Olhe-se no espelho
0
0

Olhe-se no espelho

Thiago Cherem07/31/2020
0 min
0
0

Não o espelho do seu banheiro. O da sua alma.

“Todos os problemas da humanidade são causados pela incapacidade do homem de sentar sozinho em seu aposento.” Para mim, a frase proferida por Blaise Pascal no século XVII é um holofote que expõe o maior e mais sombrio desafio da nossa espécie: entender a nós mesmos.

Buscamos entender os fenômenos que acontecem fora de nós. Tentamos incessantemente encontrar os porquês daquilo que ocorre ao nosso redor, mas concentramos poucos esforços, enquanto indivíduos, a entender nossas próprias angústias e motivações.

O homem é programado para buscar o tempo todo algo que possa lhe preencher o vazio de estar sozinho. Principalmente agora, em tempos de celular e redes sociais - mesmo que estejamos sozinhos em algum lugar - encontramos um jeito de olhar repetidamente
mensagens já lidas ou checar as notícias do dia. Está cada vez mais difícil ficar só. É muito raro encontrar alguém que aprecie a própria companhia. Normalmente, o momento em que estamos sozinhos é associado ao tédio ou a um hiato negativo no meio da rotina.

Desde que comecei a dedicar algum tempo dos meus dias para a filosofia, olhei por outro ângulo os momentos em que fico só. Na verdade, me dei conta de que estar só é como se olhar no espelho. É um momento de conversas honestas com a companhia mais importante que há: nós mesmos.

Estar sozinho, e quando falo sozinho quero dizer estar desconectado do smartphone e das demais distrações a nossa volta, é a oportunidade que nos concedemos de autoavaliar com franqueza em foro íntimo o que fazemos e a forma como agimos. É um momento em que o ego está em seu menor nível e podemos olhar para a vida com mais sensatez e consciência. Nesse instante, nos deparamos com a última instância do pensamento. É a hora em que condenamos ou perdoamos as nossas atitudes e convicções. A paz surge dessa prática. Da certeza de que ao nos olharmos no espelho da alma, estamos alinhados com a nossa melhor versão.

Aqueles que apreciam a própria companhia, encaram a vida com mais leveza - pois tem a coragem que falta para muitos: a de confrontar o próprio eu.

Support
More Options