Storytelling | Como a Pixar agrada adultos e crianças?
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Storytelling | Como a Pixar agrada adultos e crianças?

Como a Pixar cria filmes para adultos e crianças ao mesmo tempo?

Rodrigo Portaro
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Todo mundo sabe que os filmes da Pixar são feitos para crianças mas também para adultos. É evidente que eles tratam de assuntos complexos demais - até mesmo para adultos - como é o caso de Soul.

Agora, você sabe como é possível fazer uma história não ser o que parece? Como criar uma história que fala com crianças, mas também com adultos? É sobre isso que vamos falar hoje. 


Criatividade é fácil, difícil é arriscar

A parte de divertir as crianças é fácil. O mundo da animação nos permite criar novos universos, explorar a vida de diferentes maneiras. Podemos dar vida para um carro, podemos transformar peixes e brinquedos em humanos, e o céu é o limite. Mas tem algo que a Pixar faz, que ninguém faz: só trabalhamos com ousadia.

  • Imaginem antes de ratatouille ganhar vida, se a Disney toparia fazer um filme de um rato numa cozinha! Jamais, pois as pessoas achariam nojento. É contraditório. Mas a Pixar fez. 
  • Ou então, imagina fazer um filme para explicar as emoções para uma criança! E a Pixar criou as ilhas das emoções e uma central de controle. 
  • Ou quem sabe criar um filme para explicar a nossa alma, o nosso propósito para uma criança! E a Pixar criou Soul. 
  • Que tal começar um filme para crianças com os primeiros 20 minutos sem fala alguma de nenhum personagem? E eles criaram Wall-e. 

Isso sim é difícil. Para criar histórias com ousadia, é preciso coragem, trabalho duro e confiança de que os valores universais farão as as pessoas se empatizarem por qualquer personagem em qualquer situação. Falaremos mais sobre Valores universais. 

🤨Portanto, agradar as crianças não é o grande desafio. A pergunta é como agradar crianças e adultos ao mesmo tempo? Vamos ver!

🧑‍🎨 O estado da arte

Quem não é capaz de enxergar a vida como um filme, não consegue pensar em forma de história e, consequentemente, não consegue formularcontar histórias. As pessoas que trabalham na Pixar conseguem enxergar a vida como um grande universo de histórias, e por isso conseguem contar histórias incríveis. 

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No nosso dia a dia nós também contamos histórias, é verdade. Mas quando falamos de filmes, falamos sobre o estado da arte de contar histórias. É um nível surpreendente e imersivo a ponto de nosso cérebro não diferenciar mais o que é ficção do que é realidade. Por uma hora e quarenta minutos, nós SOMOS aqueles personagens na tela. Nós sentimos suas dores e alegrias, como se fossemos nós mesmos vivendo a nossa vida. 

🎥 Show don't tell

Uma ação vale mais do que mil palavras, não é verdade? Um filme é construído dessa forma: uma ação atrás da outra. Quantas palavras eles não valem, não é mesmo Uma exemplo simples disso é quando vemos Woody em Toy Story 1 joga Buzz Lightyear da janela no início do filme - por ciúmes.

Nós entendemos uma série de coisas que não são ditas nessa cena. Nitidamente Woody está com ciúmes e não sabe lidar com a chegada de um brinquedo legal de maneira madura. Podemos ver até maldoso em seu olhar. Sem precisar dizer algo como "vou acabar com ele" ou "esse cara precisa sair da minha vida", ele diz com sua ação. 

🥸 Uma cena e mil possibilidades

Quando assistimos um filme, nós vemos apenas o que somos capazes de enxergar com os recursos que temos naquele momento. Ou seja, analisando a mesma cena de um filme, cada pessoa pode enxergar algo diferente de acordo com o seu modelo de mundo. O modelo de mundo de uma criança pequena e de um adulto são completamente diferentes, certo? Provavelmente, eles enxergam uma mesma cena e atribuem significados muito diferentes para ela. Então vamos analisar a cena a seguir:

Para mostrar como as visões podem ser muito diferentes, vou mostrar a minha visão sobre essa cena: "A chegada de uma adorável garotinha no mundo dos monstros. Depois de estabelecer o quanto os monstros têm medo de humanos, usar algo inofensivo como ameaça é uma maneira brilhante de começar sua história. A pior situação possível agora é uma realidade e nosso herói, Sulley, deve convocar seu amigo para consertá-la antes que alguém descubra o acontecido". 

