#20 - a professora que me ensinou a escrever
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#20 - a professora que me ensinou a escrever

Qual foi a pior coisa que um professor já te falou?

Fred Fagundes
5 min
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#20 - a professora que me ensinou a escrever

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Transcrição do episódio:

Dias atrás, o Ygor Fremo, que é influenciador e produz conteúdo no Twitter, perguntou: qual foi a pior coisa que um professor já te falou? Eu deixei a minha contribuição relembrando o primeiro semestre da faculdade de jornalismo. Mas antes de chegar a esse dia, deixa eu contextualizar o impacto que aquela sentença teve na minha vida.

Eu sou de Porto Alegre (RS), mas passei a maior parte da minha infância e adolescência em Cuiabá, Mato Grosso. Mas quando eu tinha 16 anos a minha família voltou pra Porto Alegre. Ficamos lá por 2 anos antes de retornarmos pra Cuiabá. Ou seja, terminei o segundo grau no Rio Grande do Sul. 

Fui um adolescente longe de ser extrovertido. Consequentemente, não consegui formar grandes amizades nesse período em Porto Alegre. A minha companhia para as horas longe da escola foram basicamente rádio e Internet. Comecei a ler mais e empolgar com a ideia de fazer jornalismo. Foi nesse período também que eu despertei emoções que eu desconhecia com a escrita. Não no sentido dramático, mas do prazer pela leitura. 

A Rádio era outra coisa que mexia comigo. Então eu descobri que poderia juntar as duas coisas. Meu sonho era passar numa faculdade, arrumar estágio numa rádio e trabalhar na área. Ele se manteve vivo até mesmo quando voltamos pra Cuiabá, no final de 2002, quando eu terminei o colégio. Mesmo Mato Grosso possuindo um mercado extremamente menor para radialismo do que o Rio Grande do Sul, nada tirava da minha cabeça que, no jornalismo, a minha meta era trabalhar dentro de um estúdio.

No começo do curso de jornalismo ainda não tinha a matéria de Rádio. Mas uma professora, pra mostrar como funcionavam os estúdios da universidade, nos levou para aulas experimentais, aquelas coisa toda. Recebemos uma explicação teórica da estrutura de uma reportagem de rádio, cada aluno ficou responsável por escrever um texto e ir ao estúdio gravar. Gravação essa que era acompanhada por toda classe, que fique bem claro.

Muito bem, eu fiz minha parte, escrevi o texto, fui pro estúdio e executei a leitura. Durou cerca de 1 minuto e meio no máximo. Quando eu sai do estúdio ouvi a frase que, juro pra vocês, toda vez que eu vou gravar um podcast, eu lembro. Disse a professora: 

Ainda bem que você sabe escrever, porque sua voz é péssima.

Ela foi cruel, isso é obvio. Não se fala isso pra um estudante. Além do mais, ter uma voz boa ajuda, ajuda muito, na carreira no rádio. Mas não é fundamental. O fato é que aquela, digamos, orientação da professora me fez repensar todo o curso. Será que eu deveria continuar a insistir em jornalismo se a minha voz era ruim? 

Foi então que eu foquei na parte positiva daquela avaliação. “Ainda bem que você sabe escrever”. Eu comecei a praticar e expor mais o que eu produzia. Seja com blogs ou contribuindo pros veículos acadêmicos da própria universidades. 

Acontece que escrever pra mim não era exatamente um prazer. Eu via como uma obrigação. Eu utilizava uma base padrão de lead, tipo, o quê, quando, como, onde e por que e finalizava o trabalho. Não tinha a espontaneidade que eu esperava da rádio. Isso começou a me incomodar e me fez buscar uma identidade. E pra isso, eu voltei minhas lembranças lá pra Porto Alegre, naquele período de uma adolescência meio solitária, onde descobri obras que me faziam querer desenvolver algo parecido.

Sabe quando você lê algo que te faz pensar “puta que pariu, eu queria ter escrito isso?”. Pois é. Eu fui atrás dessas lembranças. Comecei a folhear algumas revistas guardadas e jornais antigos e encontrei uma edição de Placar que recuperava um artigo publicado originalmente em 1986. Quando li novamente o artigo, já em 2004, nesse período da faculdade, eu lembrei com clareza da sensação que tive quando li aquilo pela primeira vez. Foi justamente “um dia quero escrever algo desse jeito”. E aquilo me fez um bem danado. Entendi que me sentiria muito mais a vontade indo além de informar. Mas também contando histórias.

Eu consegui recuperar essa crônica no Google Books. Aliás, tem quase todas as revistas Placar digitalizadas nesse servidor. A autoria é do Emedê, um cronista que colaborou durante anos pra Placar. Como eu disse, o texto foi escrito em 1986 e tem o título: “E Se a Copa fosse no Vaticano”.

Vamos a ele. 

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Eu dedico esse programa a todo mundo que gosta de ouvir e contar uma boa história.



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Sobre o autor: Fred Fagundes é jornalista, produtor de podcasts e dono das melhores vagas em estacionamentos. Em caso dúvidas ou sugestões, entre em contato via redes sociais ou pelo e-mail: qmat.podcast@gmail.com.