Storytelling Everywhere | Bohemian Rhapsody
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Storytelling Everywhere | Bohemian Rhapsody

Como a música Bohemian Rhapsody conta uma história?

Rodrigo Portaro
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BOHEMIAN RHAPSODY

Uma das músicas mais conhecidas da história da humanidade, Bohemian Rhapsody é um clássico do Queen que movimentou audiências ao redor do mundo todo e que levou o nome do filme de Freddie Mercury em 2018 interpretado por Rami Malek (que ressuscitou o Rei).

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Em 1985, quando Freddie Mercury emocionou muitos fãs ao tocar no Rock in Rio, Bohemian Rhapsody foi um dos pontos altos, atrás apenas de Love of my life.

Muitas curiosidades interessantes sobre a música, sua história, sua importância, sobre como ela foi criada, podem ser encontradas aqui aqui. 

Mas uma das coisas mais interessantes dessa música, na minha opinião, é que ela conta uma história. É claro que muitos fatores são importantes para que a música tenha sido um sucesso, mas esse é um fato dos mais esquecidos.

O PODER DA HISTÓRIA

O fato de ser uma história torna a música incrivelmente poderosa por alguns motivos, mas destaco 03 deles: 

  • IDENTIFICAÇÃO (do significado que o público dá para a música)
  • IMAGINAÇÃO (facilitada pela trama)
  • REVELAÇÃO (do protagonista)

SIGNIFICADO PARA NOSSA VIDA

Quando ouvimos musicas, principalmente quando estamos sozinhos e prestando atenção nas letras, tentamos encontrar na letra significado para a nossa vida. Quando conseguimos enxergar significado nelas, nossa sensação de que "não estou sozinho"ou de que "alguém me entende", trás muita satisfação e é o que nos faz apaixonar por ela.

Pelo menos para mim, se eu não consigo atrelar nenhum significado da música para minha vida, ela deixa de ser relevante para mim naquele momento. Eu pulo para a próxima e tendo a não ouvi-la por muito tempo. Se ela já teve significado para mim no passado, mas não tem muito significado agora, eu não "jogo ela fora", eu a guardo numa caixinha de "músicas especiais do meu passado", mas também tendo a não ouvi-la com frequência. 

Esse processo de atrelar significado à música só acontece quando existe identificação. Nós só atrelamos significado quando nos identificamos. 

A CONTRUÇÃO DA IDENTIFICAÇÃO

No caso de Bohemian Rhapsody, o processo de identificação se inicia com a apresentação de um protagonista que está vivendo uma vida difícil. Preste atenção no que acontece desde as primeiras frases da letra:

Is this the real life? Is this just fantasy? Caught in a landslide. No escape from reality. Open your eyes. Look up to the skies and see. I'm just a poor boy. I need no sympathy. Because I'm easy come, easy go. Little high, little low. Any way the wind blows. Doesn't really matter to me. To me.

A tradução literal seria algo como:

"Isso é vida real? Isso é só fantasia? Preso em um desmoronamento. Sem escapatória da realidade. Abra seus olhos. Olhe para os céus e veja. Eu sou só um pobre garoto. Eu não preciso de compaixão/simpatia. Porque eu venho fácil, vou fácil. Um pouco alto, pouco baixo. Qualquer caminho que o vento sopre. Não importa realmente para mim. Para mim."

Qualquer pessoa que esteja vivendo dias difíceis consegue se identificar com esse início de música. Os sentimentos de estar preso a uma realidade, faz com que muita gente se identifique rapidamente. Quantas pessoas não se sentem presos a um relacionamento, a um emprego, a qualquer outra realidade indesejada? E quantos de nós nos sentimos injustiçados por isso?

Desde seu início a letra da música nos alerta. Estamos falando nessa música sobre a perda liberdade. Liberdade é o valor universal que está em jogo nessa história.

Ao dizer que ele é um pobre garoto que não precisa da compaixão de ninguém e que ele não liga mais para qual vai ser o seu futuro, nós percebemos que ele está chegando no seu limiteEle está pensando em desistir. Em outras palavras, nós temos pistas das consequências de estar perdendo as esperanças de conquistar sua liberdade de volta. Neste ponto já criamos um vínculo emocional com o protagonista muito forte.

