A Arte Bolsonarista de Bilhardt
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A Arte Bolsonarista de Bilhardt

Uma breve explicação: Dentro do quarto, lugar onde minha cabeça já passa a imaginar como a casa de Asterion, possuindo exatos 14 corredores –infinitos corredores-, pude, onde a paranoia permitiu, aventurar-me em livros teóricos sem nenhum pro...

Pedro Henrique Lencina Pinheiro
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Uma breve explicação: Dentro do quarto, lugar onde minha cabeça já passa a imaginar como a casa de Asterion, possuindo exatos 14 corredores –infinitos corredores-, pude, onde a paranoia permitiu, aventurar-me em livros teóricos sem nenhum propósito. Neste universo teórico, que, infelizmente, nada se encontra no original para ser lido três vezes, a ‘’História Social da Literatura e da Arte’’ de A. Hauser fez eco -não que fosse difícil, visto a imensidão de espaço presente em minha cabeça- ao apreciar a arte de Bilhardt exposta no Uol em conjunto a entrevista disponibilizada para o site.

Eu, que já possuo um problema de retina ao ser exposto a telas, tive o prazer da dor ao reler durante duas semanas a mesma passagem, não por um problema mental, como o do ministro Paulo Guedes, mas por incredulidade.

'’Suas maiores inspirações são Michelangelo e Da Vinci (...)’’

Existe uma explicação para o discurso ser tão desconexo da obra: Há dentro da sociedade um fetiche pelos ideais renascentistas. Um ideial contra o espírito de autoridade e hierarquia, o ideal de liberdade apontado por Hauser. Basta fazermos as perguntas certas agora.

Quem é a autoridade?

Que hierarquia?

Quanto tempo faz que a classe média brasileira não vai para o terapeuta tratar desse sintoma perpetuo de paranoia?

Fica claro, ao menos para minha mente estranha, que autoridade e hierarquia estão entrelaçadas numa mesma instituição. Assim, não é conceito quebrado explorar o imaginário comum com ecos de uma resposta de luta do século XIX atrelado a uma, digo de passagem imbecil e constante, necessidade de se posicionar contra a Academia.

Nisso fica o manifesto da Arte Bolsonarista: brigar com um movimento artístico de quase 100 anos que nunca foi filtrado pelo pensamento das massas. Nunca foi compreendido que sua proposta era o estranhamento. Esse movimento de quase 100 anos, diga de passagem, com sua proposta uma quebra de mensagem, se o leitor me permitir por todas as vanguardas no mesmo saco uma vez que a minha artista Bilhardt faz o mesmo, é a Instituição fixa, opressora do Belo, um obelisco da decadência atual. Esse obelisco só pode ser combatido com a arte Renascentista, a arte que surge para libertar, pelo menos é o que possivelmente crê aqueles que fomentam o estilo.

Assim, na ânsia de romper com a quebra de mensagem, cria-se uma arte quebrada.

Essa é a explicação das cores estranhas, se compararmos as cores da renascença, que por sua vez é a referência da artista, textura ausente e proporção quebrada são parte da mensagem. Conforme, a idolatria de ícones, relacionar esses símbolos com simbologia cristã e a ausência em sua grande parte de plano de fuga, posto no lugar plano nenhum, são a outra parte.

Para uma direita, a criação de um símbolo messiânico nasceu no dia-a-dia, a procura de uma identidade, tal qual aponta Krakauer. Isso aparentemente é algo normal numa sociedade rodeada pelo mass mídia. Mas, a falta de força retórica, em conjunto a ausência de substância em seus ideais, força a junção do Messias com algo que tenha força já estabelecida. Por essa razão, a figura de Jair parece tão unida com a de Cristo, mesmo que os dois tenham visões opostas de mundo.

A cruz no olhar é, dessa forma, um recurso malicioso para o olhar atento e uma aproximação com um ideal para o olhar bovino.

Outra figura que parece ser uma com as pinturas digitais da nossa artista é a da águia americana, que, com uma pesquisa infantil feita em qualquer site de busca, pode se constar ser um animal restritamente encontrado apenas no norte do continente americano. Todavia, não irei negar o símbolo impresso a ferro pelo imperialismo americano por meio do mass mídia: esse animal representa a liberdade.

Assim, faremos um jogo de engolir a seco essa representação mecânica e tê-la como autêntica e não produzida. A liberdade é algo ansiado pelos crentes, tanto que é um dos jargões do presidente tirado de um trecho totalmente fora de contexto da bíblia. Mas, dentro das realidades, essas sendo mais duras, a liberdade é tudo que não é oferecido pelo discurso presidencial.

Feitos todos esses apontamentos, há destino para essa vertente logo após o termino do pesadelo?