A importância da educação para formação de uma cultura empreendedora
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A importância da educação para formação de uma cultura empreendedora

Há algum tempo atrás, em um momento de nostalgia, me lembrei de meus tempos de escola, mais especificamente, de meus tempos de ensino médio. Cursei o antigo segundo grau em uma escola técnica em Nova Iguaçu que hoje faz parte da FAETEC. Me fo...

Rodrigo Vartuli
7 min
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Há algum tempo atrás, em um momento de nostalgia, me lembrei de meus tempos de escola, mais especificamente, de meus tempos de ensino médio. Cursei o antigo segundo grau em uma escola técnica em Nova Iguaçu que hoje faz parte da FAETEC. Me formei no curso de Administração de Empresas, não dando prosseguimento aos estudos nessa área em nível superior pois preferi seguir meu sonho de me tornar um cientista. De fato, consegui conquistar este objetivo.

Mas, meu objetivo com esse exto não é fazer uma retrospectiva de minha carreira, mas destacar algumas lembranças que estão diretamente relacionadas com a cultura educacional brasileira. À época, até mesmo pela minha parca experiência, não consegui perceber estas sutilezas. No entanto, hoje em dia, já possuo os conhecimentos e a experiência necessários para a realização de uma reflexão crítica e, principalmente, para apresentar uma proposta de correção a essa distorção.

Primeiramente, para que meu ponto de vista fique bem claro, é preciso falar um pouco das aulas que recebíamos na escola. Como estudava em uma escola técnica, era de se esperar que os cursos fossem focados em nos preparar para o mercado de trabalho. De fato, nossos professores, principalmente aqueles que ministravam as disciplinas mais específicas do curso, faziam isso com esmero. Eles sempre enfatizavam as características de um bom profissional, aquele desejado e valorizado no mercado de trabalho. Este profissional chegava sempre adiantado e saía após seu horário de trabalho. O bom profissional, diziam, é aquele que procura algo para fazer a mais quando encontra algum momento livre, é proativo, como se costuma falar hoje em dia.

Diziam ainda: “se teu patrão te pede para fazer dez, faça doze, faça sempre um pouco a mais”. “Nunca se acomode. Esteja sempre disposto a aprender algo novo”. “Saia de sua zona de conforto”. Vejam que estas dicas são extremamente importantes e válidas para o mercado de trabalho. Não discuto quanto a isso. A questão que levanto é: sempre fomos ensinados, em nosso ambiente escolar, a como nos tornarmos excelentes empregados. Nunca nos ensinaram a como sermos bons patrões. Isto porque, em nenhum momento, nossos mestres cogitaram a hipótese de que alguns de nós poderiam sê-los.

A verdade é que esse comportamento de nossos docentes está relacionado a um problema muito mais sério relacionado com a Educação Brasileira, que é a ausência de uma cultura empreendedora. Não somos incentivados a empreender, a criarmos nossos próprios negócios. Quem o faz, ou vem de uma família com tradição no empreendedorismo, e aqui não falo somente de grandes empresas, mas também de pequenos comércios, ou empreendem por pura necessidade, uma vez que o emprego formal não atende às suas demandas financeiras.

Em parte, isso se deve à formação de nossos próprios docentes, uma vez quem em sua grande maioria, não possuem experiência em outras atividades que não o magistério. Em outras palavras, eles não têm como nos ensinar a empreender se eles mesmos nunca empreenderam. Mas creio que o problema é mais profundo e, portanto, mais difícil de se resolver. O problema encontra-se nas próprias bases filosóficas em que se sustenta a nossa educação.

Tendo em vista que há uma predominância muito grande de intelectuais de esquerda em nossa academia, era de se esperar que implantassem as suas bases conceituais também na educação. Basta olharmos que o patrono de nossa educação é Paulo Freire, que devotou a sua vida em estabelecer as bases marxistas na filosofia educacional.

