Reflexão sobre os Processos Seletivos
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Reflexão sobre os Processos Seletivos

RaiseHands
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Vou começar esse artigo com um relato meu para chegar aonde eu quero. Ano passado, depois de 4 anos e meio trabalho em um colégio, pedi demissão mesmo não tendo nenhum outro emprego em vista. Meu prazo de validade tinha acabado, havia aprendido muitas coisas, pelas quais serei eternamente grata, mas senti que estava na hora de alçar novos voos. 

04 de setembro de 2019. Meu último dia. E com ele, a certeza de que estava tomando a decisão certa e, em conjunto, a incerteza pelo o que estava por vir (momentos de crise não são as melhores épocas para dar uma voadora na porta e sair do emprego de mãos abanando). 

A partir desse momento, eu estava livre para seguir o meu caminho e encontrar o que, de fato, me dava prazer e felicidade. O que eu queria fazer? Com o que eu amava trabalhar? Foquei nessas perguntas até que encontrei a resposta - só voltaria para o mercado de trabalho em duas hipóteses: ou fazendo o que eu amo, escrever, ou home office, para poder dar uma ajuda em casa. 

Comecei a enviar o meu currículo. E aí começa o dilema. Tem experiência em tal coisa? Não. Tem habilidade com tal programa? Mais ou menos. Quanto tempo de trabalho tem neste cargo? Hum…. 4 anos. E, dessa maneira, começa a saga à procura daquilo que você quer versus aquilo que as empresas desejam versus todo as exigências que são feitas. 

Até que um amigo me indicou para uma vaga na empresa que ele trabalha. Apesar de pouco experiência na função, fui. Pelo menos, as pessoas iriam me conhecer. Vá que gostassem da minha cara e resolvessem apostar em mim. Mas não rolou! Infelizmente, eu era muito pouco para o cargo. No entanto, apesar de triste, sabia das minhas “fraquezas”, então estava tudo certo. 

Logo em seguida, uma agência de publicidade me chamou. A vaga que eu queria já tinha sido ocupada, mas eles precisavam de alguém para fazer anúncios, cuidar do tráfego para os clientes. Putz! Justo a área que eu não me identifico. No colégio, eu fazia porque não tinha mais ninguém para realizar essa função. Mesmo estando desempregada, sem dinheiro, resolvi ser sincera com a empresa, mas, principalmente, resolvi ser sincera comigo mesmo. Olhei para a mulher a minha frente e disse:

  • Posso ser honesta? Não é o que eu desejo. Eu procuro uma vaga na área de redação. Amo escrever. Já fiz o que a senhora deseja, mas não é o meu perfil. Se eu aceitar, estarei enganando a senhora e a mim, pois não irei desempenhar a função como a empresa deseja e não estarei feliz. E uma coisa leva a outra. Ou seja, tanto eu como vocês estarão perdendo tempo e, em questão de semanas, você terá que refazer o processo seletivo. E sabe por quê? Porque eu posso mentir no meu currículo, mas não posso mentir no dia a dia, na entrega do trabalho. Sei que estou perdendo a vaga, mas acho mais correto da minha parte. 

Sabe o que ela me respondeu?

  • Nunca vi alguém ser tão sincera em uma entrevista de emprego. Muito obrigada pela honestidade. Gostei de você e, quem sabe, em outra vaga podemos nos ver novamente. 

Saí de lá com a consciência tranquila. Logo em seguida, me chamaram para uma vaga de home office, na parte de clipagem (pouquíssima experiência) e para uma agência de comunicação (fui indicada, sabia pouca coisa do que eles estavam fazendo, tinha conhecimento de algumas outras coisas….).  Adivinha? Fui chamada nas duas e, justamente, nas minhas duas opções. Tive a chance de optar onde eu queria trabalhar. E estou muito feliz no lugar que escolhi. 

O que eu quero dizer com tudo isso? Lendo alguns relatos no LinkedIN, percebo o quanto o processo seletivo não é justo e, em muitos casos, não faz a escolha certa. Entendo que o candidato precisa ter experiência, domínio nas atividades que irá desempenhar. Mas eu não sei se você sabe, as pessoas mentem. O currículo nem sempre reflete o conhecimento da pessoa. Muitos inventam cursos, afirmam ter know-how nos softwares desejados, manipulam informações e dados. Isso sem contar as características pessoais do candidato. Do que adianta ter um excelente profissional, mas sem comprometimento com o trabalho, sem estar alinhado aos propósitos da empresa, sem responsabilidade em relação aos resultados desejados? 

E aqui entra outra questão que sempre me incomodou. O coitado do recém-formado sai da faculdade com aquele gás, cheio de vontade de fazer o melhor, de aprender. Vai para uma entrevista e lá vem aquela pergunta, que se transforma em um tremendo banho de água fria, que desanima, até mesmo, os mais esperançosos: “Você tem experiência na função?”. Genteeeeeeeeeeee!!!! Como a pessoa vai ter experiência se ninguém der a primeira chance? Já parou para pensar nisso? Já refletiu que esse candidato pode ser uma excelente aquisição se você estender a mão, se você apostar nele? Porque tudo é uma questão de primeira vez. 

Vejo isso por mim. A maioria dos meus trabalhos, eu fui indicada. O que, até certo ponto, é bom, mas faz com que você se esforce e se dedique, ainda mais, para não envergonhar quem te indicou. E, na maioria, eu tinha pouca experiência quando fui contratada. No entanto, sempre fui honesta com o que eu sabia ou não fazer. Meu diferencial? Além de tudo aquilo que é de praxe (disciplina, responsabilidade, entrega de resultados, dedicação, e por aí vai), eu visto a camisa da empresa, eu trabalho com ética, assumo o que eu não sei e corro atrás para aprender. Quando as pessoas querem crescer, elas se agarram as oportunidades com unhas e dentes. Um pouco diferente daqueles com anos de experiência, que acham que já sabem de tudo. 

Portanto, meus queridos recrutadores, pensem um pouco a respeito do candidato que vocês desejam. Nem sempre um currículo bem escrito reflete um excelente profissional.

Eduarda Klann

Originalmente publicado em https://www.linkedin.com/pulse/reflex%C3%A3o-sobre-os-processos-seletivos-eduarda-klann/