Um café e outras referências
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Um café e outras referências

Se a gente pudesse sentar para conversar, a primeira coisa que ia dizer era: vamos beber um café? Acompanhado de um pão de queijo seria melhor ainda, uai.

Bruna Richard
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Se a gente pudesse sentar para conversar, a primeira coisa que ia dizer era: vamos beber um café? Acompanhado de um pão de queijo seria melhor ainda, uai. 

Oi! Eu sou a Bruna Richard, diretora de criação. Já deu para perceber que sou mineira, adoro conversar, beber café e comer pão de queijo. Em 2002, me mudei para Brasília, e logo no ano seguinte, junto com dois sócios fundamos a fullDesign, uma agência de publicidade, talvez você já até tenha ouvido falar.

De lá para cá, muita coisa mudou na publicidade. Começamos com uma agência de internet e naquela época a gente podia dizer que "aquilo tudo era mato". Agora eu acabo confessando a minha idade, 40 e contando, rs. Começamos como uma agência digital, mas logo percebemos que o mercado precisava de algo mais e lançamos o conceito de Comunicação Integrada, uma agência que integraria tudo, ON e OFF. Crescemos, ganhamos mais de 15 prêmios, fizemos muitas coisas legais. Em janeiro de 2021, vendi minha participação na agência, que estava no seu melhor momento. Depois de 18 anos era hora de alçar outros voos. Projetos pessoais que estavam engavetados, agora estão sendo desempoeirados. Vi no Service Design, a graduação que estou fazendo agora, uma evolução do meu trabalho como diretora de criação. O design de serviço coloca o usuário no centro e analisa qual a melhor forma do produto ou serviço interagir com ele. Um processo amplo, estruturado, analítico e inteligente. 

De tudo que eu fiz na full, tenho muito orgulho. Dos clientes que atendi e os colaboradores que fizeram parte da minha equipe, hoje são meus grandes amigos. Isso prova que o trabalho foi bem feito. O valor disso? Nem "aquele" cartão de crédito paga!

O mercado nunca esteve tão exigente, quem brincar fica para trás. Só vai ficar de pé quem, de fato, souber o que está fazendo. Isso vale para qualquer área, não é só o mercado publicitário não. Como se destacar? Quem souber resolver problemas. Essa é a profissão do futuro: resolvedor de problemas. Aquele que souber entender o que o usuário precisa e souber resolver da melhor maneira possível. Mas, você deve estar pensando, isso todo mundo faz né, Bruna! Não, não faz. Muitas agências supõem. Muitos clientes pensam que sabem dizer o problema no briefing e nesse ínterim surgem campanhas que o público não se identifica. No final, a verba foi gasta e o problema do cliente continua.

Analisar sobre a ótica do usuário, ter empatia, não é "supor" o que o usuário precisa, é chamá-lo e perguntar o que ele quer, como ele quer, como ele usa seu produto ou serviço. Não é adaptação. As pessoas não são deficientes, é o seu produto que não está preparado para o seu cliente. Imagine uma TV em um bar com muito barulho, som alto. Para um deficiente auditivo, a legenda é acesso para que ele possa entender o conteúdo, mas, o bartender que está no balcão, de longe, também consegue entender o que está na tela. Um jovem que está com uma dor de ouvido, e não consegue ouvir direito, também terá acesso. Então, o seu conteúdo foi pensado e criado para uma situação permanente, no caso do deficiente auditivo, situacional, do bartender e temporária, do jovem com dor de ouvido. A experiência do usuário precisa estar na estratégia de toda e qualquer empresa. É sobre contar histórias e agora com diferentes realidades. A acessibilidade vai além de um simples ajuste: é uma experiência.

Muito se fala hoje de metaverso, no espaço coletivo e virtual acessível por dispositivos digitais, onde a realidade virtual, aumentada e internet se encontram criando uma nova dimensão. Com a pandemia, foi preciso se reinventar e criar experiências que antes só se conseguia no presencial. A tecnologia está aí, no centro de toda essa revolução das experiências imersivas. A SXSW 2021 trouxe muito desse assunto e várias empresas estão na vanguarda dessas imersões. Vale conferir.