Quero, antes de tudo, deixar claro que o objetivo deste texto, não é entrar em uma discussão de caráter político ou fazer uma crítica direta ao trabalho de Paulo Freire, que reconheço ter um grande valor. O que desejo é refletir sobre as consequências que o apego a uma certa postura filosófica ou ideológica, sem que haja uma forte evidência empírica que a corrobore, pode trazer para um país, comprometendo, inclusive, o seu desenvolvimento.

Um dos problemas que surgem como consequência de se adotar uma visão marxista na educação vem da relação dialética por ela estabelecida entre o opressor, representado pelo dono do capital, o empresário, e o oprimido, o trabalhador. Esta ideia transmite a imagem do empresário como sendo alguém ganancioso que acumula capital explorando a mão de obra barata do trabalhador. Veja que a imagem do empresário é bastante negativa. Obviamente que não sou ingênuo a ponto de ignorar que muitos empresários galgam seus altos postos por meio de corrupção. No entanto, sabemos que a grande maioria dos empreendedores trabalham duro para fazerem seus negócios bem-sucedidos.

A visão do empreendedor como sendo aquele que arrisca seu capital, que gera empregos, que produz riquezas, que estão atentos às necessidades de sua localidade e de seu país, que suprem necessidades, são simplesmente ignoradas.

Outra ideia baseada na filosofia marxista que contribui de forma negativa para a construção de uma cultura empreendedora é a de que a pobreza é programada, isto é, as classes dominantes desejam que sejamos pobres, preferencialmente ignorantes, para que seu status não seja ameaçado. Esse tipo de ideia, amplamente difundida em nossas escolas, leva a duas consequências básicas. A primeira, é a cultura do ressentimento, onde o jovem passa a culpar o sistema pela sua condição precária, levando a divisão e mesmo ódio quanto às classes mais abastadas. A segunda consequência é justamente o freio do ímpeto empreendedor. A visão negativa acaba por fazer com que muitos jovens nem mesmo cogitem a possibilidade de criarem seus próprios negócios como forma de ascensão social e econômica. Sendo assim, o que se pode fazer para alterar esse quadro?

Em minha longa experiência no magistério, pude perceber que a função da educação, além daquelas já amplamente discutidas na literatura pedagógica e filosófica, de formar cidadãos, de socializar e desenvolver o pensamento crítico, é também de servir como forma de marketing acerca das oportunidades profissionais, fornecendo informações e conhecimentos que possibilitem ao estudante fazer uma escolha consciente. Espero que o exemplo a seguir deixe mais claro a minha ideia.

Todos sabem que o mercado de capitais brasileiro é ainda minúsculo quando comparado ao mercado de países desenvolvidos como os Estados Unidos. No entanto, nas últimas duas décadas uma expansão foi observada. Em especial, pudemos observar o crescimento exponencial de uma cera corretora, a XP Investimentos. A estratégia adotada pela empresa, que a fez o principal case de sucesso no segmento, foi oferecer a seus prospectivos clientes, como primeiro produto, conhecimento. A XP possuía uma grande variedade de cursos introdutórios a preços acessíveis abrangendo desde o básico sobre investimentos em mercado de capitais, até cursos avançados para obtenção de certificações. Ao fornecer conhecimento, a XP ganhava um cliente consciente das potencialidades do negócio. Hoje em dia, a área educacional da XP expandiu ainda mais, ofertando, até mesmo, cursos de MBA.

O que desejo enfatizar é que, para desenvolvermos uma mentalidade empreendedora, é preciso fornecer conhecimento aos jovens, de preferência no ensino fundamental. Iniciando com um básico acerca de finanças pessoais, investimentos, ramos de negócios etc. Desta forma, mostrando desde cedo a importância das empresas e empresários no desenvolvimento nacional e, também, no “combate à pobreza”, elimina-se o preconceito e mostra-se o lado atraente do mundo dos negócios. Mostra também que com conhecimento e persistência, pode-se ser bem-sucedido. Mas que podem sim ter a sua medida de sucesso. Somente desenvolvendo uma cultura empreendedora, seremos capazes de alavancar o nosso país para o patamar dos países desenvolvidos.