Como a imprensa virou militante
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Como a imprensa virou militante

A coisa é bem mais simples do que parece.  

Rica Perrone08/28/2021
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A coisa é bem mais simples do que parece.  

Imagine você que há 30 anos eu precisava da Globo pra saber o que meu time faria. Que eu não sabia nada sobre meus ídolos sem a TV. Que sem uma revista eu não teria como ser atingido por uma marca. 

Imagine que por todo esse tempo as pessoas que nos informavam o faziam com seus interesses por trás de cada linha sem que pudéssemos notar. 

Veio a internet, as redes sociais, o mundo virou de ponta cabeça. Quem entendeu, tá bem. Quem não entendeu, tá batendo a cabeça na parede. 

Hoje a empresa fala com o consumidor sem pagar por isso. O ídolo fala com o fã e vende direto pra ele o que quiser. O clube com seu torcedor. E as notícias não tem mais dono. 

Basta a notícia surgir que em 2 minutos o planeta todo já a replicou perdendo-se qualquer interesse pelo "furo". 

De nada vale correr atrás da notícia. Hoje, vale correr atrás do clique. E o clique não está na notícia mas sim na manchete. 

A redação que tinha 200 na rua buscando notícias agora tem 10 estagiários replicando as notícias dadas pelas próprias fontes. E outros 30 comentando essa notícia.

A imprensa que vendia notícia se viu perdida e sem alternativa. Passou a vender opinião. Polêmica. Achismos. 

Para isso são precisos personagens. E quanto mais tosco o personagem, mais popular. Num país subdesenvolvido e de ignorantes, popularidade é sinônimo de mediocridade e não de qualidade.

Só se atinge uma massa se você falar no tom que ela é capaz de entender. Massa limitada, ignorância generalizada, conteúdo mediocre para conseguir se comunicar. 

É óbvio demais pra quem se comunica. Mas vergonhoso reconhecer pra quem faz uso desse cenário pra justificar seus ganhos. 

Eu sou da imprensa, embora não transite, não me misture e tenha feito tudo sozinho. Mas ver o que é tão claro pra mim e tão obscuro pra maioria me dá um ódio sem tamanho. 

Não é contra esse ou aquele. É contra a classe em geral, que sequer tem a dignidade de se cobrar por mais critérios, valores, etc. Desde que diga o que quero que digam, vale tudo. E se for meu peixinho, puxo comigo até o topo.

Figuras como Casagrande, entre tantos outros, não teriam a menor chance midiática num país desenvolvido, com noções econômicas básicas e clareza na intenção política dos comentários.

Aqui, num mar de analfabetos funcionais, falam pra massas.

Porque é isso que eles entendem. Comentários rasos, polêmicos, fortes, incoerentes, mas absolutamente alinhados com os colegas que determinam quem pode ou não falar. 

Veja o Felipe Neto. Ganhou o Brasil falando uma coisa, ganhou a mídia mudando radicalmente o discurso. São opostos. Ou você tem o povo, ou você tem a mídia.

E mídia, hoje, não se limita a imprensa. Qualquer famoso se tornou mídia por ter microfone e público. Especialmente os covardes que falam com propriedade sobre assuntos que não dominam. 

Mas te dominam. E é isso que importa. 

Por trás de cada linha há uma vontade pessoal. Por trás de cada julgamento, cancelamento ou endeusamento, há um interesse. 

E por trás de um país perdido, injusto, incoerente e que deturpa até mesmo as vontades do povo em nome da democracia, há um bando de filho de puta. 

Se banca. Se manca. Se informe sozinho. Ou será mais um gado. E gado, pra quem não sabe, é conduzido por cachorro. 

Cachorro late. As vezes morde. Mas na maioria das vezes, quando o portão está aberto, abana o rabo. Não tenha medo. Eles são minoria, mas gritam. Se fazem fortes. 

Mas não são. São apenas exemplares de que o poder - mesmo que de um microfone - mostra quem é quem. 

RicaPerrone

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