Como arrumar a cama me deixou mais rico
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Como arrumar a cama me deixou mais rico

Era final de 2018, começo de 2019. Estava endividado, com depressão e com uma taxa de estresse tão alta que cheguei ao ponto de cogitar suicídio. A vida era uma confusão extrema. Brigas com meus sócios, infelicidade na vida amorosa, doenças f...

Raphael Ivan
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Era final de 2018, começo de 2019. Estava endividado, com depressão e com uma taxa de estresse tão alta que cheguei ao ponto de cogitar suicídio. A vida era uma confusão extrema. Brigas com meus sócios, infelicidade na vida amorosa, doenças físicas, distanciamento da minha família e, por dias, não tive vontade de sair da cama. Fazia uso de remédios para dormir, remédios para ter energia durante o dia. Implorava para chegar as 19:00 e eu poder chegar em casa e dormir. 

[Jump Cut] 


Fevereiro 2021. Me sinto no melhor momento da minha vida. Nunca me senti tão feliz, nunca me senti tão vivo. Nunca estive tão próximo da minha família como hoje. Nunca ganhei tanto dinheiro como agora.  Toco duas empresas, pratico esportes todos os dias, consigo ler todos os dias e estou construindo o modelo de vida que sempre quis. Apesar da transformação ser absurda, a percepção da evolução não aconteceu na mesma intensidade. Nesta semana,  em conversa com a terapeuta, fizemos uma reflexão de qual seria o principal motivo da minha transformação e como ela se iniciou. Por horas, tentei encontrar algum momento brusco de transformação, porém não encontrei e não iria encontrar.  A verdadeira transformação acontece nos pequenos detalhes. Comecei a perceber que minha vida passada era uma bagunça, a começar pela minha casa.


[Breaking the Fourth Wall]:

"Caro leitor, este é o ponto mais importante do texto, pois o fato do meu apartamento ser, na época, uma bagunça, não é a causa, mas sim, reflexo do todo. Por isto, fiz questão de dedicar algumas linhas para tentar descrever como era."


Eu vivia em um verdadeiro chiqueiro. Meu apartamento era nojento, de tão sujo. Não por vontade, mas porque era a minha realidade. Eu não percebia o caos em que vivia, eu só conhecia aquela realidade. Eu vivia com minhas roupas sujas, a pia acumulava louças de 4,5,7 dias. Por muitas vezes, tive que jogar talhares e roupas  no lixo, de tão sujas. Lembro que uma vez a moça que limpava minha casa, me mandou mensagem me dando um esporro, pois tinha encontrado roupas com "bigatos" em uma sacola, que eu nem sabia que existia. Se meu refúgio era um verdadeiro caos, como minha vida seria diferente? Como eu teria sucesso no trabalho, na vida amorosa, se eu era um caos com pernas? A bagunça da minha casa era reflexo da bagunça interna. 

A bagunça era reflexo do desinteresse que tinha por mim mesmo, por me cuidar e me colocar como prioridade.


[Jump Cut] 


    Estamos em 2019. Comecei a trabalhar com uma garota extremamente manicada com limpeza. Ela se preocupava com tudo. Cada detalhe pra ela era importante. Uma xícara fora do local era motivo para reclamações. Eu achava um porre, porém, essa maluca mudou minha vida. Eu nunca conseguirei retribuir o que ela fez por mim.  Ela me ensinou sobre trabalho, sobre vida, sobre organização. Ela foi a única pessoa que teve coragem de questionar como vivia. Sobre como cuidava de mim e das coisas a minha volta. Segundo ela, eu me "oferecia pouco" e  "que eu merecia muito mais".  Por muitas vezes ela disse: "Você merece mais, rafa.".  Não conseguia entender o que ela queria dizer e não concordava que minha realidade precisava ser diferente do que era.


