A coisa é bem mais simples do que parece.
A coisa é bem mais simples do que parece. | ||
Imagine você que há 30 anos eu precisava da Globo pra saber o que meu time faria. Que eu não sabia nada sobre meus ídolos sem a TV. Que sem uma revista eu não teria como ser atingido por uma marca. | ||
Imagine que por todo esse tempo as pessoas que nos informavam o faziam com seus interesses por trás de cada linha sem que pudéssemos notar. | ||
Veio a internet, as redes sociais, o mundo virou de ponta cabeça. Quem entendeu, tá bem. Quem não entendeu, tá batendo a cabeça na parede. | ||
Hoje a empresa fala com o consumidor sem pagar por isso. O ídolo fala com o fã e vende direto pra ele o que quiser. O clube com seu torcedor. E as notícias não tem mais dono. | ||
Basta a notícia surgir que em 2 minutos o planeta todo já a replicou perdendo-se qualquer interesse pelo "furo". | ||
De nada vale correr atrás da notícia. Hoje, vale correr atrás do clique. E o clique não está na notícia mas sim na manchete. | ||
A redação que tinha 200 na rua buscando notícias agora tem 10 estagiários replicando as notícias dadas pelas próprias fontes. E outros 30 comentando essa notícia. | ||
A imprensa que vendia notícia se viu perdida e sem alternativa. Passou a vender opinião. Polêmica. Achismos. | ||
Para isso são precisos personagens. E quanto mais tosco o personagem, mais popular. Num país subdesenvolvido e de ignorantes, popularidade é sinônimo de mediocridade e não de qualidade. | ||
Só se atinge uma massa se você falar no tom que ela é capaz de entender. Massa limitada, ignorância generalizada, conteúdo mediocre para conseguir se comunicar. | ||
É óbvio demais pra quem se comunica. Mas vergonhoso reconhecer pra quem faz uso desse cenário pra justificar seus ganhos. | ||
Eu sou da imprensa, embora não transite, não me misture e tenha feito tudo sozinho. Mas ver o que é tão claro pra mim e tão obscuro pra maioria me dá um ódio sem tamanho. | ||
Não é contra esse ou aquele. É contra a classe em geral, que sequer tem a dignidade de se cobrar por mais critérios, valores, etc. Desde que diga o que quero que digam, vale tudo. E se for meu peixinho, puxo comigo até o topo. | ||
Figuras como Casagrande, entre tantos outros, não teriam a menor chance midiática num país desenvolvido, com noções econômicas básicas e clareza na intenção política dos comentários. | ||
Aqui, num mar de analfabetos funcionais, falam pra massas. | ||
Porque é isso que eles entendem. Comentários rasos, polêmicos, fortes, incoerentes, mas absolutamente alinhados com os colegas que determinam quem pode ou não falar. | ||
Veja o Felipe Neto. Ganhou o Brasil falando uma coisa, ganhou a mídia mudando radicalmente o discurso. São opostos. Ou você tem o povo, ou você tem a mídia. | ||
E mídia, hoje, não se limita a imprensa. Qualquer famoso se tornou mídia por ter microfone e público. Especialmente os covardes que falam com propriedade sobre assuntos que não dominam. | ||
Mas te dominam. E é isso que importa. | ||
Por trás de cada linha há uma vontade pessoal. Por trás de cada julgamento, cancelamento ou endeusamento, há um interesse. | ||
E por trás de um país perdido, injusto, incoerente e que deturpa até mesmo as vontades do povo em nome da democracia, há um bando de filho de puta. | ||
Se banca. Se manca. Se informe sozinho. Ou será mais um gado. E gado, pra quem não sabe, é conduzido por cachorro. | ||
Cachorro late. As vezes morde. Mas na maioria das vezes, quando o portão está aberto, abana o rabo. Não tenha medo. Eles são minoria, mas gritam. Se fazem fortes. | ||
Mas não são. São apenas exemplares de que o poder - mesmo que de um microfone - mostra quem é quem. | ||
RicaPerrone |