ela deve ser a única pessoa do marketing digital que não tem um burnout, mas uma das coisas mais legais é como eles retratam as diferenças culturais entre os norte-americanos e os franceses. Por exemplo, a Emily sempre leva uma gentil patada toda vez que tenta falar de trabalho em jantares e festas. Os franceses simplesmente não falam de negócios quando estão fora do horário de trabalho. Não os da série, pelo menos. | ||
Já os personagens de Uncoupled, que vivem em uma Nova York rica e trabalham com imóveis de luxo, não tem pudor nenhum em assediar possíveis clientes onde quer que eles estejam, o que é normalizado e, mesmo sendo em uma série de comédia, revela bastante sobre essa cultura baseada no trabalho, na acumulação e no lucro. | ||
Também gostei de Uncouple, porque, além de ser a única série em que o amigo gay não é só uma escada pro personagem principal já que o personagem principal é ouro gay de 50 anos, a série mostra que existem muitas histórias pra além da heterossexualidade. | ||
Penso em como muita gente, incluindo eu, acaba reproduzindo essa mentalidade norte-americana de trabalho insano, e de transformar tudo em trabalho, e de estar a todo tempo pensando em trabalho... Durante muito tempo, eu sigo esse roteiro, porque acabei entrelaçando minha vida pessoal ao trabalho em um nó difícil de desfazer. Não é ruim, é um privilégio, na verdade. Mas essas séries, mesmo sendo de comédia, me deram um impulso pra questionar que talvez precise haver um limite... | ||
O que eu andei lendo: | ||
🤪 Entenda como a casa do BBB é construída para expor os jogadores à loucura e ao sexo, do Gustavo Zeitel, na Folha, inaugurando o novo conceito do crítico que sabe que é elitista e ainda prefere continuar destilando cinismo. | ||
🤡 Face cultural do bolsonarismo explica destruição de obras de arte, do Francisco Bosco, na Folha. Análise excelente sobre o escárnio dos fascistas pela cultura. | ||
🙃 Um governo de sereias, do José Eduardo Agualusa, n'O Globo, comentando sobre o plano de governo elaborada pela filha pequena, que preza pela representatividade dos povos do mar. | ||
😌 Ano que vem, não vou emagrecer, da ótima newsletter Segredos em Órbita, da Vanessa Guedes. Uma pérola sobre auto-aceitação, como bem disse minha amiga Ju Faddul. | ||
🧐 Sobre ela, com ela, para ela: a ayahuasca e a identidade indígena, da Angélica Santa Cruz, na piauí. Excelente trabalho de reportagem sobre a Quarta Conferência Indígena da Ayahuasca. | ||
😶 'Onda cigana' toma TikTok com biscoitagem e brigas sobre quem é 'autêntico', da Claudia Castelo Branco, no Tab UOL. | ||
🤓 O que a estrutura de nossas narrativas diz sobre nós?, na newsletter A Diletante, da Ariela K. Quando vi o título achei que seria uma coisa mais pessoal, mas fala muito sobre "nós", enquanto sociedade também. | ||
🤩 Vagaluz, do Thales Molina. O Thales é um dos ilustradores mais fodas que eu conheço, tive o prazer de trabalhar muito com ele. Agora, pela primeira vez, ele publicou na rede o pdf da única HQ que ele lançou, uma história muda sobre um vaga-lume em busca de luz. | ||
O que andei assistindo | ||
VÍDEO: Emicida sobre o Rei Pelé, no Papo de Segunda. A dificuldade que é ser rei num país que destrói ídolos. | ||
VÍDEO: A desconhecida 'rede de sorrisos' entre mulheres negras, da Jamille Ribeiro, na BBC Brasil. Excelente pauta, que só poderia ter sido feita por uma mulher negra. | ||
VÍDEO: Sample Breakdown: Daft Punk, no Tracklib. Um vídeo curtíssimo mostrando como o Daft Punk usa trechos de outras músicas nas suas composições. Foda demais. | ||
