Quando usar a Jornada do Herói?
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Quando usar a Jornada do Herói?

Rodrigo Portaro
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🎬 Olá storytellers!

VAMOS AO QUE INTERESSA

Para quem não conhece, a Jornada do Herói, também chamada de "monomito", consiste em uma metodologia desenvolvida por Josef Campebell que possui 12 passos para construir uma história. Muito utilizada por muitos roteiristas, mas também muito utilizada em RPG's, Games e até no mundo corporativo. 

Não vou explorar neste artigo como usar a metodologia, mas QUANDO usá-la ou não. 

Apenas relembrando os 12 passos:

  • O mundo comum
  • O chamado para a aventura
  • Recusa do chamado
  • Encontro com o mentor
  • A travessia do primeiro limiar
  • Provas aliados e inimigos
  • Aproximação da caverna secreta
  • A provação
  • A recompensa
  • O caminho de volta
  • A ressureição
  • O retorno 

Lembrou?

Então "vambora"!

Inspirado em uma fala de Rober Mckee, que foi nosso sócio na The Plot Company, bem como das leituras de Campbell e observações sobre como a metodologia vem sendo utilisada,  explorei de onde surgiu o padrão da Jornada do Herói e o erro que as pessoas cometem de maneira muito comum ao usar a metodologia para escrever histórias. 

❓DE ONDE VEIO O PADRÃO?

Campbell era uma mitólogo, antropologista, que não gostava do cristianismo e que amava cegamente suas aspirações espirituais existentes nos mitos antigos. Ao estudar esses mitos, ele reparou um padrão repetitivo na estrutura das histórias em que esses mitos eram contados e foi muito feliz de perceber que essa estrutura funcionava. 

🇫🇷  A origem do padrão não se sabe ao certo. Os Franceses defendem que a repetição do padrão ao longo de séculos e talvez milênios, talvez tenha acostumados criadores e audiências a "receber" o padrão com satisfação. Quando fugimos dele, isso soa estranho. O último episódio de Game of Thrones é um exemplo de como uma audiência fica insatisfeita quando o padrão não é repetido (onde os protaognistas aprendem algo). Existem também uma teoria que defende que o padrão está no inconsciente coletivo e por isso traz satisfação para a aduiência.  

🤷O que Joseph Campbell não fez foi testar sua teoria contra os gregos. A pscicologia e a moralidade implícita na mitologia grega é tão complexa, que certamente não se encaixaria dentro de nenhum padrão. Os Gregos entendiam a natureza humana. Outros povos do passado eram idealistas enquanto que os gregos era REALISTAS. E isso implica em uma forma completamente diferente de ver a vida. 

SEPARANDO O JOIO DO TRIGO

🚫O erro comum que existe é chamar o padrão encontrado na Jornada do Herói de "história". Esse é um erro categórico de chamar "a parte" de "o todo". A Jornada do Herói não é sinônimo de história. Ela é um subgênero de histórias Ação e Aventura dentro de um universo muito maior e complexo que é a história.

Quando a usamos pensando ser uma ferrmenta que nos ajudará a contar uma história, nós deixamos de lado o fato de que ela é apenas um jeito, dentre os milhares possíveis, de se contar uma história. 

🚨Novamente, se estivermos escrevendo uma história de Aventura ou Ação, a Jornada funciona muito bem. Como criadores de história, o próprio nome da metodologia deveria servir de alerta:

🤯 A vida não é uma Jornada e nós não somos Heróis. 

 Seres humanos não são heróis:

As pessoas são apenas seres humanos. Não são heróis. Heróis estão dispostos a se sacrificar sua própria vida por uma causa. Já a maioria dos seres humanos fogem!

😰Seres humanos só lutam se estiverem encurralados. A maioria das pessoas no mundo só estão se esforçando para passar pelo seu dia sem muitos problemas, fazendo o melhor que podem com aquilo que eles possuem naquele momento. Eles não são heróis. Não faz sentido nenhum tratar todo e qualquer personagem como herói.

Até que muitas vezes é heróico sobreviver a nossa vida comum, mas praticamente ninguém está dispoto a se sacrificar por um desconhecido na rua. Fazemos isso, no máximo, pela nossa família. E olhe lá!

A vida não é uma jornada

Uma jornada é você sair de São Paulo e ir para o Rio de Janeiro de avião, chegar lá e está tudo certo.

🥵Já a vida é difícil de ser vivida, é um esforço passar por ela. Uma viagem de São Paulo para o Rio de Janeiro, seria de ônibus, em plena sexta feira de chuva, com a Marginal Tietê alagada e você vai se atrasar para o momento mais difícil da sua vida que é se despedir da sua mãe que acabou de falecer.

A vida é um esforço contante e dinâmico, com altos e baixos, onde o protagonista tenta encontrar uma forma de viver a vida com mais significado e felicidade. A vida é dura.

🤔Chamar a vida de jornada é um eufemismo, que pretende suavizar o que é a verdade da vida. A jornada nos remete a uma fuga da realidade, onde as coisas acontecem, sempre da mesma forma, para que no final entreguemos para a audiência àquilo que a vida normalemnte não nos dá.

