A meditação se tornou um conceito?
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A meditação se tornou um conceito?

Pense na palavra meditação e me diga: qual imagem vêm a sua mente? Não tenho dúvidas que verá alguém sentado, com as pernas cruzadas (ou em posição de lótus), com as mãos sobre os joelhos, de olhos fechados, sem se mover. Acertei?

Ricardo Oliveira
5 min
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Pense na palavra meditação e me diga: qual imagem vêm a sua mente? Não tenho dúvidas que verá alguém sentado, com as pernas cruzadas (ou em posição de lótus), com as mãos sobre os joelhos, de olhos fechados, sem se mover. Acertei?

Talvez a cena seja ainda mais bonita, trazendo uma montanha de cenário, ou no pé de uma cachoeira, remetendo a tranquilidade, harmonia, silêncio e paz.

Este é o conceito clássico da meditação, principalmente para o ocidental. Para quem nasceu no oriente, isto é, Índia, China, países da Asia em geral; a meditação é algo mais profundo. Não está somente ligado a uma postura, em um lugar propício, mas algo relacionado com um estado de espírito e contemplação do presente, independente da influência do ambiente externo.

É sobre esta compreensão que quero falar com você hoje.

A palavra meditação vem do latim meditare, que significa “voltar a atenção para dentro de si”. É praticada pela humanidade desde sempre, havendo registros da prática no Egito Antigo, na Índia, na China e com os povos Maias. As filosofias religiosas e artes maciais do oriente foram as que mais mantiveram a tradição, e que posteriormente, vetorizaram sua divulgação pelo mundo contemporâneo.

Nomes como Swami Vivekananda, Paramahansa Yogananda, Swami Satchidananda, entre outros; foram fundamentais para a divulgação da filosofia oriental e do yoga pelos Estados Unidos, abrindo e desenvolvendo escolas de práticas no início do século passado.

Nestes tempos modernos, a meditação é uma prática bem difundida, com seus resultados benéficos ao corpo e mente comprovados por estudos científicos. No Brasil, é indicada pelo Sistema Único de Saúde (Sim! Mas de forma tímida…) como tratamento de ansiedade, estresse, dor crônica e depressão desde 2011.

Aqui há um porém.

Toda essa difusão da meditação pode ter tornado ela mais conceitual do que deveria, já que a prática tem o potencial de te levar “além dos conceitos”, para a consciência pura e inclassificável; muito além da razão.

Visualizei a transformação da meditação em “técnica” (conjunto de procedimentos) quando percebia uma postura de meus alunos, sempre que iniciava um exercício meditativo. Era só anunciar a prática que quase todos se colocavam em postura ereta, fechavam os olhos, colocavam as mãos sobre os joelhos e se tornavam uma estátua.

Bem parecida com aquela imagem que evocamos no início do texto. Isso me entristecia porquê estava passando despercebido o que é mais valioso na meditação: apenas estar presente, mas sem se ocupar com uma postura.

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Meditando em meio a um show de rock!

É possível meditar de olhos abertos, em uma caminhada, comendo, durante qualquer ação automática, ou até em um show de rock. Sim, porque meditação não está ligado a postura, mas um ato de intensa concentração da mente, como é o seu conceito original.

Obviamente, este “ato de intensa concentração” estará voltado para si mesmo, o momento presente onde me encontro, sentindo micro sensações e emoções que ele proporciona. É por isso que existem lendas sobre Mestres de Kung Fu que conseguiam pegar moscas com hashi, (lembram do Sr. Miyage, do filme Karatê Kid?). Isto envolveria uma incrível precisão e concentração da mente no momento presente, mas este é um exemplo bem extremo.

Para nós, “meros mortais”, imagine que você possa estar meditando enquanto está molhando suas plantas. Você medita enquanto volta da escola para sua casa, no coletivo. Você pode meditar enquanto está comendo, ou fazendo uma caminhada pelo bairro.

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Os chineses, quando estão plantando arroz no campo alagado, buscam faze-lô em total silêncio, em um estado meditativo.

Logo, através da meditação, estamos lidando com um silêncio interno que não quer dizer imobilidade. Entretanto, quando nossa mente está vagando entre problemas e anseios, passado e futuro, memórias e projeções, estamos fora do momento presente que este estado de espirito nos ancora. O escritor Eckhart Tolle dedicou um livro inteiro a este tema (O Poder do Agora), dizendo:

“Já algum dia experimentou, ou fez, ou pensou, ou sentiu alguma coisa fora do Agora? Pensa que algum dia isso acontecerá? Acha que é possível que alguma coisa aconteça ou seja fora do Agora? A resposta é óbvia, não é verdade?Nunca nada aconteceu no passado; acontece no Agora. Nunca nada acontecerá no futuro; acontece no Agora.”

Preciso encerrar este artigo antes que eu comece também a conceituar o que é a meditação (ou o que não é).

Minha intenção aqui é desmistificar algo que precisa ser visto como natural ao ser humano: desacelerar e apenas contemplar a vida.

Antes de colocar-nos em uma postura, em um ambiente ideal, sem barulhos externos; experimente contemplar hoje o pôr do sol, o movimento de “vai e vem” das pessoas através de sua janela, brincar com o seu animal de estimação. Algo simples, estando apenas presente neste momento único. Isto já é meditação.

Encerro citando um outro Mestre nesta arte, Osho:

Se você quer tornar-se um meditador, é preciso deixar de lado esse hábito de fazer as coisas adormecido. Ande, mas esteja alerta. Cave um buraco, mas esteja alerta. Coma, mas ao comer não faça nada além disso:apenas coma. Esteja alerta a cada mordida, mastigue com consciência. Não se permita vagar a esmo pelo mundo: esteja presente aqui e agora.

Namastê!

#meditação