Uma casa para os "desigrejados"

Vivenciamos um grande movimento de "desigrejados". Não se trata de pessoas que abandonaram o evangelho, mas creem e querem seguir Jesus, mas não se veem mais dentro da instituição igreja (com “i” minúsculo mesmo). Ou essas pessoas perderam o sentido de comunidade ou a igreja não conversa com a realidade de uma grande parte dos cristãos. O fato é que a justificativa da maioria deles se assemelha: o evangelho genuíno não se vive e nem se prega mais na igreja e veem como única saída desertar.

A justificativa deles é plausível. Muitos cultos cristãos tem pouco de Cristo. As comunidades giram em torno de interesses econômicos, políticos e pouco do evangelho. Pior, o evangelho por vezes se torna apenas a ferramenta de manobra. As falas usam a bíblia mas não a expõe. Usa-se o texto para o fim que convém quem fala, não para o que ele foi escrito.

Por outro lado é necessário rever a relação com a comunidade. Se sou parte, ela tem um pouco de mim. Quando não tem é porque não sou parte me tornando um consumidor dela. Se ao escolher a comunidade vou pela que tem melhor ministério disso ou daquilo, não estou sendo um consumista de igreja? Neste formato e comportamento nunca encontrarei uma comunidade que supra minhas necessidades, porque o fim dela não é suprir as minhas expectativas. E se um dia encontrar, será por pouco tempo.

O engano começa quando dissemos que vamos “a Igreja”, quando na verdade vamos a reunião da Igreja. Ainda mais quando vamos a “casa de Deus”. Deus, que outrora habitou templo e tenda, hoje habita em nós através do Seu Espírito Santo. Lugares, salões são apenas pontos de encontro. A Igreja consiste na unidade daqueles que receberam nova vida em Jesus. Igualmente engano quando quero viver um evangelho só para mim. A Igreja é chamada de Corpo, várias partes que se formam um. A Igreja se forma no “nós”, não no “eu”.

Nossas insatisfações com a comunidade na maioria das vezes tem fundamento. Porém, mesmo que existam as dificuldades e contradições nela, elas são maximizadas por nossas próprias frustrações. Na falta da minha relação particular com Deus espero que seja suprida pela comunidade, quando não tem como ser. Por isso julgo com tanto vigor os erros. Queria que o convívio suprisse algo que só o trabalho íntimo do Espírito Santo em mim pode fazer.

Deus nos chama para a comunidade e para servir, não para consumir. Quando me relaciono pessoalmente com o Espírito sou levado a servir. Na comunidade é onde Cristo se completa quando em unidade realizamos a boa obra. Ao servir, sou servido pelo outro e juntos somos suporte, conforto e confronto de forma mútua. Não há como viver Deus sozinho. O evangelho é um convite a comunidade, onde juntos somos a casa que Deus escolheu morar.

Efésios 2.22 (NTLH) Assim vocês também, unidos com Cristo, estão sendo construídos, junto com os outros, para se tornarem uma casa onde Deus vive por meio do seu Espírito.