A vida não é uma jornada. 

UMA HISTÓRIA É UM ESPELHO PARA A VIDA

Se histórias são um espelho para a vida como ela é, você já deve ter percebido que a Jornada nem sempre vai funcionar. Por exemplo, quando acontece o chamado para a aventura, e em seguida acontece a recusa ao chamado, nós percebemos que NEM SEMPRE é assim. Muitos protagonistas entendem de primeira que precisam agir, pois estão enrascados. 

Indo além, nem sempre pessoas comuns estão em busca de algo. Filmes como O Cheiro do Ralo, com Selton Melo é um exemplo de história onde o protagonista não está indo para lugar algum. Ele está vivendo sua vida, com suas obcessões, sua rotina e ponto.

😯Reparem que uma vida sem buscas altamente significativas também são um espelho para a vida de muita gente. 

A jornada do herói, nem sempre é um espelho para a vida e, principalmente, não é o único espelho para a vida. 

❓MAS SERÁ QUE NÃO FUNCIONA?

Não sei quantos de vocês sabem. Geroge Lucas teve consultoria muito próxima de Joseph Campbell para escrever a primeira trilogia de Star Wars. Eles tinham longas conversas e Campbell frequentava a Lucas Films. E o sucesso da trilogia é evidente!

Talvez isso traga boas evidências de que a metodologia pode ser muito útil quando se trata de gêneros de ação ou aventura, onde a Jornada do Herói e a fuga da realidade é aceitável. Então, é claro que pode funcionar!

Ao mesmo tempo, muitos escritores tentaram e ainda tentam usar a estrutura da Jornada do Herói, mas não conseguem criar uma boa história. Muitas vezes, tentamos olhar para uma história e ver se ela se encaixa na Jornada do Herói e temos dificuldade. Pois nem sempre uma história segue os padrões da jornada. Então, nem sempre funciona.

OS FUNDAMENTOS DE UMA BOA HISTÓRIA

Você percebe que o segredo não é a metodologia?

🤓 A metodologia, pode ser um guia, mas se você não está atento à natureza humana, se não reflete sobre os comportamentos humanos em situações difíceis, sobre seus valores em conflito, se não entende os fundamentos que guiam a nossa vida, provavelmente você não consegue criar uma boa história.

Para quem quer ter algum apoio no momento de criar uma história, busque se apoiar nos fundamentos de uma boa história e na ESTRUTURA CLÁSSICA de atos.

A Jornada do Herói está dentro da estrutura clássica de 03 atos de uma história. Essa esturtura basicamente implica que a história seja sobre alguém, que no início da história vive algo que tira sua vida do equilíbrio, nesse momento se disparam desejos conscientes e inconscientes, e sua luta para chegar ou não nos seus desejos deve ser dura. Nessa trajetória, ele precisa aprender alguma coisa que seja útil para a audiência viver a vida. 

Reparem que a Jornada do Herói se encaixa nisso, mas ela acaba indo além, estabelecendo 12 passos que não necessariamente aonctecem. E eis aí o equívoco. 

⚠️Disclaimer: Só para deixar claro, a estrutura clássica é a mais utilizada no cinema, principalmente em Hollywood, é a que mais "vende", é a que mais traz satisfação para a audiência, mas mesmo assim é uma forma de ver a vida (bem mais ampla que a jornada do herói, mas mesmo assim não engloba todas as formas de ver a vida). O Cheiro do Ralo também foge à essa estrutura. 

💡O MEU CONSELHO

Estude a Jornada do Herói, principalmente se você for escrever Ação ou Aventura. Ela funciona muito bem, e é possível fazer uma carreira como roteirista só usando a Joranda. Mas em ordem de se tornar um roteirista de outros gêneros, não se apegue à ela. Seus personagens não são heróis e seus perrengues não são jornadas. 

Como uma matáfora para o esforço que existe em um personagem querer mudar, como uma metáfora para criar uma dinâmica de causa e efeito, de altos e baixos, ela funciona bem. Mas isso ainda é tão genérico que é basicamente inútil.

Frases como essa, jornada do herói, separam você da realidade, e como um(a) escritor(a) isso é muito perigoso. 

⚠️Sobre a construção deste conteúdo: 

  • Horas para ser produzido: 04 horas
  • Revisão: 01 revisão de terceiros
  • Pesquisas e Leituras: Livro "A hero os a thousand faces" , vídeos de Robert Mckee, leituras de materiais sobre a relação de Campbell com George Lucas e outros materiais aleatórios. 

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Rodrigo Portaro é Fundador da Academia da Trama que cria soluções para criadores de histórias do mundo do entretenimento a pensarem suas histórias como negócios. Rodrigo também é sócio conselheiro  da The Plot Company que teve Joni GalvãoRobert Mckee como sócio (o cara que ajudou a Pixar a escrever Toy Story e mais de 60 alunos a vencer o Oscar).