O dia que o Grunge virou glamour
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O dia que o Grunge virou glamour

 Talvez você curtaentender como e porquê o Grunge virou Glamour, mas para conhecer essa história precisa, claro, falar de um dos principais personagens desse paradoxo fashion: Kurt Cobain - que além de ser um dos mais importantes artistas do ...

Maria Rita Werneck
8 min
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 Talvez você curtaentender como e porquê o Grunge virou Glamour, mas para conhecer essa história precisa, claro, falar de um dos principais personagens desse paradoxo fashion: Kurt Cobain - que além de ser um dos mais importantes artistas do século XX, também foi um dos mais emblemáticos ícones moda da década de 1990.

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O Nirvana começou os primeiros passos ainda nos anos 80, na cidade de Seattle, onde os integrantes Kurt Cobain, Dave Grohl e Krist Novoselic viviam. A cidade conhecida por seu pólo tecnológico e por ser um importante porto marítimo, a partir de 1989, viu o termo “grunge” se tornar um dos seus principais produtos de exportação. A palavra que surgiu em uma publicação do Reino Unido não só classificava o estilo musical liderado pelo Nirvana, como também englobava um estilo de vida evidenciado pelos vestimentas e comportamento de um grupo de pessoas que a partir de então se tornavam tão famosos quanto os punks dos anos 70, na Inglaterra.

Para ilustrar esse movimento grunge podemos citar o filme de Vida de Solteiro (1992), de Cameron Crowe. O longa retratou a juventude de Seattle daquele início da década de 1990 através das histórias de rapazes e moças que moravam no mesmo prédio e que dividiam sonhos, gostos, paixões, tudo à base de muita música. Inclusive, o personagem principal interpretado por Matt Dillon era 'cuspido escarrado' o estereótipo de um jovem grunger época: vocalista de uma banda de rock grunge (claro), com um figurino marcado por camisas de flanelas, calças e bermudas folgadas, cabelosidosos cumprindo. Vale lembrar que grande parte das roupas de Dillon foi emprestada pelo baixista do Pearl Jam (Jeff Ament) que também participa do filme ao lado de outros companheiros do movimento, como Eddie Vedder e Chris Cornell.  

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Sacou um pouco a atmosfera grunge época? Conseguiu entender como a música e a moda se comunicavam dentro do estilo? Fazia tempo que um gênero musical não influenciava tanto uma maneira como as pessoas se vestiam - e o mais curioso que foi tudo sem planejar. Como as camisas de flanela que chegaram a ser vendidas por grifes por valores exorbitantes, entre os grungers de raiz eram compradas em feiras ou brechós por menos de 5 dólares; Os tênis de solado baixo ou coturnos que nas passarelas eram usados ​​para “quebrar o romantismo de um look”, eram calçados pelos jovens de Seattle (e depois de outras regiões) porque eram baratos e duravam mais; Já os cabelos longos e bagunçados seguiam uma rebeldia dos roqueiros que viram ameaçados pela simplicidade e originalidade de bandas como o Nirvana, Stone Temple Pilots, Soundgarden, Alice in Chains, etc ...

Agora onde Kurt Cobain entra nisso tudo? Bem no epicentro porque ele se tornou o maior expoente do grunge por toda sua importância com o Nirvana e esse lance das roupas acabou lhe dando uma notoriedade que ele não buscou, mas que até hoje lhe é atribuída.

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É até engraçado chamá-lo de ícone fashion uma vez que Cobain era um jovem que iam nas feiras de caridade comprar roupas e sapatos baratos por não terem grana e também por não se importarem muito com o lance de grifes e tudo mais. Mesmo depois de consagrado como o maior astro do rock com o sucesso de Nevermind, não era difícil vê-lo usando a mesma roupa em mais de um show em noites diferentes.

Podemos dizer que teve um dia que foi o ponta pé para essa história do grunge virar glamour (saiba mais no episódio do canal Rock n 'Outros Drops no Youtube). De acordo com o livro Kurt Cobain - a construção do mito, de Charles R. Cross, esse marco aconteceu na participação do Nirvana no programa Saturday Night Live, em janeiro de 1992. É bem verdade que a paixão das pessoas por ele e pela banda começou no clipe de Smells Like Teen Spirit, alguns meses antes de ser lançado em outubro de 1991 na MTV, porém essa visita ao programa chamou a atenção da crítica especializada em moda que logo tratou de criar o binômio: Kurt x Moda.     

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Não sabendo dos reais motivos para todo esse alvoroço, não dá para entender o que impressionou tanta gente no figurino de Kurt. Nesse dia, ele novamente uma camisa de banda de rock (no caso de Flipper) embaixo de um cardigan azul (bem maior que o seu tamanho). Na parte de baixo, uma curiosidade: o jeans continuava rasgado, mas por debaixo dele uma ceroula - um hábito comum do vocalista para não parecer tão magro. As várias camadas de roupas davam essa sensação de mais carne do que osso.

