Por que o presidente da Petrobras caiu?
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Por que o presidente da Petrobras caiu?

Vamos dividir o assunto em 3 temas: I) A importância de manter os preços no mercado interno alinhados com a paridade de importação; II) A relevância dos caminhoneiros no mercado de diesel; III) O que achamos que aconteceu.

Petróleo
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Fonte: Blog Petrobras - Fatos e Dados
Fonte: Blog Petrobras - Fatos e Dados

Vamos dividir o assunto em 3 temas:

I) A importância de manter os preços no mercado interno alinhados com a paridade de importação;II) A relevância dos caminhoneiros no mercado de diesel;III) O que achamos que aconteceu.

I) Por que a Petrobras precisa manter o alinhamento com o preço de importação?

A Petrobras é uma operadora no mercado de óleo e gás. Isto significa que ela possui Reservas de óleo e as vende no mercado interno e externo. Em geral, as Reservas deste recurso mineral se originam da compra de áreas da União (guarde bem esta informação), que em sua maioria, no Brasil, são concessões de extensões marítimas ou terrestres que são adquiridas por operadores para explorar e produzir petróleo. Tudo bem! Como você acha que esta compra é feita? Eu respondo: através de leilões! Então, meu caro amigo, se a Petrobras participar de um leilão com a Shell pela disputa de áreas da União para exploração de petróleo, vai levar a potencial Reserva quem oferecer o maior lance e é aqui que mora a questão.

Para oferecer um lance competitivo, a Petrobras precisa ter dinheiro e para ter dinheiro, ela precisa vender o seu produto com preços de mercado, o que significa isto? Significa vender o produto com o mesmo preço que o mercado está vendendo. Imagine que a Petrobras esteja operando um campo aqui no Brasil e a Shell esteja operando um campo na costa da África, porém, suponha também que a estrutura econômica de produção de ambos os campos seja análoga, os óleos sejam de mesma qualidade, o custo de extração seja o mesmo, os investimentos idênticos, os impostos tenham o mesmo patamar. Agora suponha que o Brasil faça o controle de preços, ou seja, se um importador de gasolina vende no Brasil o litro por 1 dólar, a canetada do presidente faz com que as refinarias da Petrobras ofereçam este produto para o povo por 0,50 cents (estamos colocando os preços em dólar para comparar em uma mesma base). O que você acha que a Shell irá fazer? Ela vai vender o produto no Uruguai, nos Estados Unidos, na Europa ou em qualquer lugar que não tenha o controle de preços, deste modo, a Shell irá lucrar mais que a Petrobras. Lembra da informação que eu pedi para você guardar? Vamos usá-la já. Imagine que depois de 1 ano de controle de preços, a ANP vá fazer uma rodada de licitações para venda de campos de petróleo e está admitindo as operadoras interessadas, entre elas a Shell, Petrobras e outras. A Shell está participando da rodada, ou seja, aquela operadora que está vendendo o seu produto pelo dobro do preço do produto da Petrobras está competindo pelo mesmo campo. O que irá acontecer? É mais provável que a Shell tenha mais grana em caixa e esteja disposta a pagar mais para ter aquele campo, afinal, ela sabe que pode vender o seu produto em outro país, ou seja, gerar mais receita, enquanto a Petrobras tem um potencial limitado de ganho com aquele campo. Quero dizer que é mais provável que a Shell vença o leilão. Imagine que este efeito seja recorrente, em outras palavras, que a Petrobras não consiga praticar os preços de paridade de importação e que ela tenha problemas para repor suas Reservas. O que vai acontecer com ela? É simples! Se ela não quebrar no curto prazo pela baixa receita e altos custos, ela vai quebrar no longo prazo por não ter mais Reservas e não ter mais o que vender. Entendeu? É por isto que a Petrobras precisa praticar os preços de paridade de importação.

II) Caminhoneiro: um importante stakeholder

Antes de falar do papel do caminhoneiro, vamos falar sobre o que é um stakeholder. Na linguagem de mercado, um stakeholder nada mais é que um acionista, então, por exemplo, se você tem ação da Vale, você é um stakeholder da Vale. E aonde o caminhoneiro entra nessa brincadeira? Colocando o conceito de stakeholder de maneira geral, podemos expandir o entendimento para a seguinte definição: stakeholder é aquele que tem parte interessada no negócio. Portanto, se você tem um carro e pega todo dia a estrada para trabalhar, é de seu interesse que a empresa que administra a estrada cuide bem dela para que você não tenha altos custos de manutenção. Quando olhamos para a Petrobras e entendemos o que ela representa para o Brasil, fica fácil inferir os inúmeros stakeholders que ela possui, desde o governo, controlador principal, até o consumidor final do gás de cozinha no interior de alguma cidade do Amapá. No meio deles está o caminhoneiro que roda o Brasil inteiro distribuindo produtos e depende do diesel para sua locomoção. De maneira simplista, os caminhoneiros têm como receita o frete e como custo o diesel. Se o preço do diesel aumenta muito, a margem de lucro do caminhoneiro fica espremida e aí o negócio fica feio, porque os caminhoneiros possuem um alto poder de mobilização capaz de paralisar as operações de escoamento pelo país, conforme foi feito em 2018 na greve geral dos caminhoneiros. O ponto aqui é simples pessoal, entender os stakeholders da empresa é entender as pessoas, companhias e governos que influenciam ou são influenciados pelo negócio. Os caminhoneiros são importantes stakeholders do negócio da Petrobras. Negligenciar este fato é não entender a empresa.

III) O que o The Oil acha que aconteceu?

Grande parte da composição do preço da gasolina tem origem nos tributos. Portanto, se o governo quer elaborar uma solução para o preço dos combustíveis, esta questão passa pela reestruturação dos tributos. O problema é que com o aumento do Brent e a grande variação do câmbio os preços domésticos do diesel sobem e apresentam alta volatilidade, ou seja, toda hora estão mudando. A Petrobras já estava ciente disto, tanto é que em fato relevante de 05/02 emitido pela estatal, foi informado ao mercado que o reajuste dos preços na refinaria estava sendo feito em período anual, o que gera maior flexibilidade para controlar mudanças abruptas. O problema é que buscar uma solução agora para os preços do diesel, envolve a negociação de subsídios para os caminhoneiros em um momento em que é difícil para o governo fazer renúncia fiscal. Assim, é mais fácil no curto prazo, controlar artificialmente os preços, digamos, durante 3 ou 4 meses, enquanto se pensa com a equipe econômica uma solução permanente, seja algum seguro para os caminhoneiros ou algum subsídio de impostos. Pelo que até agora foi exposto, não parece que o presidente da Petrobras tinha intenção em flexibilizar mais a política de preços em um curto prazo e por isto, acabou caindo.