A visão autônoma da construção
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A visão autônoma da construção

#0015: Não é só a Tesla que melhora a cada dia os seus sistemas de direção automática, até a próxima década teremos uma invasão de veículos autônomos nos nossos canteiros de obra e isso trará um impacto enorme no ambiente das empresas.

Tiago Ricotta
8 min
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#0015: Não é só a Tesla que melhora a cada dia os seus sistemas de direção automática, até a próxima década teremos uma invasão de veículos autônomos nos nossos canteiros de obra e isso trará um impacto enorme no ambiente das empresas.

Baita tecnologia (1/7)

Atualmente não é muito difícil ver vídeos e explicações sobre como funcionam os carros autônomos, no próprio site da Tesla  existe muita informação sobre como toda a coisa funciona e é uma salada de conceitos e tecnologias que dá gosto de ver como o pessoal fez para botar tudo para funcionar ao mesmo tempo.

Basicamente a tecnologia é uma combinação de sensores com inteligência artificial ligada a redes neurais monitorando o que está se passando no trajeto, aqui você tem um vídeo bem legal sobre o funcionamento do sistema na prática.

Para funcionar, o carro autônomo precisa de um conjunto de sensores avançados que cobrem a visão 360° do carro como um todo. Cada câmera nos carros da Tesla possuem uma distância máxima de alcance que vária entre 50m a 250m de distância do carro.

Fonte: Tesla Autopilot
Fonte: Tesla Autopilot

O mais interessante do sistema é que existe nos carros um computador de bordo que vai comparando a visão de todas as câmeras com o que o sistema já aprendeu anteriormente e assim processando em tempo real todas as informações, desta forma o computador opera a rede neural desenvolvida pela Tesla para decidir o que fazer.

No final do dia, a Tesla recomenda por força da legislação, que exista um motorista no carro que pode vir a se apoiar nos recursos atuais do piloto automático, mas deve haver uma supervisão ativa deste motorista e por conta disso eles não consideram o seu carro um carro autônomo, mesmo que existam milhões de vídeos de motoristas dormindo no volante nos EUA.

Em um tópico desta Newsletter já apareceram câmeras inteligentes, inteligência artificial com redes neurais e claro, não pode faltar o para onde ir, que está baseado no sistema de GPS desses veículos.

Aqui estamos falando de carros de passeio, mas que outras empresas estão pesquisando este tipo de tecnologia no nosso mercado? Temos algumas: Volvo, Caterpillar, Komatsu, Trimble e Built Robotics.

Em teoria a coisa não deveria ser tão difícil assim para a indústria AEC adotar este tipo de tecnologia, afinal, a agricultura e a mineração já bebem dessa fonte faz tempo, mas vamos manter o foco em construção.

Posicionamento é a chave (2/7)

Praticamente todos os veículos que adentram uma construção hoje já podem ter suas versões autônomas ou minimamente terem seus trajetos previamente planejados (ter dinheiro para bancar é outra história).

Existe uma combinação de hardware, software e peopleware que a princípio pode parecer coisa de outro mundo, mas no geral mesmo que a tecnologia seja de ponta, ela funciona de maneira relativamente simples em termos de arquitetura.

Basicamente existe uma central com um software que faz os trajetos e controles das pás, braços e outras partes dos veículos e com o que o pessoal chama de “smart antenna” instalada nos veículos, assim existe uma triangulação entre o satélite, os corretores de sinal de GPS e os veículos fazendo com que o serviço seja executado com uma precisão bem absurda.

Fonte: Trimble Inc.
Fonte: Trimble Inc.

Enfim, aqui vocês podem ver vários exemplos de como as coisas funcionam e o que já existe em termos de veículos para serem utilizados, existe uma infinadade de material sobre isso atualmente.

Alguns casos de resultado são bem gritantes, coisa de 40% de aumento de produtividade no canteiro.

Novos espaços nos canteiros (3/7)

Em algumas obras de infraestrutura isto já é uma realidade, mas no geral, o que podemos ver em obras de incorporação são canteiros com salas de operação parecidas com as salas de controle de mineração, ou seja, telas e mais telas mostrando tudo o que acontecendo em termos de maquinário.

Sala de operação de um canteiro de obras automatizado<br>Fonte: Caterpillar
Sala de operação de um canteiro de obras automatizado
Fonte: Caterpillar

Particularmente eu não vejo o TI das empresas de engenharia liderando esse tipo de montagem no canteiro de obras, alguma coisa vai ter que mudar para construir essas salas digitais e conectar os famosos barracões com toda essa novidade que vai chegar mais dia ou menos dia por aqui.

Outro ponto é que com o avanço da tecnologia e o desenvolvimento cada vez mais rápido tanto na parte de hardware quanto na parte de software, acredito que o investimento para adotar tais conceitos nos canteiros tende a ser menor nos próximos anos.

O problema que vejo aqui é que grande parte da tecnologia está sendo desenvolvida com base em dólar, mesmo que os ganhos de produtividade sejam altos, o que pode acontecer é que seria preciso mais obras ou serviços para ter o retorno esperado.

