Mauro Beting, Neguebinha e a ridicularização do jornalismo esportivo brasileiro
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Mauro Beting, Neguebinha e a ridicularização do jornalismo esportivo brasileiro

Há muito venho pensando e discutindo com amigos sobre os caminhos que o jornalismo esportivo vem seguindo.

Lucas Tinôco Ferraz
3 min
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Foto: Getty Images
Foto: Getty Images

Há muito venho pensando e discutindo com amigos sobre os caminhos que o jornalismo esportivo vem seguindo.

Longe de mim ser alguém com uma super propriedade para fazer qualquer tipo de análise, mas criei esse espaço para pontuar o que eu penso e, quem sabe, fazer um mínimo de pessoas refletirem comigo.

Quando o jornalista Mauro Beting escreveu um texto enaltecendo a temporada de Vini Jr. e, ao mesmo tempo, criticando a forma pejorativa com que pessoas passaram a usar "Neguebinha" para atacar a sensação brasileira, eu pensei com meus botões: eu preciso tirar o ferrugem da digitação e escrever algo sobre o assunto.

Pois bem. Mauro Beting atacou o fato de "Neguebinha" não ser um termo. Negueba é uma pessoa. Um atleta que não teve a ascensão que tanto esperavam e usá-lo como adjetivo negativo é, não só cruel, mas desrespeitoso.

O problema é que esses "tantos" que depositaram tanta fé no atual jogador do Criciúma e o transformaram em um grau negativo de comparação, são colegas de profissão do próprio Mauro. E é aí que entra o principal ponto do texto!

Foto: Reprodução/Instagram @maurobetingoficial
Foto: Reprodução/Instagram @maurobetingoficial

Eu, amigos meus e pessoas "comuns" pelas redes sociais e bares, chegaram a chamar Vini Jr. de "Neguebinha". Mas nós, ainda que errados, não temos a responsabilidade e nem o alcance de grandes nomes da imprensa esportiva nacional. E esses profissionais também o fizeram. Em suas mídias, em rede nacional...

Apresentadores, jornalistas e repórteres têm levado para o ao vivo alguns comportamentos comuns dos...bares! Onde se discute futebol sem qualquer filtro, qualquer aprofundamento e qualquer responsabilidade. Na grande mídia, hoje é preferível polemizar, fazer piada e tomar partido. Sem estudar, sem se responsabilizar. Um completo blasé!

O jornalismo esportivo brasileiro tem se padronizado na despadronização. E nitidamente é preferível assim. A culpa, provavelmente, é da audiência que aplaude uns e dá palanque a outros. É tão nítido que tantos nomes bons (ou "ex-bons") entraram na onda.

Virou moda fazer piada, fazer gracinha e criar jargões irônicos e engraçados. E não ache que eu não gosto. Quem me conhece sabe que o meu senso de humor é ridículo. Dou risada de qualquer coisa. Desde que tenha aquele timing.

O timing é o que torna a piada e o jargão extremamente perfeitos. Na minha opinião, são ótimas ferramentas para mexer com o sentimento da audiência. Seja para quebrar o gelo, seja para deixar o clima ainda mais tenso. É como o "haja coração" de Galvão Bueno. Sem puxar sardinha, mas quando ele fala isso a sua veia tá saltando, o seu coração acelerado e as unhas já eram.

É saber como e quando usar. Não usar toda hora, a todo momento.

No sentido mais cômico eu consigo um bom exemplo também: o repórter Eduardo de Meneses. Divertido e com bom timing ele ganha as pessoas na rua, ganha respeito das estrelas entrevistadas e faz geral se divertir. Mas sabe a hora que pode ser assim!

Mas os citados são como agulhas no palheiro. E o jornalismo esportivo vai afundando por preferir se ridicularizar.

Espero, ao menos, que seja uma das tantas ondas. E que em breve o bom conteúdo, as boas reportagens e bons debates voltem a reinar. Sempre com descontração, mas nunca como um show de piada.