Texto enquanto espero
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Texto enquanto espero

A feia sentou-se para comer. A feia mastiga feio, se movimenta feio, faz cara feia enquanto corta o bife. A feia demora para comer.

Gisele Lance
2 min
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Há sempre uma ociosidade muito inspiradora na espera do ônibus. 
Há sempre uma ociosidade muito inspiradora na espera do ônibus. 

A feia sentou-se para comer. A feia mastiga feio, se movimenta feio, faz cara feia enquanto corta o bife. A feia demora para comer.

Quando finalmente se levantou, parte do vestido fora engolido pelas nádegas. Estava no meu campo de visão, não pode evitar a constatação: que cena feia!

Duas velhas caminham como velhas, uma delas veste uma saia de couro, fato que me chama atenção e me faz desperceber a outra velha. A saia de couro é bonita, tem um corte moderno, favoreceu o corpo velho dela, acrescentou sensualidade à silhueta da velha.

A velha puxa a cadeira, prepara-se para sentar, pouco ágil, bastante cansada, só deixa o corpo escorregar sobre o assento. A fadiga certamente não é do dia, é de uma vida.

Elas passam alguns minutos na mesa, trocam duas ou três palavras, o resto do pouco tempo que passam ali , é silêncio. Olhares evasivos. Parecem perdidas.

Não estão todos perdidos?

Há perdidos conscientes da sua falta de rumo, ou da permanente sensação de encruzilhada. Há perdidos completamente convictos de sua direção. Não sabem que estão perdidos, embora estejam.

Não estamos todos num labirinto sem saída?

Alguns viram a esquerda, dobram à direita, a pressa e a urgência de quem vai para algum lugar. Imaginam que vão para algum lugar, mas de fato, onde chegarão?

Outros, apenas estão conscientes do quanto é vão procurar saída, simplesmente trocam passos, quando parar não é uma opção.

E eu, um tanto atrapalhada, na vida e na escrita, não sei como fechar este texto, me perdi na conclusão.