Reencontro (Parte 1): O Grão

E então, eles se reencontraram, enfim…

O momento, entretanto, não poderia ser pior;

Mais sombrio ou mais triste,

Mas era esperado que um dia,

Nem cedo de menos

Nem tarde demais,

Ele aconteceria.

(...)

O primeiro encontro entre os dois aconteceu há muito, muito tempo atrás.

Naquele tempo, quando nem se contava o tempo ainda,

As mãos eternogenárias do Arquiteto 

Traçavam o esboço do que seriam

As primeiras linhas de contorno

Do Universo.

Havia música…

Que toda a parte enchia,

E criava,

Coloria,

E tecia,

Entretecia,

Aqui,

Ali,

Alhures e algures,

E era das notas que dela vinham

– notava-se,

Que tudo, de repente, vinha.

Então, uma sementinha

Surgiu-Lhe em suas mãos.

Ele logo a reconheceu.

Por alguns átimos eternos, permaneceu a segurá-la.

A palma aberta, ainda suja do barro e da fuligem.

Mão levemente trêmula,

Olhos no infinito.

Ao fundo, a música seguia seu pulso criador

Mas Ele o que ouviu foi o silêncio.

Fechou cuidadosamente a mão, aninhando a frágil sementinha,

Apertou-a contra o peito e pensou algumas inescrutabilidades.

Suspirou fundo

(e do seu suspiro, intempestivamente, alguma coisa, de súbito, se criou!).

Abrindo outra vez a mão,

Pinçou gentilmente o grão

Indefeso

E, por ora, inofensivo

Que repousava ali.

Ergueu-o à altura dos lábios, deu-lhe um beijo longo como fora aquele dia, e despedindo-se, lançou a sementinha eternidade abaixo.

De longe, saudoso, apenas a acompanhava precipitar-se no vão indistinto do abismo.

Ele a vira tocar, sem maiores problemas, o chão duro lá debaixo.

Seu lavrado,

Ainda por arar.

Seu destino,

Todavia, pronto.

A terra, vá lá!, não era assim tão fértil

Mas logo se daria a germinar.

Saber isso fez-Lhe timidamente sorrir

– aquele tipo de sorriso que se dá de canto de boca

(algo também se criou aqui nesse instante).

Estava feito.

Eles se separaram.

Ela e Ele,

Entretanto,

Sabiam

Que seria por um breve momento.

(...)