Outro paradigma da moda quebrado por ele: enquanto o mundo naquela época (e até hoje) segue o padrão de moda esquelético, querendo sempre aparecer mais magro, Kurt queria o contrário, principalmente, porque aquela magreza excessiva dele era sinal de problemas estomacais que mais tarde se tornariam um grande porta de entrada para o vício em heroína. Não sei se você sabe, mas Kurt usava heroína para não sentir dores de estômago insuportáveis. No início o uso era com parcimônia, depois perdeu o controle e sabemos no que deu.

Todo o figurino era muito simples, sem grife, o oposto do que outros astros do rock apresentavam no mesmo programa e em outros lugares. O show do Nirvana foi muito bacana, ao vivo, exaltando uma explosão de palco que os caras tinham. Mas, mesmo assim, o que chamou a atenção mesmo foram os trajes de Cobain. O simples que parece sofisticado emergiu na indústria da moda como uma alternativa para oxigenação indústria já desgastada pela falta de originalidade. O efeito estético daquele conjunto de peças estranhas criava uma polêmica há muito não vista no meio: ao mesmo tempo que os mais conservadores sentiam uma certa repugnância, os mais antenados viam tudo aquilo como uma mina de ouro minas de ouro porque o Grunge estava na crista da onda no momento.

E claro que não demorou muito para estilistas criarem coleções inspiradas no movimento Grunge, apropriação que chateou muito os fãs do estilo, havendo, inclusive, cartas de repúdio enviadas para as redações das revistas de moda. Para eles, o estilo estava sendo transformado em comércio. O que eles chamavam de identificação com um jeito de viver, de enxergar o mundo, comportamento, a indústria da moda enxergava cifrões, contradizendo toda a filosofia (se é que podemos chamar assim) do movimento tido como anticultural.

No início dessa apropriação fashion muita gente quebrou a cara porque imaginou que o sucesso viria apenas vestindo as modelos com as peças chaves em desfiles cheios de celebridades. Marc Jacobs foi um deles. No início de carreira, ele quase se queimou coma uma “Coleção Grunge”. Apesar de uma parte da crítica da época elogiar sua criatividade, outra parte não entendre aquela iniciativa, tendo inclusivo, como James Truman, da Details, afirmando que “o grunge não é a moda”.

Naomi Campbell e Kristen McMenamy posando para uma campanha da coleção Grunge em 1992.
Naomi Campbell e Kristen McMenamy posando para uma campanha da coleção Grunge em 1992.
Marc Jacobs relançando uma coleção grunge.
Marc Jacobs relançando uma coleção grunge.

Mas foi exatamente esse conceito de “não moda” que atraiu outros grandes nomes ao estilo grunge de se vestir. A Vogue, por exemplo, realizou um ensaio maravilhoso com os principais modelos da época usando camisas de flanela, coturnos, gorros e tudo que tinha direito para que elas parecem saindo dos inferninhos de Seattle.

Um outro fato que inclui a importância de Kurt Cobain também no mundo fashion tem relação com a guinada que a Converse deu com a ajuda dele, mesmo que inconscientemente. Tudo aconteceu por causa de um antigo hábito do cantor de usar os tênis da Converse All Star. Com fama e sucesso dele, consequentemente, da grande exposição na mídia mundial, um Converse conseguiu se reerguer da falência devido ao aumento das vendas dos tênis que o vocalista usava. Inclusive, o modelo que Cobain estava no pé no dia da sua morte passou a ser um dos mais procurados. Uma foto da cena do suicídio revelou o que ele usava nos pés (claro que não vou ganhar-la aqui porque isso seria um total desrespeito). A Nike comprou um Converse, em 2003, por 305 milhões de dólares e Kurt ganhou um modelo em sua homenagem.

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Em paralelo a tudo isso, existia uma personagem também muito marcante nessa história do grunge virar glamour. Entre polêmicas e escândalos, brigas e perdões, clínicas e tabloides, existia à primeira-dama do Grunge, Courtney Love.

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Ao contrário do ex-marido, um vocalista do Hole adorava grifes e sempre vista ao lado de modelos e estilistas. Ainda no auge do Nirvana, ela dava alguns pitacos no figurino do cantor, emprestados peças próprias que resultaram em imagens icônicas dessa época, como Cobain usando o famoso baby doll de seda ou os vestidos dela no palco algumas vezes.

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Até hoje vemos Courtney envolvida em ensaios de moda, aparecendo sempre muito bem vestida (o que seria isso ser bem vestida para você?

Foi ela, inclusive, que chancelou a coleção da Saint Laurent, assinada por Hedi Slimane, em 2003, dizendo que ele havia acertado em cheio. Peças como o célebre casaco de pele, usado por Kurt, foi uma das inspirações do estilista.

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Disso tudo o que mais importa é que mesmo depois de mais de 27 anos Kurt Cobain continua sendo uma das personalidades mais fortes da cultura pop. A sua arte, seu discurso antimisogenia, antimachismo, in prol de uma sociedade mais justa e menos padronizada fez toda a diferença no início dos anos 90, mostrando que o rock poderia ser mais do que um gênero musical.

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