Uma interpretação do mito da caverna de Platão
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Uma interpretação do mito da caverna de Platão

Antes de tratar sobre o mito da caverna, é necessário levar em conta que muitos na Grécia antiga eram reencarnacionistas, inclusive Platão. Além disso, Platão diferenciou espírito, responsável pelo pensamento, de corpo ou matéria.  

Taylan Branco Meurer
3 min
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Antes de tratar sobre o mito da caverna, é necessário levar em conta que muitos na Grécia antiga eram reencarnacionistas, inclusive Platão. Além disso, Platão diferenciou espírito, responsável pelo pensamento, de corpo ou matéria.  

O mito da caverna está composto por dois lugares, um dentro e outro fora da caverna. O que significa estar dentro da caverna? Significa estar encarnado, isto é, um espírito unido a um corpo, preso a um corpo. Que significa estar fora da caverna? Significa estar desencarnado, quer dizer que o espírito deixou de estar preso a um corpo totalmente material. 

Quando unido ao corpo, que é matéria, o espírito pensa por intermédio dos sentidos (visão, olfato, audição, paladar e termoalgésica/pressão), os quais são subjetivos, podem enganar ou gerar imagens próximas ou falsas de um objeto, portanto não nos possibilitam chegar na verdade, que deve ser única e universal.  

Platão menciona que os homens na caverna estão presos e apenas podem visualizar sombras projetadas na parede. O fato de ver apenas uma sombra do objeto significa que o prisioneiro não enxerga o objeto em si, mas uma representação dele. Ele não é capaz de ver o objeto em si por conta da limitação e subjetividade de sua visão. Também é possível concluir que sua visão não é capaz de ver/processar tudo que a rodeia ou está presente.  

Os conhecimentos, memórias e experiências obtidas dentro da caverna geram uma imagem da realidade, criada segundo o ângulo de percepção e condicionamentos de cada um. As imagens de cada um são somente aproximações da realidade.  A vida como encarnado, prisioneiro do corpo, gera conhecimento limitado e pode gerar um conhecimento aparente, falso ou ilusório.

O que acontece quando o corpo se transforma (morre) e o espírito o abandona? Para Platão,  como já mencionado, pensamento é atributo do espírito, não do corpo, logo se aquele abandona este, então só haverá pensamentos ou ideias sem intervenções dos sentidos. Nesta situação, no mundo espiritual, das ideias, onde há pensamentos livres da mediação material, o espírito é capaz de conhecer a verdade, aquilo que é universal, essencial e necessário.

Segundo Platão, a vida no corpo é transitória, não essencial nem principal, pois a vida infinita, universal, principal e essencial acontece fora da caverna, fora do corpo, no pós-morte. No entanto, Platão também menciona que o prisioneiro já conhece os objetos, mas não os recorda, indicando um espírito infinito, que teve início, mas não terá fim, o qual conserva conhecimentos, mas reencarna sem recordar-los. 

Ele vai ainda mais além e indica métodos para ampliar e resgatar os conhecimentos verdadeiros. Um dos métodos é a dialética, a qual possibilita ao espírito encarnado recordar conhecimentos de vidas passadas. Aquele que os obtêm e progressa, deveria dedicar-se em ajudar aos demais na busca de uma vida reta, livre de vícios e paixões obtidos ao longo das vidas. 

Platão é considerado um racionalista, visto que a leitura de suas obras indicam que a origem da inteligência não pertence à matéria ou ao corpo, pelo contrário, pertence ao espírito, o qual pensa e persiste mesmo após a morte ou transformação do corpo. 

O mito da caverna nos revela uma visão ampla, coerente e racional sobre alguns aspectos da vida. Alguns dos aspectos são: a origem da inteligência; o sentido da vida; reencarnação; a razão pela qual os condicionamentos atuais não são exclusivos para a determinação do ser; etc. Platão é resgatado diariamente, mesmo após milhares de anos, não por acaso, pois suas obras revelam informações preciosas, mais concretas a cada leitura, e nos estimulam a uma fé raciocinada e a uma vida de virtudes. 

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