Um Tuíte Para Macunaíma

No princípio, eram apenas 140 caracteres, 20 a menos que nos SMS, expandidos, depois, para 280 caracteres. A “lógica” do twitter contribuiu para suprimir premissas e argumentação, devido às limitações de redação impostas, sobrando apenas uma conclusão, quase nunca fundamentada em um silogismo.

Ao ler o parágrafo acima, você conseguiria definir tese, antítese e conclusão alinhados? Então pense o seguinte: o que foi escrito não cabe em um “tuíte”. Esse processo de desinteligência está paulatinamente levando os incautos a uma simplificação fatal do processo de raciocínio, Processo esse que de simplificação nada tem, pois destrói a fundamentação silogística do raciocínio.

Embora muitos o defendam como ferramenta tecnológica importante para um modelo contemporâneo de comunicação , a precarização do domínio da linguagem, mal pontuada, resumida e abreviada, tem resultados calamitosos e contribui negativamente para o aprofundamento da indigência cultural no país. É esse culto à preguiça mental que gera seguidores fanatizados, em última instância, após certo tempo em que são “treinados” na arte do não pensar, por uso repetitivo desses processos subliminares de condicionamento no tipo de mensagem a ser propagada, quase sempre replicada através do modelo "ctrl-C" X " ctrl-V".

Ordens simples e diretas, com poucas palavras, que não aceitam questionamento por não estimularem (nem exibirem) racionalizações. Simples e direta, a saudação “Sieg heil se difundiu na década de 30, porém os resultados foram sabidamente catastróficos. Porém, lemas repetidos de forma automatizada, apropriações de supostas verdades teologais como se fossem conceitos absolutos, súditos que se comportam previsivelmente, comportamento de manada… se repetem nesses domínios. Essa, em essência, é a cultura propagada no Twitter! Parece estranho escrevermos sobre isso, em face do contexto histórico e tecnológico em que vivemos, quando o conhecimento está disponível, mas as pessoas, com vontades suprimidas por essa mesma tecnologia, nem se esforçam em acessá-lo, quanto mais para contestá-lo.

A tecnologia evolui, embora a humanidade ande na contra mão da história. A luta contra o terror reedita as Cruzadas, a perseguição promovida por fanáticos religiosos orientados por líderes “evangélicos” se torna a nova inquisição, aparelhando os órgãos de estado, em nosso país, com centenas de Torquemadas. Tudo ofende a deus, menos a extorsão praticada contra os fiéis; tudo é pecado e o inferno fica logo ali, desde que somente se aponte o pecado “do outro”; “Fora da (minha) igreja, tudo é podridão e ruína”. (Essa fala está mais para um modelo neo-Stalinista de gestão).

Desculpe-me, Macunaíma, em termos de inteligência não dá pra ser preguiçoso. Ray Bradbury foi profético em seu conto “Farenheit 451”; Hoje a tecnologia está suprimindo a busca pelo conhecimento. Só falta lançarmos os livros nas fogueiras, porque os “bombeiros” já estão sendo preparados para queimar todo conhecimento minimamente libertador.

Tarciso A G Barbosa, em 07/12/2021