“Você nunca termina o que você começa, não é?”
“Você nunca termina o que você começa, não é?” | ||
Essa foi uma frase do meu pai ao ver meu violão encostado no canto do quarto. | ||
Eu tinha 14 anos quando decidi que queria tocar violão. Altamente influenciada por amigas que tinham o real interesse de aprender a tocar um instrumento, eu queria aprender também. Eu queria muito tocar as músicas da minha cantora favorita. Queria ter algum talento, alguma coisa legal para falar sobre mim mesma. | ||
A animação durou 1 ano e meio. Depois de achar que eu simplesmente não tinha o talento, decidi parar as aulas de música. “Talvez eu já seja velha demais para aprender e nem tenho esse dom”, eu pensava no alto dos meus 15 anos. Velha demais. Eu tinha 15 anos. | ||
Talvez você já tenha se sentido assim. Velho demais para aprender alguma coisa, os belos anos da sua vida já se foram, quando você pensava mais rápido e tinha mais tempo e menos com o que se preocupar. Você nunca teve a oportunidade quando criança de aprender aquilo que sempre sonhou. Ou simplesmente não tem aquele dom! | ||
Esse sentimento pode doer bem fundo quando pensamos em aprender um novo idioma. Tudo parece tão difícil e complicado. Ainda mais quando lemos coisas desse tipo: um estudo do Kings College em Londres, e da Brown University em Rhode Island descobriu, depois de estudar cerca de 100 crianças de 0 a 6 anos de vida, que o cérebro é mais plástico, ou seja mais fácil de ser moldado nos nossos primeiros 4 anos de vida. Em outras palavras, crianças que têm contato constante com duas línguas têm mais capacidade de se tornarem fluentes em ambas as línguas. | ||
Mas pensa só que injusto isso pode ser. Aos 4 anos de idade temos pouca ou nenhuma autonomia sobre o que vamos aprender. As escolhas não são nossas. | ||
É verdade que algumas coisas ficam mais difíceis conforme vamos ficando mais velhos. Mas muitas dessas dificuldades estão mais relacionadas com fatores que podemos controlar do que com questões de desenvolvimento ou genética. Uma das maiores dificuldades? O medo de fracassar. | ||
Mas de todo aparente fracasso podemos tirar algumas lições que podem nos ajudar a aprender melhor no futuro. Eis aqui 3 lições que você pode aprender com o fracasso. | ||
1 - Aprenda se divertindo. | ||
Nas aulas de violão, o meu professor me dava músicas populares brasileiras para aprender. Mas eu gostava de um som bem diferente na época. Eu amava uma certa cantora country americana. Já que meu professor não queria me ensinar as músicas dela, eu tentava sozinha entender as cifras e as batidas. Foi a época que eu mais aprendi. | ||
O aprendizado? Estude o que você gosta. | ||
Pense em você, estudando inglês. Por que você deveria estudar sobre um tema que não tem tanto a ver com você? Lá está você aprendendo um vocabulário de partes do avião sendo que você gosta mesmo de gastronomia. Então aprenda sobre gastronomia. Procure receitas, fotos, vídeos, livros que te façam mergulhar no que você já gosta. | ||
Com o tempo, você verá que o recurso (no caso, o idioma inglês) que está sendo usado para absorver essas novas informações (de algo que você gosta, no caso, gastronomia) é apenas um meio, uma ferramenta, para aprender mais. | ||
2 - Mantenha seu objetivo claro em mente | ||
Como comentei no ponto anterior, eu queria aprender a tocar e cantar música country, não MPB. Mas,olhando para trás, talvez eu não tenha expressado meus objetivos tão claramente ao meu professor. Talvez ele teria mudado e adaptado o conteúdo para me incentivar a estudar. | ||
O aprendizado? Seja claro com relação ao seu objetivo. | ||
Se você decidir estudar uma língua nova, se pergunte “Por que quero aprender essa língua?”. A resposta dessa pergunta pode te guiar no seu processo de aprendizagem. | ||
E não, ser fluente, não é um objetivo claro. Pensa só, a fluência pode ter diferentes significados. Para um/a comissário/a de bordo, ser fluente é conseguir passar instruções de forma clara, atender os passageiros no voo, e manter comunicação com os outros tripulantes. Para um engenheiro, fluência pode ser dominar os nomes de partes de um equipamento, e ter um extenso vocabulário técnico. Para alguém que quer viajar, a fluência é saber se localizar e chegar nos lugares que precisa/quer estar. | ||
Saber o porquê de aprender algo novo irá moldar o quê, como, quando, e quem vai te ajudar a aprender | ||
3 - Tenha as ferramentas certas e se conheça | ||
Uma amiga estava aprendendo a andar de patins. A empolgação era grande e ela se divertia. Até que um dia ela levou um tombo. Feio. O braço? Machucado. A dor? Ficou por um tempo. O patins? Escondido no guarda-roupa. Toda vez que ela pensava em voltar a andar de patins, o medo aparecia. "Da próxima vez pode ser pior…” | ||
O aprendizado? Segundo ela, é preciso usar os equipamentos certos e aprender de alguém que sabe ensinar. | ||
Ao aprender algo novo, gaste algum tempo pesquisando as ferramentas necessárias, como e quando usá-las. Às vezes isso pode ser difícil. Temos muitas informações disponíveis na internet e em livros. Muito conteúdo gratuito também. Mas como filtrar tudo? Como decidir que material usar? Será que será melhor aprender sozinho ou procurar ajuda? Tendo um curso online ou aulas com o professor? Aprender em turma ou sozinho? | ||
Ninguém pode responder essas perguntas por você. E se você não souber a resposta, porque não experimentar diferentes jeitos até encontrar o melhor para você? | ||
Então é isso. Aprenda coisas novas, se desafie, faça essa máquina que está aí dentro da sua cabeça trabalhar. E se der errado? At least you had fun. | ||
O violão? Doze anos depois, ele continua lá, no cantinho do quarto. A única coisa que sei é que ainda não fracassei. Por quê? Eu nunca desisti. | ||
Leitura adicional e fontes: | ||
Cientistas descobrem por que crianças têm facilidade de aprender mais de uma língua - https://www.bbc.com/portuguese/noticias/2013/10/131009_linguagem_infancia_an | ||
As primeiras 20 horas - Como aprender qualquer coisa: Josh Kaufman (com legendas em inglês e português yay :D) - https://www.youtube.com/watch?v=5MgBikgcWnY&t=2s |