Reencontro (Parte Final): O Fruto
0
0

Reencontro (Parte Final): O Fruto

Sua sementinha estava bem diferente. Mas Ele também. 
Ela não se parecia mais com aquele grão diminuto e frágil Nem Ele era mais tão forte.

Carlos de São Bernardo
1 min
0
0
Foto de DenisSmile, em DepositPhotos
Foto de DenisSmile, em DepositPhotos

Sua sementinha estava bem diferente.

Mas Ele também.

Ela não se parecia mais com aquele grão diminuto e frágil

Nem Ele era mais tão forte.

Ironicamente, era ela a sustentá-lo agora,

E o indefeso era Ele.

O broto que Ele cultivou por anos, 

E que virou planta, 

E que virou flor, 

Virou espinho.

O galho forte em que se pendeu criança, 

Sim, novamente lhe pendia.

Mas a sombra prazenteira de antanho 

Se tornaram em trevas que não têm tamanho.

O sol que Ele criara se foi.

Mas o sol era só mais um:

“Eli, Eli! Lamá, Sabactâni?”

Todos — sem exceção agora — o tinham abandonado.

Olhou de lado à sua sementinha-cruz.

Lembrou-se dela, 

Árvore, 

Infecunda,

Infeliz,

Vergonha que Ele agora também conhecia.

“Não chores, minha sementinha...”

Ela, porém, não respondeu.

“Nunca foste infértil...”

Ela, porém, não respondeu.

“Teu fruto era temporão...”

Ela, porém, não respondeu.

“Sou Eu!”

E ouviu-se no céu um trovão.