Quando estamos dentro de uma realidade e com a mente fechada a novas possibilidades, não conseguimos entender o diferente. Como diz o ditado: "Para um peixe, o mundo inteiro é água". 


Um dia lendo um livro sobre mini hábitos, o autor Stephen Guise,  sugeriu um desafio: Arrumar minha cama durante os próximos 60 dias.  Achei a coisa mais idiota que alguém poderia fazer. "Como arrumar a cama vai me tirar dessa merda?" Essa era a pergunta que eu me fazia.  Mesmo assim, me propus fazer o desafio. Durante os 60 dias seguintes, a primeira coisa que fiz ao acordar foi arrumar minha cama, depois banho e café. Normalmente acordo por volta das 4:30am. Imagina ter saco para arrumar a cama as 4:30am?  Puta coisa chata do caralho!!! Teve dias que arrumava na base do ódio, mas fazia.  Era esse o combinado. E este foi um grande aprendizado: fazer o que precisa ser feito, não o que eu gostaria de fazer.


Ao final dos 60 dias, percebi uma transformação absurda, pois não só arrumava minha cama, mas também a casa toda. Quando acabou os 60 dias, comecei a me incomodar em deixar a cama bagunçada. Ali percebi que, pouca coisa havia mudado em mim, porém, ao olhar em volta, já percebia algumas grandes transformações, pois o pequeno hábito de cuidado comigo, não veio sozinho. Outros pequenos hábitos de cuidados vieram com ele.


Por mais difícil que possa ser para nosso preguiçoso cérebro assimilar, a verdadeira mudança está nos detalhes. É muito difícil para nosso cérebro ter que conectar uma unha bem feita com uma boa gestão financeira. Para facilitar isso, precisamos criar racionalidades afetivas. Por exemplo: Imagina que nenhuma criança sai andando do nada. Primeiro, tentamos ficar de pé. Depois, engatinhamos e quando percebemos, estamos andando.   Criar essa sequência racional, conecta o ponto do tentar ficar dê pé de uma criança com um maratonista correndo: A vida acontece na  constância,  não em eventos disruptivos.   Ninguém vira um atleta de ponta da noite para o dia. Então por que seria diferente com nossos hábitos? 


[Jump Cut]


 Estamos em 2021. Daquele livro em diante, comecei a estudar muito sobre pequenos hábitos e seus impactos no dia a dia. Tirei o foco dos grandes acontecimentos e o coloquei no "pouco", nos menores, no pequeno. As coisas pequenas tomaram mais importantes para mim. Ao invés de focar em ler um livro inteiro em 1 dia, percebi que lendo apenas 30 minutos todos os dias, no final do ano, eu tinha lido 182 horas. São 7 dias inteiros. Em 2020 eu consegui ler 31 livros. O que dá 2.5 livros por mês. Isso lendo apenas 30 min por dia. Nada mais, nada menos. No meu ritmo. No meu tempo.

Acredito que nosso maior erro é queremos mudar nossas vidas da noite para o dia. Somos impacientes. Queremos uma grande transformação do dia para a noite. Queremos dormir e acordar com uma grande vontade de malhar, de ler, de sermos mais saudáveis. Somos muito imediatistas e por muitas vezes não conseguirmos ver as pequenas evoluções e abandonamos o processo.  Tem uma frase que gosto muito que é:  Pessoas medianas, focam no resultado. Pessoas extraordinárias focam no processo.

Pense: O que faz você ter uma saúde bucal, ir ao dentista 2 vezes ao ano ou escovar os dentes diariamente?  E este é o ponto. Escovar os dentes é banal demais para percebemos como o motivo da nossa saúde bocal, ai transferimos isso para as idas ao dentista, por ser um evento maior, de mais fácil absorção pelo nosso cérebro.