A REVELAÇÃO 

À partir do momento que estamos identificados com o protagonista e percebemos que ele está prestes a viver as consequências de perder sua liberdade e de desistir do seu futuro, algo impressionante acontece. 

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Assim como filmes que possuem começos intensos, Bohemia Rhapsody faz o mesmo:

Mama, just killed a man. Put a gun against his head. Pulled my trigger, now he's dead. Mama, life had just begun. But now I've gone and thrown it all away.

Uma tradução literal: 

"Mamãe, acabei de matar um homem. Coloquei uma arma na cabeça dele. Puxei o gatilho, agora ele está morto. Mamãe, a vida tinha acabado de começar. Mas agora esta acabado e eu joguei tudo fora."

Ele não conseguiu. Ele não conseguiu lidar com a pressão que estava sentindo, nem com o sentimento de estar preso. Alguém que no início parecia um bom menino que precisava de ajuda, agora já é um assassino. Se ele achava que havia perdido a liberdade, agora ele tem certeza de que a perdeu. 

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Ele cedeu para o lado sombrio da força, igual quando o Anakin virou Darth Vader.

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Mas não se enganem. A revelação não é que ele virou alguém cruel e maligno. Pelo contrario, apesar de ter feito o que fez, a revelação é mais profunda. Apesar dele ter cedido para o lado sombrio em algum momento, percebemos seu arrependimento quando ele fala que jogou tudo fora e que não tem como voltar atrás. Ou seja, ele continua sendo como nós, apesar de ter feito o que fez.

Nós entendemos ele.

A IMAGINAÇÃO

Saber a revelação da história, de maneira tão poderosa, nos desperta a vontade de saber mais sobre ela:

"E agora? O que vai acontecer? Como ele vai lidar com isso?"

E é o que a música entrega com muita originalidade e intensidade.

Em uma conversa entre ele e sua mãe, ele começa a revelar que ele também deve morrer. Ele deve arcar com as consequências dos seus atos:

Mama! Ooh!. Didn't mean to make you cry. If I'm not back again this time tomorrow. Carry on, carry on. As if nothing really matters. Too late, my time has come. Sends shivers down my spine. Body's aching all the time. Goodbye everybody. I've got to go. Gotta leave you all behind. And face the truth.

Uma tradução literal:

"Mamãe! Ooh! Não foi minha intenção fazê-la chorar. Se eu não estiver de volta a esta hora amanhã. Siga em frente, siga em frente. Como se nada realmente importasse. Tarde demais, chegou minha hora. Sinto arrepios descendo em minha espinha. O corpo dói o tempo todo. Adeus a todos. Eu tenho que ir. Tenho que deixar todos vocês para trás. E encarar a verdade."

Os detalhes ao longo da história, que vão costurando uma fala na outra, é o que chamamos de trama, é a especificidade, é o que nos dá a capacidade de imaginar:

"Coloquei uma arma na cabeça dele. Puxei o gatilho, agora ele está morto."

Nós conseguimos imaginar esta cena, assim como quando ele começa a conversar com sua mãe, e assim como acontece ao longo da música. 

Essa capacidade de imaginar a história, fez pessoas criarem vídeos da história com suas visões de como ela aconteceu. O melhor deles que encontrei no YouTube, é este curta que dá vida literal para a história:

PORTANTO...

Por fim, a genialidade da música é que mesmo sendo específico o bastante para nos fazer imaginar a história, ela não é específica o bastante para que seja interpretada da mesma maneira por todo mundo. O que torna a música ainda mais universal

O vídeo acima é a tradução literal. É uma dentre tantas interpretações possíveis. O significado que cada uma dá para a música depende muito do contexto que cada um de nós está vivendo. 

É verdade que a genialidade da música não é unicamente atrelada à história. Existem muitos fatores importantes que sinceramente, nem sei avaliar. Mas tenho certeza de que tudo é potencializado, pois a música conta uma história universal. 

Quer aprender mais sobre storytelling, acesse meu canal na Pingback: https://academiadatrama.pingback.com/

To be continued...

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Rodrigo Portaro | sócio fundador da Academia da Trama, Professor de Storytelling e Gamefication da PUC-RS online e Sócio Conselheiro da The Plot Company, do Master Talks e da High.