Sobre pescar, sobre viver.

O mês de agosto é tão esquisito, dizem que é o “mês do cachorro louco”, a Sra. já ouviu essa expressão, com certeza. “Mês do cachorro louco”, ora essa, de onde tiraram isso?!

De uma coisa eu sei, eu não gosto de agosto; “fica poeira se escondendo pelos cantos”. Uma ventania incontrolável, a rinite ataca, fica tudo remexido, tudo fora de lugar...

Caramba. Sabia que a Sra. ia perguntar isso! Antes de acabar a última sílaba, eu pressenti, mas já era tarde demais...

Ah...

Há tanto tempo que as coisas em mim, estão fora de lugar, que já não sei realmente, qual o lugar pertencente a elas. O tempo transformou o “fora do lugar”, em lugar.

Acho que me incomoda um pouco...

Não. “Incômodo” não é a palavra mais apropriada. Na verdade, isso é muito cômodo, é muito confortável pra mim. O que tenho, é uma espécie de medo. Tenho medo de ter trocado o amargo pelo doce, o doce pelo amargo. Medo de ter que lidar com essa corrupção.

Não. Esse não é o maior dos medos.

Não saber se o “amargo” que se transformou em doce, era de fato amargo, e o “doce” transformado em amargo, era realmente doce, é o que me faz tremer.

“Inversão ou apuramento do paladar”?! Eu realmente não sei, mas gostei que continuou na mesma metáfora.

Queria ser um sujeito desprovido de complicações morais, éticas, queria não ser sobrepujado por tantas questões metafísicas.

Comecei a leitura de um novo livro,  “O Velho e o Mar”. Até um homem simples feito Santiago, que dorme sobre jornais velhos, num dado momento é acometido por questionamentos morais. 

_ "Não pense no pecado... há pessoas cujo o ofício é esse".  Disse o velho pra si mesmo.

O pobre do homem ficou um tempo se martirizando, devia ou não, ter matado o peixe...

Acontece que Santiago tinha uma tarefa colossal a cumprir, e atingido por tantos infortúnios, o pragmatismo teve que substituir a filosofia.

O que aprendi com o velho é que, a vida é igual pescar um peixe enorme, você não vai conseguir.

Você vai ferir, e vai se ferir muito durante o processo, ainda assim, um senso de missão, sobrevivência muito forte vai te manter lutando, travando o embate.

Até que cansado ao extremo, nada mais vai importar, nem peixe, nem pescaria, nem  sobrevivência.

Você só vai querer descansar