O poder os pequenos hábitos          

Algumas pessoas enxergam em mim uma pessoa disciplinada e algumas pessoas me pedem conselhos sobre como se organizar melhor, como perder peso, como ganhar dinheiro ou ser mais disciplinada. A resposta é quase sempre a mesma: Eu não tenho a menor idéia. Se vira! Após demonstrar meu lado estóico, volto a ser Augusto Cury e normalmente faço uma pergunta: Tu arruma a sua cama todos os dias como primeira tarefa do dia?  A maioria responde que não, ai entra o famoso sermão da montanha do porquê arrumar a cama é importante e blá, blá, blá. Chato pra caralho, eu sei.  Na maioria das vezes, sinto que  joguei meu tempo fora, pois a  maioria não acredita no processo e, por isso, não se transformam. E se você acha que é fácil manter o hábito de arrumar a cama, coisas de 2 minutos, todos os dias, você está muito enganado. É muito difícil. Terá dias que você estará cansado, dormiu mal ou simplesmente não quer. E ai, ter que olhar para cama e falar: "Eu preciso fazer, porque precisa ser feito", é o que separa os adultos das crianças.

 Como animais imediatistas, queremos sempre soluções milagrosas. Por isso os templos religiosos estão sempre cheios, mas poucos lares espiritualizados.  A religião oferece soluções rápidas, a espiritualidade te obriga a ser, se conhecer, se desenvolver. E se desenvolver dói e demora e nós não podemos esperar. A caminhada é mais bonita que o destino. O processo é mais importante que o resultado. 

Um exemplo: Supondo que você queria começar a juntar dinheiro para investir. O maior erro é pensar: Eu preciso aumentar minha renda. Na verdade, não. Você precisa dar o primeiro passo. Pega R$ 50,00 e transfere pra uma conta ou corretora, no primeiro dia que você receber. Este pequeno gesto vai te deixar rico? Se você olhar só para ele, isoladamente, não. Se você continuar no processo, com toda certeza, sim. Você irá criar o hábito de se pagar primeiro, muito bem descrito no livro  "Pai rico, pai pobre".  

De novo: A grande transformação está no pequeno. A grande maioria paga todos os outros primeiro, depois, se sobrar dinheiro, guarda. Nós colocamos outras pessoas como prioridades em nossas vidas. A idéia é inversa: Eu me pago primeiro. A primeira coisa que faço, todos os meses, é transferir meus aportes mensais para meus investimentos, o resto, vem depois. Primeiro eu transfiro para meus aportes mensais, me pago, depois pago condomínio, compro as coisas que gostaria, etc. Primeiro eu me pago. Comecei transferindo R$ 70,00 todo mês, quando recebia. Hoje, tenho renda passiva suficiente para manter meu padrão de vida sem precisar trabalhar. Foram 10 anos nessa mesmice de se pagar primeiro.

Ao se colocar em primeiro, você pode estar pensando: "Nossa! Que egoísta."  E por que eu não deveria ser? Por que ser egoísta é ruim? Por que precisamos cuidar dos outros primeiro, depois da gente? Se você andou de avião, já ouviu a explicação da comissária sobre "colocar a máscara primeiro em você, depois no outro." Para você cuidar, tu precisa estar bem. Voltando aos hábitos...

Outro exemplo: Quer se tornar mais saudável? Ao invés de fazer planos mirabolantes, ver vídeos motivacionais, comprar um monte de alimentos saudáveis e fazer promessas de amor próprio, que nunca serão cumpridas. Coloca o tênis e  vai caminhar por 10 min. Apenas faça! Dez  minutos não é nada. São duas músicas. Vai de deixar mais saudável? Se você olhar somente para os 10 min, não, porém nesses 10 min  você vai dizer para seu cérebro: Estou cuidado de mim. Acostume-se!  Em pouco tempo,  sairá de 10 min e vai para 20, depois para 30 minutos. Quando você perceber,  estará correndo pela rua como aqueles malucos de short coladinhos, boné sem fundo e  com cara de doentes, vide Drauzio Varela. A vida acontece aos poucos. 

