Imagine reunir uma série de bilionários em torno de um mesmo negócio.
Imagine reunir uma série de bilionários em torno de um mesmo negócio. | ||
Imagine que dentre eles estão o maior investidor do mundo Warren Buffett e o homem mais rico do Brasil, Jorge Paulo Lemann. | ||
Imagine agora que eles traçaram um plano para conquistarem o mercado de alimentos em todo o mundo.... | ||
Bom.... isso aconteceu.... só que não do jeito que foi planejado... | ||
Essa foi a saga da Kraft-Heinz, a gigante dos alimentos que prometeu conquistar o mercado, mas que ainda está longe disso... e que agora luta para continuar de pé... | ||
Considerada como um fracasso bilionário de Lemann e Buffett, a Kraft Heinz surgiu de um ousado plano de concorrer com gigantes do mercado de alimentos como Pepsico e Unilever. | ||
O primeiro movimento surgiu quando o maior investidor do mundo se juntou com os brasileiros do grupo 3G Capital – a reunião dos bilionários brasileiros Jorge Paulo Lemann, Carlos Alberto Sicupira, Marcel Telles e Alexandre Behring. | ||
Reunidos eles compraram a Heinz, tradicional empresa americana que dominava o mercado internacional de molhos e enlatados, e que é responsável pelo ketchup mais famoso do mundo. Cujo a história já foi contada em nosso canal. | ||
A operação feita em 2013, custou cerca de 20 bilhões de dólares. | ||
Porém, assim como décadas antes o Grupo 3G conseguiu transformar a cervejaria Brahma no embrião do que hoje é o grupo AB INBEV, a maior cervejaria do planeta; havia o objetivo entre os bilionários de usar a Heinz para dar início a um colosso alimentício. | ||
Dessa forma, assim como na década de 90, eles uniram a Brahma e Antártica; em 2015, eles decidiram dar início a uma ousada operação de fusão para contarem com a também americana Kraft, responsável por uma série de produtos alimentícios, dentre eles uma famosa linha de queijos processados com o mesmo nome. | ||
A operação movimentou 10 bilhões de dólares, que saíram dos bolsos dos sócios. E deu origem à Kraft-Heinz, uma empresa avaliada em 48 bilhões de dólares na época, com mais de 200 marcas e disponível em quase 200 países. | ||
Além das já citadas, o conglomerado também conta com marcas conhecidas como os sucos Tang e o queijo cremoso Filadélfia. | ||
E pouco tempo antes da fusão, a Heinz já havia comprado a Quero, empresa brasileira de molhos e enlatados. | ||
No momento da fusão, a Kraft Heinz se tornou a 3ª maior marca do setor americano de alimentos e a 5ª maior do mundo no setor. | ||
A partir daí, a operação passou a ser tocada pelo grupo 3G, que decidiu implementar o mesmo modelo de gestão que já havia sido aplicada em outras empresas administradas por eles, como a AMBEV e a rede Burger King. | ||
Com uma mentalidade considerada espartana, o grupo instituiu o chamado Orçamento Base Zero, que visa um intenso corte de custos e um planejamento com base na otimização dos recursos. | ||
Dessa maneira, a fusão das empresas tinha como objetivo não só consolidar uma grande fatia do mercado, mas também criar uma sinergia; de modo que a junção das empresas daria origem a um conglomerado mais rápido, enxuto e claro, mais lucrativo. | ||
Com esse objetivo, foram escalados alguns membros de confiança do grupo brasileiro como Bernardo Hees e Alex Behring. | ||
E nos primeiros anos, a metodologia 3G foi aplicada à risca, com a eliminação de uma série de custos considerados desnecessários e também com um grande número de demissões; uma vez que se entendia que com a fusão das empresas, era possível fazer o mesmo trabalho ou até mais, com uma quantidade menor de empregados. | ||
Uma estratégia que a princípio deu resultado e se mostrou acertada, a ponto de o grupo anunciar um passo extremamente ousado – uma oferta agressiva para a compra da Unilever em 2017. | ||
A oferta de incríveis 143 bilhões de dólares planejava criar uma gigante do mercado alimentício, a exemplo do que havia sido feito nos anos 2000 quando a AMBEV se juntou à belga Interbrew, formando a INBEV; que por sua vez comprou a americana Anheuser Busch, dona da Budweiser, formando a AB Inbev. | ||
Entretanto, apesar do valor substancial, a Unilever rejeitou o acordo, uma vez que segundo ela – a oferta não traria benefícios a empresa e nem a seus acionistas. | ||
E a negativa deu abertura para uma série de notícias desastrosas para a gigante... que de uma estrela potencial passou a uma empresa sob dúvidas e em sérias dificuldades. | ||
Primeiro, enquanto se preocupava exclusivamente em cortar custos e adquirir empresas semelhantes, a Kraft Heinz se preocupou mais consigo mesma do que com as necessidades e reações do mercado consumidor. | ||
Enquanto apostou em aumentar a lucratividade de seus próprios produtos, a empresa deixou espaço para que as concorrentes conquistassem outros nichos de mercado que a empresa não estava enxergando – como alimentos mais saudáveis e opções de nicho sustentáveis, como produtos veganos, por exemplo. | ||