Por um lado, é uma questão delicada e não muito simples de resolver, por outra é uma grande oportunidade para construtechs, geralmente vemos muita coisa sendo desenvolvida em termos de software para inovação, mas para hardware conta-se nos dedos quem está desbravando essa área.

Novas profissões (4/7)

Em uma conversa bem legal com um especialista no assunto de veículos autônomos nos canteiros de obra, uma curiosidade interessante são os leques que se abrem para novas profissões.

Nossos conceitos de canteiro de obras cheio vão ser atualizados
Nossos conceitos de canteiro de obras cheio vão ser atualizados

Na eterna batalha entre tecnologia e emprego, obviamente alguns cargos tendem a ter mais dificuldade de se sobreviver, principalmente naquelas tarefas manuais e repetitivas que uma máquina pode executar 24 x 7 sem descanso.

Contudo, na contramão do que se pensa, com treinamentos rápidos de operação no pé de barro da obra, esses profissionais podem receber treinamento para operar as máquinas e “instalar” os equipamentos de apoio e assim continuar contribuindo para o todo.

A tendência de as próprias empresas serem universidades vai ter papel vital para não haver um apagão de mão de obra que saiba operar toda esta tecnologia.

Sempre que uma porta se fecha uma nova se abre, já falamos aqui inúmeras vezes do papel que as universidades têm nesse contexto, mas não vamos chover no molhado.

Haverá um ponto em que talvez tenha que ser refundado os cursos de arquitetura e engenharia de tanta novidade tecnológica que essas profissões irão sofrer, o mercado não dará conta sozinho de treinar e capacitar toda a base existente.

Novas formas de planejar (5/7)

Uma das coisas que me deixam mais animados nessa história toda é que fatalmente deveremos evoluir não só no canteiro de obras, mas também nos escritórios.

Possíveis ferramentas de trabalho do futuro, meia lua pra frente e soco para dar start no jogo.
Possíveis ferramentas de trabalho do futuro, meia lua pra frente e soco para dar start no jogo.

Imagine a construção de um prédio que tem alguns veículos e até os robôs da Boston Dynamics atuando, ter um cronograma com um gantt que não reconhece esses novos hardwares vai ficar um pouco difícil de planejar e extrair o máximo de resultado disso.

Diante desse cenário é muito interessante o movimento de uma Unreal / Unity de adentrar o setor de construção civil.

Falharemos miseravelmente como indústria se o melhor que as empresas de tecnologia possam oferecer para os profissionais de planejamento for um Navisworks, não pelo software, mas pelo conceito aplicado.

Utilizar as engines de games para construir virtualmente a obra e dar saída para todos esses equipamentos pode facilitar muito a experiência geral do planejamento de obra.

O volume de informações do planejamento pode acabar ficando tão insano que o emaranhado de informação só poderá ser compreendido se tivermos ajuda de assistentes virtuais.

Veja que assim como os conceitos de tecnologia da Tesla, na construção também teremos uma fusão de vários conceitos como game, inteligência artificial, GIS, GNSS, VRS, BIM e etc.

Uma fragmentação bem característica de AEC, só não podemos nos perder nessa complexidade toda e achar que sabemos tudo.

Entre o céu e a terra (6/7)

Os exemplos que estamos falando aqui foram de equipamentos pesados e somente de veículos terrestres, mas ainda existe um outras coisas que podemos explorar em outra Newsletter que vem a ser dos drones e novos equipamentos que estão surgindo nesse sentido.

A cada ano os drones dobram sua capacidade de carregar peso, vai ser interessante esse futuro.
A cada ano os drones dobram sua capacidade de carregar peso, vai ser interessante esse futuro.

É bem provável que até o final da década que teremos veículos inteligentes e totalmente elétricos nas mãos do pessoal do canteiro na parte terrestre e aérea.

A regulamentação de toda essa frota vai gerar uma grande dor de cabeça, os treinamentos de segurança vão ter que ser todos revistos para lidar com esses novos companheiros de trabalho.

Dependendo da visão de mundo dos governantes, pode ser que a corda fique mais apertada na regulamentação em alguns países do que em outros, vide o que anda acontecendo com LGPD e o projeto de regulamentação da Inteligência Artificial.

Novamente, de novo, para ser repetitivo: abra a mente, não precisamos ter uma opinião formada de cara ao ler uma notícia ou pesquisar sobre uma tecnologia. A tecnologia está sempre a frente dos legisladores e do que pensamos sobre ela.

Difícil é fazer quem escreve lei entender isso.

Inspiração (7/7)

Se Star Trek influenciou muitas tecnologias que foram criadas nos anos subsequentes ao seu lançamento, imagina o que o JARVIS já não está fazendo com a cabeça do pessoal que esta chegando agora no mercado de trabalho e não tem dogmas para quebrar.

O caminho é ter um bom Product Owner para guiar os desenvolvedores, de resto, a coisa se encaixa.

O canteiro de obra do futuro vai ser um negócio interessante, é ficar esperto e ir acompanhando o que o povo vai lançando e seus impactos no nosso mundo.

Fiquem atentos,

Obrigado,

Abs.

Publicado em 28 de Julho de 2021 às 15:41