POR QUE CARGAS D’ÁGUA OS MOVIMENTOS POLÍTICOS INSISTEM EM QUERER SEQUESTRAR A MAIOR FIGURA DA SOCIEDADE OCIDENTAL?
Neste primeiro parágrafo, queria sinceramente perguntar: POR QUE CARGAS D’ÁGUA OS MOVIMENTOS POLÍTICOS INSISTEM EM QUERER SEQUESTRAR A MAIOR FIGURA DA SOCIEDADE OCIDENTAL? | ||
A pergunta supra faria parte do título do texto, porém ficaria grande demais para caber em apenas uma linha, além de não abranger tudo o que o presente artigo se propõe a abordar. Mas sim, por que cargas d’água os movimentos políticos insistem em querer enquadrar a imagem do homem mais piedoso que já viveu, em suas fileiras, retirando todo o crédito e teor apolítico de suas palavras? E eu nem estou invocando neste texto a figura do Jesus divino, apesar de ser praticamente impossível para a cristandade dissociar um do outro, afinal, ele é a base de tudo o que o cristianismo prega e defende como movimento religioso. | ||
Porém, para este texto, quero me ater apenas ao Jesus humano, o que andava pelas estradas da Galileia e da Judéia, falando de paz, amor ao próximo, ensinando através de parábolas, aquele Jesus que os zelotes, fariseus e saduceus rejeitaram como Messias justamente por não querer se impor contra o Império Romano ou qualquer outro que dominasse sobre os judeus. | ||
Li hoje, pela manhã, um artigo de André Chevitarese, afirmando categoricamente que a prisão e subsequente morte de Jesus foram atos políticos de supressão, não um ato de salvação, colocando em xeque toda a base fundamental do cristianismo em si, não levando em conta as palavras do próprio Cristo, quando se referia à sua crucificação. | ||
Por mero desconhecimento meu da totalidade da obra do autor do artigo, até porque seria impossível adquirir esse conhecimento e embasar uma resposta a seus anos de atividade autoral, me atenho apenas à afirmativa supra: “a morte de Jesus foi um ato político romano e não de salvação cristã”. | ||
No artigo, de autoria do conhecido historiador e pesquisador, que conta no seu rol de livros e trabalhos vários títulos que reivindicam a busca do Jesus histórico e possivelmente a desmistificação do ser divino a ele ligado (digo ‘possível desmistificação’ com base na pouca literatura de autoria dele a que tive acesso antes de redigir o presente artigo, além da forma como é colocada a busca do Jesus histórico no decorrer dos séculos desde o interesse por essa questão surgida durante o iluminismo, movimento intelectual que se mostrou como uma contra resposta à autoridade eclesiástica do século 18, colocando o pensamento racional e livre acima dos ensinos teológicos e a moralidade cristã ocidental imposta pelo clero), o autor afirma que Jesus era uma espécie de “barril de pólvora”, pronto para explodir algum tipo de insurreição judia, tendo em sua condenação à crucificação o intuito único e exclusivo de impor à sociedade uma espécie de temor em rebelarem-se. Ao fazer tal afirmação, o autor desconsidera totalmente o que o próprio escreveu em uma de suas publicações, onde afirma que o Roma, representada por Pôncio Pilatos, só se moveu após os principais do sinédrio o trazerem preso e o acusarem de ser um agitador, além de também afirmar que o próprio Império Romano não enxergava na figura dos cristãos uma ameaça política, lendo esse conflito entre sinédrio e cristãos apenas um fundo religioso judaico. | ||
Não sei, de verdade, qual o alinhamento sociopolítico do autor, e não quero cair aqui em um erro maniqueísta de taxa-lo pejorativamente como lulopetista, demonizando-o como autor parcial que busca inserir no meio cristão um pensamento teológico inerente à teologia liberal hoje conhecida como teologia da libertação, uma vertente progressista pseudocristã que, de uma forma sútil e programada, subverte vários dos valores cristãos, taxando-os de fundamentalismos retrógrados, mas que servem como sustentáculos para a mesma fé. E não estou falando aqui de achismos baratos e dogmas rasteiros de teólogos rasos formados em escolas enviesadas de superstições e sofismas. Estou falando de uma das cinco solas que escoram a fé protestante, a Sola Scriptura, como regra de fé. Subverter esses esteios têm sido, constantemente, o alvo dos teólogos da libertação. Mas, já divaguei demais, voltemos à pauta. | ||
Não possuindo essa intenção, porém é clara a posição progressista do autor, me pergunto novamente: qual a necessidade de politizar a figura Jesus? Qual a necessidade de puxar Jesus para um lado ou outro como um cabo de guerra incessante entre ambos os lados quando, claramente, ele não pertence a nenhum dos lados? | ||
Jesus é um ser APOLÍTICO na sua essência, a partir de seus discursos, inclusive quando afirma que seu reino não é deste mundo (Jo 18:36). Qual seria o sentido do Império Romano, na figura de Pôncio Pilatos, executar um homem inócuo ao próprio império? Em todos os evangelhos, fica clara a posição de Jesus quanto à dominação romana sobre a Judéia, quando é interpelado sobre o tributo e responde que deve ser dado a César o que é de César (Mt 22:21, Lc 20:25, Mc 12:17). | ||
