Sua sementinha estava bem diferente. Mas Ele também. Ela não se parecia mais com aquele grão diminuto e frágil Nem Ele era mais tão forte.
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Sua sementinha estava bem diferente. | ||
Mas Ele também. | ||
Ela não se parecia mais com aquele grão diminuto e frágil | ||
Nem Ele era mais tão forte. | ||
Ironicamente, era ela a sustentá-lo agora, | ||
E o indefeso era Ele. | ||
O broto que Ele cultivou por anos, | ||
E que virou planta, | ||
E que virou flor, | ||
Virou espinho. | ||
O galho forte em que se pendeu criança, | ||
Sim, novamente lhe pendia. | ||
Mas a sombra prazenteira de antanho | ||
Se tornaram em trevas que não têm tamanho. | ||
O sol que Ele criara se foi. | ||
Mas o sol era só mais um: | ||
— “Eli, Eli! Lamá, Sabactâni?” | ||
Todos — sem exceção agora — o tinham abandonado. | ||
Olhou de lado à sua sementinha-cruz. | ||
Lembrou-se dela, | ||
Árvore, | ||
Infecunda, | ||
Infeliz, | ||
Vergonha que Ele agora também conhecia. | ||
— “Não chores, minha sementinha...” | ||
Ela, porém, não respondeu. | ||
— “Nunca foste infértil...” | ||
Ela, porém, não respondeu. | ||
— “Teu fruto era temporão...” | ||
Ela, porém, não respondeu. | ||
— “Sou Eu!” | ||
E ouviu-se no céu um trovão. |