Sobre a amizade e lealdade
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Sobre a amizade e lealdade

Considerações sobre a importância da amazidade no reconhecimento do valor próprio.

Thiago Lima
4 min
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Nesse último fim de semana pude finalmente celebrar a chegada dos meus 23 anos. Fazer aniversário é uma sensação estranha: se por um lado é prazeroso desfrutar de mais um ano de vida, por outro a cobrança por conquistar seus objetivos aumenta indefinidamente, fazendo com que a pressão sobre os ombros fique cada vez maior.

Devaneios como esses surgiram enquanto voltava para casa após um turno de trabalho que ocorreu durante a madrugada, portanto as ideias que emergiram em minha mente provavelmente são frutos do cansaço e da falta de autoestima de um sujeito que só queria dormir.

No entanto, não seria a primeira vez que faço reflexões profundas sobre minha existência em momentos corriqueiros. Esse texto por exemplo, caro leitor, está sendo redigido em um período de insônia que esse escriba enfrenta arduamente. Ainda bem que não precisarei acordar cedo para trabalhar...

Divagações à parte, as comemorações realizadas nesse dia 17/09 me fizeram questionar como é possível aguentar o fato de envelhecer e não se orgulhar por inteiro da trajetória construída. Tenho dimensão que estou exagerando, ciência da cobrança indevida sobre a minha pessoa, porém, infelizmente, damos maior destaque aos fracassos do que às vitórias.

Achar uma resposta a esse niilismo interno é difícil. Contudo, a memória dos abraços, das risadas, das palmas, dos cânticos de parabéns que recebi nesse dia me fazem refletir sobre. Certamente, se pudesse conjurar um Expecto Patronum, essas lembranças impediriam os dementadores de sugarem minha alma.

Evidentemente, encontrar quem te dá tapinha nas costas, ri das suas piadas na mesa de bar ou comemora um gol no estádio contigo é fácil. Na alegria estar presente não exige sacrifício ou sequer penitência. Por isso, já dizia Hemingway, saber quem está contigo na trincheira é mais importante do que a guerra em si.

Nesse sentido, além de pensar sobre os diferentes pesos que impomos sobre nossas vitórias e reveses, aprofundar-me-ei a respeito da amizade e sua vital importância no reconhecimento do valor próprio.

Poderia tratar de forma mais abstrata essa reflexão, mas acredito que exemplos concretos ajudarão a esclarecer melhor meu ponto.

Partindo da literatura, resgatemos Jon Snow e Samuel Tarly, personagens das Crônicas de Gelo e Fogo. Jon se tratava de um mero bastardo sem direito à conquista de glórias, alvo de chacota constante por sua descendência e possuidor de um sobrenome genérico que o impedia de saber sua história. Sam, por sua vez, nasceu nobre, porém não atendia os requisitos necessários para ser um herdeiro digno: não tinha perfil de guerreiro, personalidade forte de um líder ou outros predicados que lhe garantissem algum respeito.

Ambos foram enviados à muralha de gelo para serem descartados. Eram renunciados de quaisquer títulos, não poderiam se casar ou obter posses. Todavia, o encontro dos dois no expediente que só encerra com a morte os fez saber que o destino traçado para eles poderia ser reescrito.

Jon tomou conhecimento de sua coragem e bravura para defender os seus; Sam de sua inteligência e perspicácia para resolver os maiores desafios de sua época. Juntos e em diversas oportunidades um por causa do outro, esses personagens souberam vencer as batalhas que foram submetidos, contando ao seu modo suas próprias histórias.

Partindo dos animes, destaco a saga de Yusuke e Kuwabara, personagens de Yu Yu Hakusho. Rivais no início do anime, Yusuke e Kuwabara desenvolvem uma amizade genuína após a morte e posterior ressurreição do primeiro. Na busca para encontrar seu verdadeiro poder - não o advindo da força bruta, pois corrompe e destrói o caráter daquele que o almeja, mas o espiritual, proveniente da força interior e do tamanho do propósito do indivíduo - os amigos compartilharam de uma missão maior do que eles próprios: proteger a qualquer custo aqueles que amam, não desistindo de lutar jamais, mesmo que isso lhes custasse a morte.

Yusuke e Kuwabara desenvolveram suas habilidades à medida que um precisava do outro. Seja pela competitividade, por meio da qual nenhum queria ser o mais fraco, fazendo com que não fugissem do árduo treinamento com mestra Genkai, ou para salvar a vida de um ao outro, como muitas vezes mostrado na célebre saga do torneio do poder. 

Essas alegorias serviram para ilustar o quão errado eu me encontro quando penso que nada fiz de útil, que nenhum legado construí até aqui. Estar presente de corpo e alma naquele salão de festas para ouvir as histórias divertidas e os deboches; receber os elogios e as piadas; escutar os parabéns e as despedidas ao final daquele dia me fez perceber que não estou sozinho para enfrentar as guerras que a vida me reserva. Vencerei algumas, perderei outras, no entanto, tenho consciência que aproveitarei do sabor de cada batalha acompanhado ao lado daqueles irmãos que escolhi a dedo.