Malditos sonhos — Um Conto
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Malditos sonhos — Um Conto

Recentemente li “O personagem” de Henry Bugalho, seus contos me deram certa vontade de escrever da forma que ele escreve. Então aqui está…

Renato
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Recentemente li “O personagem” de Henry Bugalho, seus contos me deram certa vontade de escrever da forma que ele escreve. Então aqui está o primeiro conto que escrevi na vida, inspirado pelos contos de Henry Bugalho

Rodrigo acordara atônito, não sabia onde estava, e onde foram parar seus filhos, sua mulher, e o restaurante preferido dele, do qual, a menos de 30 segundos, estavam todos juntos. Olhou em volta, observou ainda confuso o mofo na parede de seu (seu?) apartamento de 5 metros quadrados. Um calor desgraçado. Questionou-se: onde poderia estar? Onde foram parar todos e tudo o que tinha?

Sentou-se na beira da cama de solteiro encardida. Com os cotovelos apoiados na coxa e os olhos forçados contra as palmas da mão, Rodrigo voltava para sua realidade, desconcertado, abalado, desordenado. Arrependera-se de ter acordado, queria voltar. E apesar de todos os problemas em sua vida, o que mais o consternava era o fato de não poder voltar. Perguntava-se por que tinha que ser tão real, esses incríveis, no sentido crú da palavra, sonhos. Seria uma vida melhor não sonhar? Apenas viver sua melancólica e sem sentido vida. Mas assim não teria incentivo algum para continuar vivendo. Gostava dos sonhos, eles davam-lhe esperança, só não gostava de acordar.

Enfim, deveria ir para o escritório. Durante o dia, em seus momentos bucólicos, lembraria do sonho da noite anterior e só assim conseguiria continuar o dia. Imaginava, em seus devaneios mais profundos, que não eram sonhos, mas sim seu futuro. Nem sempre acreditava nisso, era fantasia, mesmo assim não conseguia mentir para si mesmo e se pegava acreditando nessa ilusão utópica.

Durante esses mesmos devaneios perguntava-se como, como sempre era a mesmo contexto, nunca sonhara com uma vida ruim, com uma vida diferente, era sempre a mesma vida perfeita. Porem com acontecimentos diferentes, maior parte das vezes. Sonhara com seu casamento, com o nascimento de seu primeiro filho, Jonathan (que nunca vira fora do mundo da cama), sonhara com as viagens para a Europa, com o trabalho que amaria fazer e etc. Não entendia como, já tentara entrar no assunto com conhecidos ou colégas do trabalho, mas diziam que, quando sonhavam, maior parte das vezes eram coisas diferentes e sem sentido. Porque era tão real? No fim das contas não fazia diferença, o que importa era que sonhava, e isso o mantinha vivo e feliz, mesmo com sua vida deprimente. Deixara de se questionar e apenas sonhou, dia após dia, mantendo-se vivo com essa migalha de felicidade.

Por outro lado, o outro Rodrigo não dormia na maioria das noites, gostava de sua vida, só não gostava de sua cama, e por esse motivo entristecia-se, as vezes não conseguia pensar em outra coisa se não na sua maldição, apagar e sonhar que tinha uma vida miserável, acordava chorando por finalmente voltar à sua realidade. Não conseguira aproveitar o nascimento de seu filho, mal se lembrava de suas viagens para a Itlália, nem se lembrava do Coliseu ou da Torre de Pisa, passava os dias questionando-se, horrorizado e amedrontado, tentando resolver, ou ao menos entender, seu problema. Claro que nunca chegara a conclusão alguma, nunca entendera o porque o universo o atormentava com tão injusta realidade em suas noites.

By Renato Cesar on December 10, 2020.