Reflexos e reflexões
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Reflexos e reflexões

“Que sorriso é esse, atrevido, no meu rosto? Que rosto é esse refletido em meu espelho?”

Carlos de São Bernardo
2 min
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Foto de&nbsp;<i>Drigo Diniz</i>&nbsp;no&nbsp;<b>Pexels</b>
Foto de Drigo Diniz no Pexels

Sim, eu também...

Eu também já sonhei com montanhas tão altas que os olhos – senão d'alma – jamais alcançariam

De cujos topos caiados as estrelas entram em erupção 

Toda noite como se luz do dia.

Sim, e eu também as subia

E lá de cima eu via 

Ali, aliás, o além e como se confundia

Num horizonte tíbio.

Gradiente e impreciso 

Entre um mar e o marrom 

Que cada vez mais é menos

Até ser outra coisa.

Sim, eu também gritei e minha voz se fez um eco surdo e fugidio deslizando por planícies estias,

Sem encontrar-lhe desafios,

Senão os que o tempo impõe

E tais

Que se perde a força,

Que se perde o grito

E desvanece aflito,

Breve, um sussurrar

(cujo som eu sequer reconheceria outra vez se tivesse a chance)

Sim, eu também...

Eu também me desconheço.

Trago no corpo marcas de dores que não senti

Posto que não m'as feririam ou lembro.

Cicatrizes nas mãos, nos pés, no peito

E uma fronte talhada:

“Que sorriso é esse, atrevido, no meu rosto?

Que rosto é esse refletido em meu espelho?”

Sim, eu também sou menino...

Sou metade de mim partida ao meio

Num quarto vão, vazio, triste, sujo, escuro e frio.

Sou cantor de cabarés

E rodopio

Eu sou poeta!

Um bom poeta em poetize é como o vinho

Que traz consigo uma tristeza em fantasia

Disfarçada de um sorriso

E eu sorrio.