É sobre deixar ir.
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É sobre deixar ir.

Li esses dias que amar é também saber deixar ir. E tenho aprendido sobre isso nos últimos dias.

PollyMariaah
5 min
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Li esses dias que amar é também saber deixar ir. E tenho aprendido sobre isso nos últimos dias.

Eu pareço uma vitrola em looping falando apenas deste assunto e agora escrevo sobre ele porque a escrita tem poder de cura para mim e neste exato momento eu preciso falar e falar e falar mais um pouquinho sobre isso. Até me curar.

Em julho do ano passado uma mensagem no WhatsApp chegou para mim. Era a foto de um golden retriever muito parecido com Simão, que estava comigo desde filhote. Confusa, achei que era o cachorro que eu já tinha e não o cachorro que iria adotar 48 horas depois.

Bruce - como era seu primeiro nome - passou dois anos sendo abandonados por famílias que não conseguiam dar conta da tempestuosidade que ele era. Um cão amável e energético. Que passou boa parte da sua vida preso em uma concorrente, comendo mal e sendo negligenciado.  Quando o vi pela primeira vez ele deitou no meu pé e eu entendi que tinha uma missão: ama-lo incondicionalmente.

Levei ele para casa e para minha surpresa, ele e Simão não se deram tão bem. Isso porque Lucca - que passou parte da sua vida sem qualquer socialização com outros cachorros - assustava Simão com sua aproximação agitada e cheia de latidos.

Por sete meses eles viveram separados. Eu sabia que um dia eles se dariam bem. Lucca foi viver na casa dos meus pais. No meio do caminho, ele quase morreu com uma castração mal feita. Foram quase dois meses de um dolorosa recuperação. Eu nunca sai do lado dele. Ofereci amor, carinho e o melhor tratamento que ele poderia ter.

Recuperado, iniciamos a reaproximação dele e do Simão na creche. Foram semanas brincando naquele ambiente neutro até progredirmos para brincarem juntos no quintal da casa dos meus pais, onde Lucca morou a maior parte do tempo.

Eles passaram a conviver bem. Mudei para uma casa. Trouxe os dois para viverem juntos comigo. Investi em adestramento positivo e homeopatia. E tudo caminha bem, ao menos para o Lucca, que se desenvolvia e a cada dia aprendia a ser um cachorro ainda melhor.

Mas, Simão começou a mostrar tristeza. Lucca é um cão dominante. Quer atenção só pra ele, brinquedo só pra ele e carinho só pra ele. Aos poucos, Simão foi se afastando de tudo e todos. Perdeu vontade de fazer tudo que gostava. Se escondia sempre em algum cantinho e mal aceitava meu carinho. Tava pesado ver isso acontecer. Lucca exigia muito de mim e mesmo que em momento algum tenha deixado Simão de lado, era apenas uma tentando dar conta de dois cães que queriam tudo.

Não adotei Lucca para desistir dele. Adotei Lucca para salva-lo. Mas, não podia ignorar Simão, que chegou para me salvar. E foi aí que aprendi que amar também é sobre deixar ir.

Domingo, o universo mandou uma família conhecida pelos meus pais para ser a nova família do Lucca. Eu sabia que teria que fazer esse movimento em algum momento. Mas, não imaginava que seria de uma hora para outra. Lucca se foi e deixar ele ir, foi a dor mais dilacerante que já senti.

Às vezes, a partida é necessária porque ficar é sinônimo de sofrimento.

Somos egoístas ao querer que o outro fique, mas podemos estar prolongando um sofrimento que é inevitável e vai acontecer uma hora ou outra.

Chorei e ainda choro de saudade. Um sentimento de fracasso ainda paira sob mim. Mas, sei que esse era o melhor que poderia fazer por nós três. 

Ficam as lembranças, as histórias compartilhadas e a cumplicidade que criei nesses sete meses sendo tutora do Lucca.

A saudade vai existir, a tristeza vai nos visitar de vez em quando, mas nada vai conseguir apagar o amor que sinto por ele. 

Gosto de pensar que tudo o que acontece na sua vida vem porque tem algo a nos ensinar, então, Lucca,  ficou por tanto tempo e cumpriu magnificamente o seu papel. 

Mesmo que a gente não saiba dizer adeus, mesmo que a gente lute para que a despedida não aconteça…. Amar também é deixar ir.

Porque comigo já não era mais o lugar dele. Hoje ele está em um lugar melhor do que posso imaginar. Se tornou filho único de uma família que em três dias já o chama de filho. Ele está tendo passeios felizes. Carinhos só para ele. E todo o mimo que merece ter pelo resto da vida.

Lucca passou na minha vida para me ensinar sobre amor, resiliência e novos começos.

O que me resta agora é aceitar a partida e agradecer pelo tempo que vivemos juntos.

(Uma pausa para dizer que Simão está bem e voltando a ser o cão que antes. Sei que ele aprendeu a conviver com Lucca e talvez até sinta falta dele. Mas, Simão também foi feito para ser filho único e agora voltou a ser).