Não há nenhuma incitação de Jesus contra o Império, mesmo arrebatando multidões para ouvir seus ensinamentos. Inclusive, este é o maior motivo dos judeus antigos e contemporâneos em não aceitar a legitimidade messiânica de Jesus, e isso o autor do artigo o sabe muito bem. | ||
Porém, é fácil entender a necessidade desses movimentos políticos em associarem suas imagens à de Jesus. Porque era um homem bom. Porque suas palavras só proferiam o bem. Até para os incrédulos da sua natureza divina, é inegável que Jesus foi um homem justo, um inocente, que morreu sem ter feito nada, injustiçado. Um homem que falava de amor, equidade social, onde ninguém é melhor que ninguém, ninguém é mais que ninguém, somos todos iguais perante o Criador. Um homem que apenas promovia a paz por onde passava. | ||
A questão aqui é apenas retórica. Pessoas que não acreditam na religião cristã, pessoas que defendem o fim do cristianismo, apenas o usam quando convém para tentar arrebanhar pessoas para suas pautas e lutas, angariar votos para seu projeto de poder. E isso é em qualquer espectro político, tanto de esquerda, quanto de direita. Tivemos o fenômeno Bolsonaro em 2018 para provar isso. Temos constantemente o uso da imagem de Cristo pela esquerda para enfatizar suas falsas defesas do fim da desigualdade social. É benéfico para o projeto de poder ter Jesus do seu lado, pois é um endosso para a boa índole do político escolhido por seja qual for a vertente. | ||
Desde que o mundo é mundo, é mais fácil convencer as pessoas pela superstição do que pela verdade e pelos fatos. Basta levantar a suposta bandeira de ‘Deus acima de tudo’, a síntese do primeiro dos dez mandamentos, que todos os religiosos supersticiosos que possuem preguiça de ler e estudar o livro que deveriam conhecer de capa a capa e, acima de tudo, compreender o que nele está escrito, idolatrar o político em questão | ||
Basta colocar uma frase de efeito em contraste com a imagem de Jesus, como já vi muitas vezes nas redes sociais a associação de frases alardeadas pela pseudo-direita brasileira e a imagem do Cristo em seu martírio, para gerar impacto. Ou, simplesmente, associar a imagem do político em si com a de Cristo (recentemente houve um certo barbudo que se igualou a Cristo, afirmando ser um injustiçado como o mesmo). | ||
Por fim, não, Jesus não era uma imagem política. Não existe, de forma alguma, um Jesus revolucionário, senão na cabeça de algumas pessoas que insistem em se utilizar desse artifício para manter uma narrativa que lhe convém. Do campo da esquerda, Jesus nunca transferiu para o paternalismo estatal a necessidade de altruísmo e generosidade. Ele manda que seus seguidores façam boas obras, não desamparem os enfermos e necessitados, não que se transfira para o Estado essa responsabilidade. Não é o estado que deve cuidar dos necessitados, segundo o cristianismo. É você, senhor esquerdista, que quer utilizar a imagem de Jesus para angariar votos para a sua causa e se perpetuar no poder enquanto engorda o ego com falsa moral e os bolsos com dinheiro público. | ||
Da mesma forma, ativista de esquerda, não adianta nada você aventar aos quatro cantos que Jesus pregava contra essa ou contra aquela pauta de direita que você não concorda, enquanto quer eliminar do campo das ideias os seus concorrentes e desafetos, deseja que pessoas que você não concorda politicamente sofram as piores atrocidades que seu cérebro pequeno consegue pensar. Não se esqueça que uma das maiores questões de Jesus era contra a hipocrisia do sistema religioso da época, esse sim foi o motivo dos judeus o prenderem e o acusarem para que Roma aplicasse a pena capital que nem a ele cabia. | ||
Da mesma forma, Jesus não é de direita, pseudo-direitista. Jesus não ordenou que fossem criados partidos que garantissem que os preceitos cristãos fossem empurrados goela abaixo das pessoas através de leis e normas. Jesus não pregou que as pessoas fossem coagidas a força a pararem de pecar, independente de qual pecado fosse. Por mais que a nossa sociedade adote uma legislação com viés cristão em seu cerne, essa não foi a ordem de Cristo para seus seguidores. A moralidade do homem não deve, em momento algum, depender de coerção ou medo, e sim de amor a Deus e seu Filho. A obediência e o respeito devem ser dados a Cristo por amor a ele, não por medo de ser preso. | ||
Cristo respeitava a individualidade (diferente da esquerda marxista que olha apenas o coletivo) bem como a liberdade de escolher não seguir seus ensinamentos (diferente da pseudo-direita que quer, de todas as formas, impor suas crenças às pessoas através do medo e da coação). | ||
Cristo é Cristo, independente de ser o histórico ou o teológico. Ele simplesmente é ele, e não uma marionete que pode ser manipulada por políticos e seus interesses espúrios. |