Reencontro (Parte 2): O Plantio
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Reencontro (Parte 2): O Plantio

Pela primeira vez, Não havia tempo suficiente na eternidade… E Ele tinha que partir.


Carlos de São Bernardo
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Foto de keneaster, em DepositPhotos
Foto de keneaster, em DepositPhotos

(…)

Os anos já se contavam

E se passavam lentamente.

Tudo é lento, pouco ou pequeno por lá.

Mas pleno.

Um a um se passavam,

E a cada gota de orvalho que deixava cair, cada raio de sol da manhã que pintava no céu ou vento que fazia golfar, Ele relançava os olhos na sementinha, para ver como ela ia.

Foi assim que Ele a viu gema, broto…

Suas primeiras fibras de raiz já demonstravam quão impetuoso era o grão.

Outrora, indefeso;

Agora não.

Inda que tenras, elas penetraram tão destemida e desbravadoramente o chão em busca de alimento,

Que logo a sementinha seria caule.

Depois ramo.

Depois tronco.

E então flor.

Ele registrava num diário envelhecido sob a escrivaninha,

Com data e hora precisos: 

a primeira folha

– a que cresceu, a que caiu, a que voou;

a primeira bolota que madurou

– e aquele a que alimentou;

o primeiro musgo que se espalhou por seu tronco;

o primeiro pássaro que cantou em sua copa (e a música que assobiou);

a primeira vez que um menino escalou seus galhos (e como Ele o protegeu);

a primeira vez que um casal se sentou, enamorados, sob sua imensa sombra vespertina…

Era de suas tarefas a mais prazenteira:

– “Minha sementinha!”, Ele sussurrava.

Até que um dia,

Enquanto contemplava a plantinha,

Já crescida e tão distinta,

Aquele que nada e a tudo distinguia

Chamou-Lhe:

– “Filho…”

Era a primeira vez que Ele assim o ouvia,

– e foi logo registrá-lo em seu diário:

“É hoje!”

Ele sabia o que aquilo significava

Ou era apenas um palpite

De um coração que palpitara-Lhe no peito?

Aliás, que é esse coração em seu peito?

Ele jamais se dera conta de que ali houvesse um.

– “Sim, Pai.”

Ele instintivamente respondeu.

Chegava o dia afinal.

Por todo o drama que se seguiu, eu lhes pouparei dos pormenores dessa triste reunião.

Apenas direi que tudo fora estranho e diferente,

Novo e assustador.

Ambos choraram…

Pela primeira vez.

Ele certamente o registraria em seu diário se houvesse tempo,

Mas,

Pela primeira vez,

Não havia tempo suficiente na eternidade…

E Ele tinha imediatamente que partir.

(...)