A "era Abel" está no fim ou só começando? A crença no processo é a chave.
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A "era Abel" está no fim ou só começando? A crença no processo é a chave.

Quando Surge
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Nicolau Barbour.

Abel Ferreira está prestes a completar um ano no comando técnico do Palmeiras, em meio a pandemia e vindo de um inesquecível 2020/21, tantos momentos vivídos, tantas histórias, entrevistas e jogos marcantes, que ficarão eternamente na memória do torcedor, isso tudo faz parecer que o trinador está no Brasil há uns 3 anos, desde o dia 30/01/21 o Palmeiras jogou 5 finais e dia 27/11/21 jogará sua sexta final no ano, isso representa quase o dobro de finais que o Verdão fez de 2015 á 2020 (4). Não é pouca coisa, é um fato inédito e não deve ser subestimado.

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Nada disso porém parece saciar parte da torcida e grande parte da imprensa esportiva nacional. Isso se explica por uma questão óbvia de enxergar, nesse país não se respeita processos, tudo é saturado em um curto espaço de tempo, o calendário é insano, se joga duas temporadas européias em um ano no Brasil, e as cobranças são fora da realidade e ignora contextos. Basta uma comparação com três realidades diferentes para deduzirmos que existe um desafio a ser superado no Brasil.

Primeiro exemplo, Klopp no Liverpool, o treinador alemão chegou nos reds em 2015 e passou os primeiros 4 anos sem conquistas, e estamos falando do Liverpool o maior clube inglês de todos os tempos, e nem mesmo 3 vice-campeonatos (Sevilla 2016, Real Madrid 2018 e Manchester City 2019) impediram a manutenção do técnico no cargo, foi então que o processo passou a dar frutos e 4 títulos foram ganhos entre 2019 e 2020.

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Segundo exemplo, Simeone no Atlético de Madrid, o argentino foi apresentado em 2011 como treinador dos colchoneros e lá se vão 10 anos de trabalho, depois de conquistar 5 títulos nas três primeiras temporadas como técnico da equipe, “Cholo” Simeone enfrentou seus maiores desafios na carreira de treinador, foram 4 anos seguidos sem troféus (2014/15 - 2017/18) e inacreditáveis 4 eliminações pro maior rival na Champions (incluindo 2 vice-campeonatos), mas por incrível que pareça ele seguiu respaldado com a diretoria e com a torcida, e novamente o processo rendeu frutos, mais 3 títulos vieram no período de 2018 a 2021.

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Terceiro exemplo, Gallardo no River Plate, são 7 anos desde seu início como técnico dos millonarios, foram 11 títulos nos primeiros 5 anos (2014 a 2019), um feito histórico para dizer o mínimo. Mas nem só de glórias vive o “Muñeco” Gallardo, que vem sofrendo duros golpes nas últimas temporadas, seu último troféu erguido foi em 2019 (se não contarmos a Supercopa 2019, que foi vencida somente em 2021 contra o Racing). O River perdeu um campeonato argentino pro maior rival na última rodada em 2020, teve duas eliminações para brasileiros na Libertadores, além de três revés por copas nacionais nesse período. Mas o processo seguiu prestigiado, mesmo depois de fracassos seguidos, o treinador foi mantido no cargo e hoje é líder isolado do campeonato argentino, justamente a última conquista que falta na galeria desse River da “era Gallardo”.

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Nenhum time vai ganhar todos os campeonatos todo ano, isso é completamente fora da realidade, há casos exepcionais de vencer todos os títulos em uma temporada, mas aconteceu somente com Bayern e Barcelona nos últimos 20 anos (levando em consideração os países com maior equilíbrio), sempre é bom ressaltar que apenas um time será campeão no fim das contas, o que não torna o 2º colocado um “lixo” como alguns dizem por aí. Por mais sucesso que Zidane, Guardiola, Mourinho, Klopp, Simeone e Gallardo tiveram na última década, sempre ocorreu percauços, eliminações e derrotas duras de engolir, mas que faz parte do futebol e serve de amadurecimento.

Abel Ferreira é um jovem e promissor treinador, já mostrou variações táticas e modelos de jogo adaptáveis, isso tudo em meio a um calendário complexo, que faz aumentar os riscos de lesões e desfalques por convocações, tendo em vista que muitos dos seus pedidos de reforços a diretoria do Palmeiras também não foram atendidos. Abel já eliminou o Jorge Jesus de uma Champions League com um time técnicamente inferior, já fez um 3x0 no Gallardo jogando na Argentina, superou o Crespo no Choque-Rei mais importante da história também com um 3x0, foi campeão sobre o Renato Gaucho com sobras e conseguiu superar o Cuca taticamente duas vezes por duas equipes diferentes. E isso certamente não pode ser menosprezado, nos grandes duelos de mata-mata Abel mais acerta do que erra e isso com apenas 42 anos de idade.

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Resiliência é acreditar no processo e na continuidade de um trabalho que já se provou vitorioso, nas derrotas e nos momentos de dificuldade o pensamento instintivo do torcedor e de muitos dirigentes esportivos é interromper trabalhos, e por vezes isso não resolve o problema, pois a questão que tem que ser avaliada é a parte processual, se isso ta sendo respeitado e respaldado, é necessário tempo pra evolução acontecer.