O absurdo em cobrar mensalidade do rico que estuda em universidade financiada pelo pobre - e que sequer tem acesso à educação @ReflexoesDiametrais
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O absurdo em cobrar mensalidade do rico que estuda em universidade financiada pelo pobre - e que sequer tem acesso à educação @ReflexoesDiametrais

O absurdo em cobrar mensalidade daquele que usufruirá de todo o conhecimento absorvido durante a docência (PEC 206/19) @ReflexoesDiametrais 

Ricardo de Cillo
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     Não seria difícil de imaginar que, aqueles que se dizem defensores dos mais pobres, e eternos sinalizadores da virtude social e moral, se esgoelassem ao se deparar com uma PEC (Proposta de Emenda à Constituição) que visa cobrar mensalidade daqueles que podem pagar pelo curso em uma universidade pública. O mais comum é, de longe, a hipocrisia escancarada daqueles que se auto denominam Justiceiros sociais não se darem o trabalho de averiguar e, consequentemente, acabar constatando a imoralidade e a perpetuação da desigualdade ao acesso à educação que acontece hoje nas universidades brasileiras, muito pela sua pseudo-gratuidade

Para contextualizá-lo, caro leitor deste que vos escreve, quero trazer algumas informações para fundamentar a minha posição favorável a este projeto e, se possível, fazer com que enxergue que apoiar algo como tal é quase um dever civil.

Primeiro é preciso compreender que, apesar das Universidades públicas brasileiras serem "gratuitas", você há de imaginar que, se alguém está tendo acesso àquilo isento de alguma cobrança, alguém o está financiando, certo? Não existe almoço -e nem estudo- grátis. risos.

No caso do Brasil, quem financia o estudo dos alunos de Universidades públicas é o mais pobre. Sim, o mais pobre. Por quê? Porque no Brasil a cobrança de impostos é regressiva, ou seja, a "massa" do dinheiro arrecadado vem do consumo das pessoas, e não da renda. 

Reflita, meu caro afegão; Se você ganha algo em torno de 1~2 salários mínimos (realidade salarial brasileira), você depende de todo o seu salário para sobreviver. Ou seja, proporcionalmente você está pagando mais impostos -Ou, como eu prefiro dizer, sendo mais roubado pelo Estado- do que o cara que ganha 10, 15, 20, 40 salários mínimos p/ mês. O cara que está no topo da cadeia alimentar utiliza seu salário para comer, viajar, investimentos, estudos, etc.; O cara que está na base utiliza todo o seu salário para comer, .?., .?., .?., talvez uma skol e um churrasco na laje no domingo. E, nessa brincadeira de comer, .?., .?., .?., o mais pobre foi taxado em 30, 40% sobre sua renda.        risos?.

Nossos Justiceiros sociais jamais se dariam o trabalho de entender e, se possível, reivindicar tamanha injustiça com aqueles desfavorecidos,  né? Oras, partindo do pressuposto da moralidade que eles enxergam em existir um órgão que detenha o monopólio da coerção para o bem de todos, por que não manter o filho do rico estudando de graça -às custas dos mais pobres- nas universidades públicas?

- Pô, mas pera lá, Rica.. você sabe que existem pessoas de classes sociais desfavorecidas frequentando as Universidades públicas, né? 

Hm, será?

É preciso entender outro ponto bem relevante nessa discussão, afinal, se estamos defendendo a ideia de que os ricos paguem pela docência nas universidades públicas, precisaremos definir quem são os ricos, alright? Há um abismo entre um rico alemão, por exemplo, e um rico brasileiro, o que talvez não esteja ainda muito claro pra você. Aqui, lhe ajudo;

No Brasil, a renda média per capita é de R$1.367,00. (vide senso IBGE, 2022)

A renda média dos brasileiros (em regiões metropolitanas) é de R$1.378,00. (Fonte: https://economia.uol.com.br/noticias/redacao/2022/04/07/renda-media-cai-a-r-1378-e-atinge-minima-historica-diz-pesquisa.htm)

Poderia ficar enchendo este texto de dados, mas você há de compreender que um cara que ganha 4, 5 salários mínimos já está acima do afegão brazuca (aquele que sustenta as universidades), né? Ok!

Também há de concordar que, ganhando 4, 5 salários mínimos, você não é uma pessoa que anda de Ferrari e mora numa cobertura em Pinheiros, né? Ok!

Pois dada a realidade de renda dos brasileiros, quero fazer uma reflexão diametral aqui com você. Pelo fato de as escolas "primárias" públicas serem uma verdadeira representação do descaso do poder público para com as crianças mais carentes do nosso país, é super razoável de se imaginar que a probabilidade destas passarem num vestibular de universidades públicas é pífia. Em inúmeros casos, alunos relatam falta de luz, de professores, de PAPEL HIGIÊNICO, etc. Em suma, um aluno de uma classe social mais favorecida vem de colégios privados, consequentemente armado de uma capacidade intelectual superior àqueles que vieram do ensino público.

(Nem vou entrar no mérito do que passa pela cabeça de um aluno de uma escola pública, dada a realidade social, falta de figuras paternas, cotidiano miserável, perspectivas de vida, etc, etc, etc., que, sem dúvida nenhuma, é super relevante neste assunto e, de fato, implica demais na hora de ingressar na universidade).

A chance de um aluno com uma renda per capita de R$20.000,00 passar num vestibular de uma universidade pública no Brasil é de 40%. Se o aluno vier de uma família com a renda per capita de até R$250,00, a probabilidade despenca para 2%. 

(Fonte: https://blogs.oglobo.globo.com/antonio-gois/post/chance-de-um-aluno-mais-pobre-entrar-numa-universidade-publica-e-de-apenas-2-quadro-nao-e-muito-diferente-nas-particulares.html).

Agora, pensemos: Por que a esquerda brasileira insiste em fechar os olhos para os problemas que realmente assolam os mais pobres? É justo manter o filho do rico -ou que seja aquele cara de classe média que tem sua casa própria, um paitrocínio aos finais de semana pra tomar uma Heineken gelada com bolovo em Pinheiros- sendo sustentado pela massiva maioria da população brasileira que, além de ter tido um ensino básico que desgraçou e aniquilou completamente a chance da ascensão deste na sociedade, não terá sequer a chance de frequentar uma universidade financiada com o seu próprio dinheiro?

É louvável, lindo, de brilhar os olhos a ideia de uma educação boa e gratuita a todos, mas é utópico. Fato é: as instituições de ensino brasileiras perpetuam a desigualdade social ao manter o mais pobre financiando o estudo daquele cara que, além de pagar menos impostos apenas pela legislação tributária arcaica vigente em nosso país, sequer vai retribuir de alguma forma para a sociedade. Provavelmente, esse aluno terminará a faculdade já buscando um intercâmbio, levando seu conhecimento oriundo (SIM!) do trabalho dos mais pobres brasileiros para outros países mundo a fora. Ou, se bobear, ainda vira funcionário público e vai morrer às custas do pobre pagador de impostos.     risos.

Não preciso fazer a ressalva de que existem exceções e exceções para todos os casos, né? Tratemos aqui de uma perspectiva geral, média, via de regra.     obrigado.

Por que os ricos (ou aqueles que têm condições) não podem pagar pelo curso? Por que os mais desfavorecidos continuarão a sustentar os privilégios de poucos? 

Para finalizar, deixo um ditado de Tolstoi para uma reflexão; 

"Os ricos fazem de tudo pelos pobres, exceto descer de suas costas."