PunkYoga #3: As bruxas estão rodando
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PunkYoga #3: As bruxas estão rodando

A Terra tem um ciclo de tempo muito próprio. E é fácil ver como ele afeta nossa vida. Quando tá calor, por exemplo, todo mundo vai pra praia, as pessoas ocupam as ruas e o ônibus que vai da Paulista para o Terminal Santo Amaro vira uma sauna ...

Nathan Fernandes
6 min
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"Eu não estou interessado em nenhuma teoria Nem nessas coisas do oriente Romances astrais A minha alucinação é suportar o dia a dia E meu delírio é a experiência com coisas reais"

A Terra tem um ciclo de tempo muito próprio. E é fácil ver como ele afeta nossa vida. Quando tá calor, por exemplo, todo mundo vai pra praia, as pessoas ocupam as ruas e o ônibus que vai da Paulista para o Terminal Santo Amaro vira uma sauna sob quatro rodas. 

Isso não acontece no frio. Não é à toa que bandas lindas e deprês como The Smiths e Joy Division tenham saído de cidades molhadas e tristes como Manchester. Ninguém que tenha sentido o calor do Vale do Paraíba criaria um verso como:

Last night I dreamt that somebody loved meNo hope, no harm; just another false alarm

Eu tenho prestado mais atenção em como o clima afeta meu humor e as coisas que faço. E uma coisa que ajuda nessa tarefa é seguir a Roda do Ano. É um tipo de calendário pagão que segue o ritmo agrícola da Terra: de semeadura, de plantio e de colheita, marcando também os solstícios e equinócios (as estações). 

Ou seja, é uma forma de contar o ano baseada no fluxo da natureza.

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Tipo, no dia 1 de agosto, agora, a gente passou por um desses pontos de virada. É Imbolc, que marca o início do fim do inverno, a estação do frio atinge seu ápice, mas já se encaminha para a primavera. Por isso, é época de renovação, de plantar as sementes que quer colher na primavera (as físicas e as metafóricas), de desentulhar as coisas do armário e de aliviar o pendurador de roupa do quarto. 

[Alerta do astral] Nesse post, o @viva.alecrim deu umas dicas boas de limpeza e defumação pra quem quer se livrar das nhacas. [/Fim do alerta do astral]

No livro A História da Bruxaria, da editora Aleph, os autores Jeffrey B. Russel e Brooks Alexander escreveram:

A religião natural age a partir desse relacionamento em seus ritos sazonais. O 'culto das bruxas', portanto, representava o infinito ciclo sexual do nascimento, crescimento, morte e renascimento, que constitui o próprio ritmo da Vida e da Natureza. 

E tem um lance poético também. Em A Deusa Branca, o escritor Robert Graves se dedica a interpretar um antigo poema galês, chamado The Battle of the Trees. Russel e Alexander escrevem:

Graves acreditava que a poesia fora originalmente criada para "mitologizar" os ciclos da Natureza, escalando-os na forma de uma história dramática do rei-deus que nasce e floresce com o crescimento do sol de verão, que luta com o sol evanescente de outono e que morre no escuro e no frio do inverno, somente para renascer na renovação da primavera.

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E seguem:

A deusa era tanto venerada quanto desejada pelo deus-rei. Ela era a Natureza, a Abundância e a Fertilidade; ela era a Terra. Era a mãe, a esposa e aquela que o recebia na morte, mostrando todos os atributos de forma simultânea. 

Essa ideia, baseada na polaridade entre as forças femininas e masculinas (mais ligado à ideia de yin e yang do que à questão de gênero), foi completamente absorvida pelas tradições da bruxaria moderna, criadas depois da década de 1950, tipo a Wicca. 

Acho interessante como sendo uma alternativa ao fluxo desordenado e caótico da economia de mercado, que é o que a gente segue — e que vem pifando nossas cabeças. Talvez entender o ritmo da natureza como uma história com começo, meio e fim (e recomeço) seja uma forma de entrar em sintonia com a gente mesmo. 

Se, como diz o Cartola, o mundo é um moinho, que:

Vai triturar teus sonhos, tão mesquinhoVai reduzir as ilusões a pó

... Então a Roda do Ano pode ser um lembrete de que o mundo gira, sim, mas não só pra esmagar nossos sonhos. Feliz Imbolc!

O que eu tô ouvindo:

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Acontece com alguma frequência: eu descubro um álbum aleatoriamente nas recomendações do YouTube e me apaixono por ele. Malditos algoritmos certeiros. 

Foi o que aconteceu com esse álbum,Out of Time, do produtor francês Hugo Kant. Ele é classificado como nu-jazz e trip-hop. Nem sabia que existiam essas classificações. O que eu sei é que quando você ouve parece que tá pegando um jacarezinho nas ondas do espaço-tempo. É um daqueles álbuns que valem à pena exercitar a esquecida arte de sentar para escutar completo, sem fazer mais nada. 

O álbum todo tem esse clima cósmico-espacial. Não à toa, a primeira música se chamaEntering the Black Hole, acho que é porque, quando você escuta, ela te puxa pra dentro e é impossível sair até ouvir tudo. Mas a que eu mais gosto éThe Earth Dance, que tem um sample indiano gostoso.

Além de tocar a maioria dos instrumentos, o Hugo também toca uma flautinha doce que aparece em quase todas as músicas e que cai muito bem com o pegada eletrônica dele.

O oráculo do Bowie, um conselho pra semana:

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Fiquei bem feliz de tirar essa carta doStarman Tarot, porque ela diz que estamos alinhados com o nosso fluxo de criatividade. Pra mim, criar e produzir, tem se mostrado uma excelente forma de se equilibrar. 

A carta também é sobre botar a mão na massa e fazer a coisas acontecerem. Antes de tirá-la, eu tava lendoum texto aleatóriono Medium que dizia exatamente isso, que, muitas vezes, a preparação, ficar muito tempo cozinhando uma coisa, é só uma desculpa pra não fazê-la de fato. 

Pra dominar uma arte, a gente precisa estudar, treinar e repetir. E isso fica muito mais fácil quando a gente compartilha nosso processo e busca ajuda de quem já tá na caminhada há mais tempo. 

Diz o Angelis:

No três de ouros, nós vemos o personagem central equilibrado em cima de três pentagramas simbolizando a dedicação e o risco envolvidos em se prestar a fazer alguma coisa que não é fácil.

Interessante ele falar isso porque cada vez mais percebo que o que a gente chama de "dificuldade" se dissolve quando é encarado sem medo. Passa a ser só um processo.


Fiquei feliz demais com uma mensagem que recebi do Leonam. Ele me contou que se demitiu na mesma época que eu, ano passado, e que o texto de despedida que eu escrevi na época ressoou muito nele. 

Nas vésperas de completar um ano gregoriano desse evento libertador que foi a nossa demissão não combinada, resolvo te mandar essa mensagem para celebrar contigo o novo ciclo do calendário Nathânico-Leonânico (aff).

É muito doido como a gente solta as coisas que nem flecha no mundo e nem tem ideia onde isso vai acertar. Às vezes, acerta o coração de quem tá na mesma sintonia que a gente. 

Curto saber dessas coisas, porque dá a sensação de alguém recebeu a mensagem das garrafas que eu fico jogando no mar. Se você também recebeu e quiser compartilhar, dá pra me responder por aqui, no Twitter, ou no Instagram

Vai pela sombra e fica na paz de Bowie.

Com amor,

Nathan

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