Para se diferenciar no mercado, minha dica de livro é da Youngme Moon: "Diferente, quando a exceção dita a regra". É meu livro de cabeceira. Já li duas vezes e sempre que preciso volto nas minhas anotações para tirar insights. Não é um livro chato de negócios, Moon vai fundo na análise da mesmice, buscando o que faz a diferença na cultura do consumo. Traz cases daqueles que rejeitam as regras de administração em troca de uma abordagem bem ousada. Google, Red Bull, Nintendo, Harley-Davidson e Dove estão nessa lista. Empresas que entenderam que diferenciação não é uma tática, uma campanha publicitária. Diferenciação é uma mentalidade, é uma forma de se pensar.

E por falar em pensar diferente, uma recente adaptação a todo contexto de pandemia, foi a série de terror "Calls", da AppleTV+. Eu diria que você poderia "assistir" apenas usando fones de ouvido, mas como diretora de criação e uma pessoa muito visual que sou, fiquei fascinada pelos grafismos na tela, hipnotizada, eu diria. Então, sugiro que você veja!

O diretor Fede Alvarez produziu a série durante a quarentena, onde os atores ficaram em casa e ele só ouvia a voz de cada um. Como ele mesmo diz: "Sim, Calls até que poderia ser um podcast —e provavelmente se daria bem, tendo em vista o sucesso de podcasts de crime e terror." É fascinante, imersiva e a incerteza do que está acontecendo, porque você imagina cada cena, causa uma intriga. Essa imprevisibilidade, o lapso do tempo e até mesmo a dúvida se algo realmente aconteceu, vicia. Para mim essa foi a coisa mais incrível que vi nos últimos tempos.

E essa nova realidade de ficar em casa, dá a falsa sensação do tempo passar de outra forma, você não acha? Menos tempo para fazer um monte de coisas, ou poucas coisas para fazer e, às vezes a gente não sabe como lidar com o tempo livre. É, meus caros, nem tudo são flores.

Muitos já devem ter se confrontado com um bloqueio criativo. Afinal home office não é brincadeira. Confesso que eu me vi nessa situação e fui buscar algo que me tirasse desse looping do tempo ora meio cheio, ora meio vazio e, do lado um monte de coisas esperando para sair da cachola. 

Tenho mania de procurar qualquer coisa com a palavra criatividade/criativo. E um episódio de um podcast me chamou atenção, ele falava exatamente de bloqueio criativo. 

O podcast é da Nay Menezes que se chama Tô quem eu quero ser, ela cita o livro "Cartas Extraordinárias", organizado por Shaun Usher, e lê a carta 33, de Sol Lewitt para Eva Hesse quando ela pediu socorro para o artista plástico porque passava por um bloqueio. A resposta foi tão incrível que virou um manifesto. Ele foi interpretado por Benedict Cumberbatch, num evento chamado "Letter Live", em Londres. É uma performance tão maravilhosa, que você vai levantar da sua cadeira e bater palmas no final, eu aposto!

De todo esse barulho do mundo, a gente tem que se voltar e também olhar para dentro, mas ser sempre vigilante e humilde, para criar conexões.

Tem uma frase do Daniel Kahneman, autor do livro "Rápido e Devagar. Duas formas de Pensar", que eu gosto muito: "Pensar melhor é importante. Quanto mais representações mentais tivermos sobre um tópico específico, mais conexões que não sabíamos podemos criar e melhores decisões tomaremos no futuro". 

Então, clica no play, ouça o podcast, que tem outros episódios incríveis além desse, veja o vídeo e depois se tiver um tempinho leia o livro com as outras cartas.

E, quem sabe a gente não senta qualquer dia desses para tomar um café e fazer uma conexão com essas ideias aí, hein?