Quando me vejo em 2018, percebo que a bagunça que vivia era reflexo do caos que eu era. Da ausência do carinho por mim mesmo. Da falta de priorizar minha existência, em prol do universo a minha volta.  Hoje eu sou bem chato com limpeza. Meu apartamento é extremamente limpo. Móveis, livros, roupas e outros objetos todos no lugar.  Contratei alguém para ajudar na limpeza de tudo, para que eu possa me dedicar ao que consigo ser bom de fato.

O ponto é: Quando lá em 2019 eu decidi arrumar a cama, o universo entendeu meu recado, e as coisas fluíram.  Limpeza, estudo, conforto, são sinais de carinho com você mesmo. O mundo vai entender o recado que você está emitindo e vai te devolver o que você está pedindo.


Minimalismo:
            
    Uma coisa que mudou minha vida foi conhecer o minimalismo. Isso me permitiu entender o que realmente eu precisava para ser feliz, focar nisso e não gastar energia ou dinheiro com o restante. Comecei a gostar dos espaços vazios, sejam em horas do dia ou na casa.  A ausência deixou de ser um dor e passou a ser uma coisa mais leve. Não preciso mais me preencher com objetos que não preciso ou entupir minha casa com móveis que não possuem uso de fato.  Não tenho mais a necessidade de ter 400 livros em uma estante, para me sentir inteligente ou acariciar meu ego. Carrego os mesmos 400 livros em um Kindle(leitor de livros digitais). Meu escritório cabe dentro de uma mochila. Aprendi que todos os objetos são energias alocadas.

Pense: Se você tem uma estante com um monte de livros, você vai ter que gastar energia(sua ou de alguém) para limpar, manter, encontrar o que procura, etc... O mesmo para tudo. Só neste ano, fiz duas doações de roupas. E a regra é simples: Usei nos últimos 6 meses? Não? Some! Não serve. Não tenho apego nenhum por objeto, tenho apego pelo o que meu dinheiro não vai conseguir comprar. Lembre-se: Coisas são energias. Coisas são o  tempo que você trocou por elas. Por exemplo: Ao comprar um iPhone novo de R$ 6000,00. Se eu ganho R$ 3000,00 por mês. Eu praticamente troquei 2 meses de vida por um Iphone. Sem contar na energia investida para manter ele com bateria. 

Não estou falando para nunca comprar nada, não é essa a proposta. A proposta é: Compre o que tiver vontade. Compre o que fará sentido para você e o que irá contribuir com sua felicidade."Ain Rafael, vou viver só de miojo?" Não, filhote de parideira. Descubra o que tem sentido pra ti, e gaste energia e/ou dinheiro com isso. Se sua praia é ter um carro foda, compre o carro foda e vai ser feliz. Se a praia do vizinho é viajar e não acumular nada, deixe o vizinho ser feliz.  Em resumo: Encontre o que te faz feliz, o que te faz bem, e concentre suas compras nisso. Na vida em sociedade, com seres tão diferentes, não existe "certo ou errado". Isso é o que funcionou para mim. O que, de fato, mudou minha vida.  Se vai funcionar para você, eu não sei.


Se eu pudesse colocar um único ponto de reflexão sobre a vida e colocar em prática meu curso de Coach a distância, seria: Cuidado com a mensagem que você está enviando para o universo, ele está te ouvindo. Para os religiosos: Cuidado para o que você pede para Deus, ele vai te dar. 


"O que não nos mata nos torna estranhos."


Se cuide! Cuide dos que ama.


Jump Cut (Corte de Câmera) é uma técnica utilizada no cinema para fazer cortes mais bruscos de uma cena para outra, que não possuem sequência lógica.

Breaking the Fourth Wall (Quebrando a quarta parede)  é quando o personagem do  teatro interage com a plateia.  Existe o fundo do teatro, as paredes laterais e a quarta parede seria uma parede imaginária entre o palco e platéia.