Certamente, a maneira como eu vejo essa cena pode ser diferente de uma criança. Talvez ela enxergue uma cena divertida, engraçada e com certa tensão. Uma criança pode estar preocupada com o rabo colorido de Sulley ao invés do contexto geral do filme, por exemplo. 

⚠️é importante dizer: Não existe a maneira certa ou errada de enxergar uma cena. Cada um enxerga uma coisa diferente de acordo com seu modelo de mundo.

Por outro lado, normalmente, adultos conseguem enxergar o contexto da cena com muito mais profundidade e complexidade do que uma criança, dado suas experiências passadas e sistema de crenças e valores. 

♾ Possibilidades infinitas

🧐Os filmes da Pixar são "recheados" de cenas profundas e complexas, com muito subtexto e cenas subliminares. Há quem enxergue no início do filme, um Sulley precisando ter mais empatia pelas crianças, mas também precisando ser mais humilde e empático perante seus amigos e pessoas ao seu redor. Se olharmos desta maneira, é algo que adultos vivem/enfrentam todos os dias. Uma criança, não entende isso, pois talvez ainda esteja aprendendo o que é empatia. 

✅Essa possibilidade infinita de dizer mil coisas diferentes em uma cena só é possível quando trazemos profundidade para a cena. E como trazer profundidade para cena?

❤️ 🤬 Valores Universais

A resposta para esse artigo mais uma vez recai no que chamamos de Valores Universais. Todos os seres humanos na Terra compartilham de muitos valores, tais como: ser amado, ser reconhecido, conquistar, pertencer, ser percebido, enfim. Independente da origem, da religião, das crenças e dos valores, todos nós queremos as mesmas coisas. 

🔥 Quando em uma história, um valor universal é colocado em risco, nós tendemos a querer saber como o(a) protagonista vai lidar com aquele risco. Sempre que um valor universal é colocado em risco, nós trazemos profundidade para a história através de conflitos profundos. 

A Pixar é mestre em identificar os valores universais que a humanidade compartilha e criar histórias com personagens e universos surpreendentes, e criar conflitos profundos. Vamos para alguns exemplos:

  • 🚂Toy Story 1: Woody tem medo de ser substituído pelo Buzz
  • 🤠Toy Story 2: Woody tem medo do Andy crescer e ele perder o sentido da vida como brinquedo.
  • 🧸Toy Story 3: Woody tem medo de ser quebrado ou perder o seu valor ao trocar de dono.
  • 🎡Toy Story 4: Woody tem medo de enfrentar seu destino em uma vida sem dono.
  • 🐀Ratatouille: Remy quer viver seus sonhos de cozinheiro, por mais absurdo que pareça um rato ser um chef de cozinha na França. 
  • 🐠Procurando Nemo: Marlin é um pai com problemas em deixar seu filho viver sua própria vida.
  • 🏹Brave: Uma princesa que não quer deixar de ser quem ela verdadeiramente é.
  • ☠️Coco: Um menino que aprende a importância de manter nossas memórias vivas por mais tempo.   
  • 🚘Carros 1: Um carro de corrida valentão e arrogante que precisa aprender a trabalhar em equipe e enxergar o próximo para ser um verdadeiro campeão.
  • 🤯Divertidamente: Uma menina que precisa aprender a lidar com a complexidade das nossas emoções.

A importância da Pixar para o Mundo 🌎

Todos os trechos em negrito itálico acima são assuntos complexos que a humanidade enfrenta todos os dias. A Pixar cria filmes para nos ajudar com essas questões. Por esse motivo, a Pixar é tão relevante para o mundo. Ela ajuda crianças e adultos a viver.

To be continued...

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Rodrigo Portaro | Sócio fundador da Academia da Trama, Professor de Storytelling e Gamefication da PUC-RS online e Sócio Conselheiro da The Plot Company e do Master Talks.