Conquista dos concorrentes que aconteceu tanto pela inclusão de novos produtos e marcas, tanto pela aquisição de empresas menores e inovadoras. | ||
Em paralelo, mesmo cortando custos, as marcas e produtos do grupo não possuem alto valor agregado, e estão em constante batalha de preços com as concorrentes. | ||
Para completar, seus produtos são de fácil reprodução por parte dos concorrentes, o que abriu espaço, por exemplo, para marcas genéricas e até mesmo as marcas in house, que são aquelas com bandeiras dos supermercados... os mesmos que também vendem os produtos da Kraft Heinz. | ||
O que permitiu com que na prática, as pessoas possam encontrar, por exemplo, queijos processados com a marca do supermercado, com qualidade muito semelhante ou idêntica à dos produtos da gigante, por um preço menor. O que imediatamente tira clientes da gigantes. | ||
Isso, porque, as marcas da casa ou genéricas se preocupam mais em ganhar com o volume de produtos vendidos do que com a pequena margem gerada pelo prestígio e a fama das grandes marcas. O que muitas vezes obriga as marcas a reduzirem ainda mais suas já apertadas margens. | ||
Nessa batalha, grande parte dos consumidores mundo afora passou a optar pelas alternativas em relação aos produtos de marca, especialmente da Kraft-Heinz; um movimento que prejudicou e muito a gigante, que não tem para onde ir dentro destes mercados -a não ser descer para a briga de preços. | ||
E além de sofrer com a queda nas vendas, a gigante até então não conseguiu colocar no mercado outros produtos que lhe concedessem destaque no mundo dos alimentos. | ||
Dessa maneira, do ponto de vista do mercado, a Kraft Heinz rapidamente começou a perder vendas e espaço de mercado. Um movimento que está a prejudicando muito nos últimos anos. | ||
Para complicar ainda mais, as contas da empresa foram colocadas sob suspeita. O que rendeu uma investigação das autoridades americanas sob suposta fraude contábil. | ||
Denúncia que mostrou que havia sim um erro grave nos números da gigante, entre 2015 e 2018, que indicavam custos mais baixos do que realmente eram; e que assim resultavam em lucros contábeis maiores do que a empresa realmente tinha. | ||
O que rendeu uma multa de 62 milhões de dólares e uma correção no balanço da empresa, anunciados em 2019. | ||
A operação foi encarada pelo mercado como um escândalo e derreteu o valor das ações da empresa. O que fez com que o então CEO da empresa, Bernardo Hees tivesse que deixar o cargo. | ||
O brasileiro foi substituído por Miguel Patrício, português que teve uma passagem bem-sucedida pela AB Inbev e que comanda o negócio até hoje. | ||
Dificuldades que fizeram com que o próprio Buffett chegasse à conclusão de que o valor de 10 bilhões de dólares pagos pelo Grupo para contar com a Kraft havia sido um preço muito acima do real valor da empresa – uma aposta errada que colocou mais um problema para a gestão do negócio. | ||
E assim, além de todas as dificuldades operacionais, a empresa também passou a conviver com problemas de endividamento, uma vez que as dívidas da empresa somam mais de 31 bilhões de dólares. | ||
Eventos adversos que custaram só em 2019, mais de 2,7 bilhões de dólares da fortuna de Buffett, e que também geraram rombos nas fortunas dos bilionários brasileiros – o que fez por exemplo, com que Jorge Paulo Lemann perdesse temporariamente o posto de homem mais rico do Brasil para Eduardo Saverin. | ||
Contudo, o endividamento não é um problema desconhecido para Jorge Paulo Lemann, que revelou que apesar de todo sucesso, a AB Inbev possui mais de 100 bilhões de dólares em endividamento; mas que se trata apenas de um detalhe, visto que a cervejaria já tem alicerces para crescer muito por mais algumas décadas. | ||
Diante desse cenário, para muitos o plano da Kraft Heinz foi um grande fracasso. Além de não conseguir ir além do movimento realizado pela fusão das duas gigantes, a empresa ainda tenta voltar a competir de igual para igual com suas concorrentes, enquanto tenta recuperar suas contas. | ||
Só que apesar dos prejuízos acumulados, Warren Buffett disse que não pretende se desfazer do negócio e continua confiando na capacidade de gestão do grupo brasileiro. Ao todo, o investidor é dono de 27% do negócio. | ||
De toda forma, nos últimos exercícios a empresa conseguiu voltar a lucrar, e deu início a uma nova série de aquisições, como recentemente as brasileiras Hemmer, de molhos e conservas e a empresa de temperos BR Spices e a startup chilena ‘’The Not Company’’, especializada em alternativas veganas; que colocou a gigante em uma nova vertente. | ||
Movimentos que mostram que a gigante está correndo atrás do tempo perdido e tenta voltar a rota para consolidar o plano dos bilionários. E agora restam as perguntas... | ||
Será que a Kraft Heinz vai voltar a brilhar e conquistar ainda mais o mercado mundial? | ||
Será que os bilionários vão acertar mais uma vez? | ||
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