Obrigado, Suarez!
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Obrigado, Suarez!

Quando garoto ninguém sonha em jogar futebol pelo dinheiro. Você sabe que sua chance é pequena, que vai abrir mão de muita coisa e tudo isso é movido por um sentimento genuíno que mistura o amor pelo futebol e a vontade de ser herói. 

Rica Perrone01/11/2022
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Quando garoto ninguém sonha em jogar futebol pelo dinheiro. Você sabe que sua chance é pequena, que vai abrir mão de muita coisa e tudo isso é movido por um sentimento genuíno que mistura o amor pelo futebol e a vontade de ser herói. 

Toda criança sonha em ser super-herói. Eles existem e quase todos eles usam chuteiras e não capas. 

A gente quer jogar no time do pai, orgulhar a família, ganhar dinheiro, é claro, mas principalmente ser o super-herói. 

Os anos passam, a bola entra, o dinheiro chega, a mídia te massacra e te exalta na mesma proporção e velocidade. Você perde a noção das coisas, passa a ter o que não estava preparado pra ter, vive um sonho diário que beira o pesadelo todo domingo.

E então um dia você nota que ficou muito rico, que fez muitos gols, que muita gente te ama, que sua família tem orgulho de você e nota que, ainda assim, falta alguma coisa.

É o garoto gritando dentro de você. 

O super-herói não serve pra nada se não puder salvar gente na sua cidade. Ninguém quer ser herói do outro lado do planeta sem que os seus possam ver seus feitos. O super-herói, por mais que seja ovacionado por milhões, quer mesmo é o abraço do pai e dos amigos. 

Ser herói dos outros é legal. Dos seus, inestimável. 

Suarez tem mercado. Tem propostas. Tem um país na América do Sul - o nosso - que pode pagar por ele.  Mas o garoto falou mais alto.

Ele quer ser herói no Nacional. O gigantesco Nacional que hoje não anda bem das pernas, mas ainda assim um dos maiores clubes do planeta. 

Suarez escolheu ir pra casa. O Batman nunca salvou Tóquio. Sempre foi Gotham City. 

Os meninos que hoje brilham na Europa sabem que não há nada que você não compre com 20 milhões que passe a comprar com 22. 

Entre ser o herói da sua gente e juntar mais um trocado, Suarez soube o que fazer.

Entre ter e ser, Suarez escolheu ambos.

Entre ouvir um "meu pai te adorava"  no seu bairro daqui 20 anos e ler uma nota de rodapé recordando algum lance histórico dele lá em outro continente, fez a escolha certa.

O adulto é capaz de fazer as melhores escolhas. Mas contrariar o garoto não é uma escolha. 

Parabéns, Suarez. Que isso lembre os milhares de ídolos do futebol que nunca foi só por dinheiro. E nem poderia.

RicaPerrone

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