Se você ainda não entendeu, ainda dá tempo
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Se você ainda não entendeu, ainda dá tempo

Nossa profissão é a mais arrogante do mundo. Quando se forma um jornalista na verdade sai da faculdade alguém que sabe colocar virgulas. O que vai entre elas não tem qualquer aula sobre. 

Rica Perrone08/06/2022
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Nossa profissão é a mais arrogante do mundo. Quando se forma um jornalista na verdade sai da faculdade alguém que sabe colocar virgulas. O que vai entre elas não tem qualquer aula sobre. 

Mas saímos e achamos que somos treinadores, médicos, advogados, juízes, policiais, entre outros.

Não somos. 

Jô era humorista. E dos bons. Genial, eu diria. A nova geração talvez só o conheça como entrevistador, mas antes disso ele nos fez morrer de rir. 

Hoje nos deixou. E deixou uma lição que muito burro diplomado ainda não entendeu. E por consequência tanta gente acha que é um erro. Mas é apenas inteligência.

Quando você entrevista alguém o que você quer? Ouvi-lo. Imagino. 

Jornalistas tem o péssimo hábito de achar que representar o povo e entrevistar com maldade, cara feia ou perguntas agressivas é um bom jornalismo. É marketing. 

Quando um jornalista entrevista alguém ele tem duas alternativas: ser a ferramenta ou ser a estrela da entrevista. A opção de aparecer mais do que o entrevistado ou considerar sua postura mais relevante do que permitir a dele, é a opção megalomaníaca. 

A outra é a de você criar um bom ambiente, receber sorrindo, falar de coisas boas e chegar onde você quer enquanto ele ri e solta os braços, antes tensos por não saber o que encontraria.

E ali sim, ele fala. Se você gosta ou não do que ele fala, problema seu. Mas o objetivo é que ele fale. E Jô foi o sujeito que tirou a cara feia, o ambiente tenso da entrevista e fez disso um bate papo que tirou as melhores entrevistas das últimas décadas. 

Jô mudou nosso conceito. Muitos não entenderam ainda. Mas basta ver quantas vezes o entrevistado te deu algo pressionado e acuado e quantas te deu sorrindo. 

Jô era gênio. Misturava humor, jornalismo e entretenimento com sua cultura sem igual. 

Numa era onde o jornalismo se perde entre ser humoristico, sensacionalista, bobo, militante ou vazio, Jô acho que nem fez jornalismo. Mas fez história e diferença nele. 

Comunicador não se faz na faculdade. Ou você é ou não é. 

Jô era o que ele quisesse. Porque podia. 

Apresentador, entrevistador, humorista, roteirista, escritor, diretor... 

E gordo! O nosso adorável gordo que nos dava boa noite todo dia.

Vá em Paz, Jô.  Sorte de quem entendeu, azar de quem não notou. Mas você nos ensinou muito mais que 4 anos de faculdade. 

RicaPerrone

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