Como você alimenta o seu repertório?
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Como você alimenta o seu repertório?

Segundo a Wikipédia, "repertório" é todo conhecimento armazenado que modifica e confirma os ideais do ser. Na prática, é tudo que te acrescenta. São as ideias que você conecta, investiga, testa, refaz, produz, reproduz, critica, discorda, copia e col

Bruna Richard
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<i>Photo by Clark Tibbs on Unsplash</i>
Photo by Clark Tibbs on Unsplash

De todas as coisas que já vi na Netflix até hoje, sempre falo e recomendo um episódio de uma série para os meus amigos criativos. Já revi umas dez vezes, se já não perdi as contas. Sempre encontro um aprendizado ao ver mais uma vez. Ele realmente me impressiona. Se fosse nos tempos do videocassete, essa parte da fita estaria desgastada de tanto eu parar, voltar e ver novamente. Uma analogia que revela um pouco a minha idade!

Tudo bem, voltando para a série que você, claro, já viu ou ouviu falar: Chef's Table, criada pelo diretor David Gelb, que também dirigiu outro documentário incrível em 2011, “Jiro Dreams of Sushi’’.

A primeira temporada de Chef’s Table tem seis episódios interessantes, mas vamos para o último, do Magnus Nilsson e o Fäviken.

Eu poderia apenas trocar os trâmites de cozinha para os de uma agência de publicidade que tudo se encaixaria perfeitamente: o processo de criação, a entrega, a organização, a equipe, as dificuldades.

O Fäviken foi nomeado 34º na lista dos 50 Maiores Restaurantes do Mundo em 2012, e em 2013 um dos dez melhores restaurantes do mundo pelo Guia Zagat. Além de ter duas estrelas Michelin, conquistadas em 2016.

“Enquanto pessoa criativa, você sempre é influenciado pelas experiências que viveu. E se uma delas for sempre estar se comparando a outros restaurantes similares, é inevitável que isso afete seu trabalho.”

“No Fäviken, não nos identificamos com nada que não quisermos. Porque só existe a gente aqui, somente este pequeno universo. É meio que ilimitado, entendeu?” — Magnus

A qualidade dos seus pensamentos é proporcional ao seu repertório e como você vai utilizá-lo. Charlie Munger disse: “quanto maior for a sua caixa de ferramentas mais provável será que você tenha modelos certos para ver a realidade”. Aqui a forma de criar do Magnus é ilimitada, ele não se compara com ninguém. Nem mesmo se deixou levar pelos prêmios e as estrelas Michelin.

Pensa comigo: esse restaurante fica no meio do nada, só tem 12 lugares, eles só usam ingredientes locais. A exceção é o açúcar, sal e vinagre alcoólico. A carne é do gado criado na propriedade e os pescados são o próprio chefe que pesca em um lago próximo. Durante seis meses do ano, nada cresce no local por causa do frio. Um desafio e tanto ser um chef criativo e ter um restaurante fino nessas condições, não é mesmo?

Nada disso impediu Magnus de ficar e fazer algo extraordinário, quando a proposta era apenas de uma consultoria temporária como sommelier em 2008.

“O motivo para eu ter voltado à cozinha se resume a ter prometido fazê-lo funcionar. Não havia mais ninguém capaz.” — Magnus

Para mim, é simplesmente uma aula ver Magnus saindo de casa e passando por todos os seus processos, desde a alimentação do gado, checando tudo na cozinha, conversando com a equipe sobre o cardápio.

Como diretora de criação, gerenciar a equipe na agência também fazia parte do meu dia a dia. Talvez você esteja pensando que esse processo só valha para um diretor ou diretora, mas se você for um redator, diretor de arte, produtor, mídia, também tem um processo criativo até chegar no “prato principal”, ou melhor, na entrega do seu job.

Como você alimenta o seu repertório? Onde você está buscando suas pesquisas? O que você está lendo, vendo, ouvindo?

Não é fácil lidar com o fator tempo e ter ideias. Mas, você realmente não vai ter uma entrega razoável se continuar apenas insistindo em ser só isso ou aquilo. Se você não começar a juntar as coisas, nada se completa, não se forma algo interessante pro seu job. Amplie sua visão, investigue as coisas. Não é porque você é um redator que você não possa conversar e entender de mídia, e vice-versa. Olhe aí a defesa do seu plano ficando melhor quando você aprende uma técnica de copy.

Como disse Rod Judkins, em seu livro A Arte da Criatividade, você tem que produzir cem ideias e provavelmente uma delas será ótima. As primeiras são sempre óbvias, e você se apega a elas (costumo dizer que alguns engravidam dessas primeiras ideias). As próximas 40 ideias serão incomuns e estranhas. As últimas vinte são estranhas e surreais. Mas aí está um lugar onde dificilmente a maioria vai chegar.

“Comandar a cozinha não é difícil porque envolve apenas a estrutura e o planejamento. O difícil é conseguir ver quando se passa do limite com o cliente, e também conseguir ver quando pressioná-lo.” — Magnus

Reclamar de verba, de tempo é uma constante na agência. Eu sei, também já reclamei, confesso. Mas, você já pensou se tivesse um job que não tivesse tempo e nem verba definidos? Você não conseguiria criá-lo, isso é certo. Esse limite te faz encontrar alternativas, buscar outros caminhos e às vezes eles não precisam de verba, são “free”, mas você só vai encontrá-lo se tiver um limite.

“Para qualquer restaurante como este, é muito importante não aceitar as coisas do jeito que são. Mas, na verdade, as coisas pelas quais você se sente intrigado, interessado, e que vai investigar. “O que tem aí? Por que? E se não fizer sentido, o que fazer para torná-las melhor” — Magnus

Estou sempre em busca de novas maneiras de alimentar a minha criatividade, para acrescentar no meu trabalho, como ideias para copiar, investigar, testar, refazer, reproduzir, produzir, criticar, discordar.

Como diz Charles Watson: “não é inspiração que gera trabalho. É o trabalho que gera inspiração”. Eu acredito nisso.

Agora vai lá ver (ou rever) o episódio e depois me conta o que você aprendeu com ele.