VÍDEO: Lili entrevista Rita von Hunty, no canal da Lilian Schwarcz. Caí por acaso nesse ótimo papo sobre história, política e sobre como homens e mulheres estão apenas interpretando um papel na sociedade. | ||
VÍDEO: Ministro Barroso, o chavoso. Em uma madrugada muito animada, acabei revendo partes do julgamento do STF sobre a descriminalização da maconha, pra uma reportagem que tô escrevendo sobre cannabis terapêutica. O voto do ministro Barroso é uma aula sobre a hipocrisia da Guerra às Drogas — que não combate droga nenhuma e ainda mata um monte de gente. Esse trecho #thuglife é particularmente ótimo. | ||
VÍDEO: Glenn Greenwald e Celso Rocha de Barros debatem em live, na TV Folha. Admiro o Glenn desde que pude conversar com ele pra escrever um perfil na Playboy. Mas fiquei bem confuso quando vi uns tweets dele defendendo o Monark. Queria entender melhor o que ele pensa sobre liberdade de expressão. Por isso, fiquei empolgadééérrimo quando vi que ele ia discutir exatamente sobre isso numa live com o Celso, que eu sempre leio na Folha. Foi uma conversa rica, bizarramente civilizada e com argumentos ótimos e inteligentes. É o Brasil feliz de novo! | ||
SÉRIE: Extremistas, na GloboPlay. Eu não aguento mais alugar minha mente pro Bolsonaro, mas esses trabalhos que trazem algum aprofundamento sobre o inferno que a gente viveu nesse governo são como pequenos cacos de uma vidraça quebrada que a gente só vai recompor lá no futuro. Eu não consigo resistir a catar esses cacos. E esse doc tem roteiro da Carol Pires, que fez o excelente podcast Retrato Narrado, sobre a origem do Bozo. | ||
SÉRIE: Encantado's, na GloboPlay. Eu não consigo medir o quanto que eu achei engraçada essa série sobre um supermercado do subúrbio carioca que vira escola de samba à noite. Ainda vou falar mais dela por aqui. | ||
SÉRIE: Casamento às Cegas, na Netflix. Desde que fui impedido de ver De Férias Com O Ex Caribe: Salseiro VIP, porque não tenho login da Star+ ou sei lá que merda, tô querendo me envolver num reality. E comecei a ver a segunda temporada de Casamento às Cegas. É impressionante ver tanto heterossexual doido pra casar. | ||
O que eu andei ouvindo: | ||
PODCAST: A complexidade de um rei, do Ubuntu Esporte Club. O que fazer quando o maior rei do Brasil também já foi um grande babaca? Ótimas reflexões para além do futebol. | ||
PODCAST: O Ateliê, do Chico Felitti. O Chico tem muito jeito pra contar histórias, ainda mais quando envolvem seitas e gente rica. Tô acompanhando com ansiedade cada episódio. | ||
PODCAST: Pico dos Marins, da GloboPlay. Sobre o desaparecimento completamente misterioso de um escoteiro nos anos 1980. | ||
PLAYLIST: Playlist Fantasma. Esses dias minha amiga Anna me pediu indicações de pós-punk e rescussitei minha playlist de pós-punk dançante que é uma beleza. | ||
Por enquanto, é só, pessoal! Espero que tenham curtido a primeira newsletter do ano. Em quinze dias eu volto, com uma edição especial.... Eu falei faraó? #ficaadica | ||
Se quiser me mandar um alô, uma sugestão, compartilhar uma angústia ou um elogio, me responde esse e-mail ou me encontra lá no insta. | ||
Vai pela sombra e fica na paz de Bowie. | ||
Com amor, | ||
Nathan | ||
Se você chegou aqui através de um link, deve tá pensando: "Como eu assino essa newsletter maneira?". Ora, é só deixar seu e-mail aqui. E dá pra ler as edições anteriores aqui também. Se não curtiu e tá aqui lendo esta última linha, admiro sua capacidade de autoflagelação. |