Um Herói
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Um Herói

Hoje, 12 de Março de 2.021, de manhã, um pouco depois das onze horas, fui ao centro daqui de Pindamonhangaba, às proximidades da Praça Monsenhor Marcondes.

Sergio Ricardo
2 min
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Hoje, 12 de Março de 2.021, de manhã, um pouco depois das onze horas, fui ao centro daqui de Pindamonhangaba, às proximidades da Praça Monsenhor Marcondes.

Dia quente. Temperatura acima de vinte e cinco graus. Sol de rachar a cabeça.

Abordou-me um homem de idade avançada, miúdo - tem ele, se muito, um metro e sessenta -, magriço, de cabelos, poucos, totalmente brancos. Sua compleição, de cansaço. Andava lenta e cuidadosamente. Máscara não lhe cobria o rosto, de traços suaves, repleto de vincos. Falou-me num tom de voz que, de tão baixo, quase inaudível, obrigou-me a me aproximar dele, e curvar-me para ouvi-lo. Nossas cabeças quase se tocaram; não distavam uma da outra dez centímetros. E eu o ouvi dizer-me: "Moço, você viu um homem magrinho, de cabelo curto, e de olhos um pouco arregalados, e de camisa e calças sujas, pretas. Calças pretas; e camisa meio marrom e meio cinza?" "Não. Não vi", respondi-lhe. E observei-o, sem saber o que lhe dizer. "Na segunda-feira - prosseguiu o velhinho -, ele pediu-me... Foi ali, naquela esquina - e apontou-me o outro lado da rua. - Ele me pediu que eu lhe comprasse comida; estava com fome. Eu não trazia comigo nem sequer um tostão, eu lhe disse. E ele me olhou, sabe? triste, e disse-me que estava tudo bem e que eu fosse com Deus. Estava encostado na parede. Eu fui embora. E desde então estou pensando nele. Ele estava com fome. E eu não pude ajudá-lo. E terça, e quarta, e ontem, e hoje, vim encontrá-lo. Mas não o encontrei. Não sei quem ele é. E eu não o encontro." E calou-se, voz embargada, lábios trêmulos. Engoli em seco; fitei-o em silêncio, e o esperei retomar a palavra, o que ele não tardou a fazer: "Eu venho, desde aquele dia, pensando naquele homem, que precisou da minha ajuda; e eu não pude ajudá-lo. Que Deus me perdoe. Deus queira que ele tenha conseguido comida; que alguma alma cristã tenha-o ajudado." E calou-se, visivelmente constrangido, entristecido. Fitou-me, orvalhados seus olhos. E despediu-se de mim: "Que Deus te acompanhe, moço." E afastou-se de mim, lenta e cuidadosamente, detendo-se a curtos intervalos, sempre a olhar ao redor, à procura do homem que dias antes lhe pedira ajuda.