A questão sobre o Tibete.
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A questão sobre o Tibete.

Em 1949, a recém criada República Popular da China, comunista e incomodada pela influência britânica na região, anuncia seus planos de anexar o Tibete ao seu território, alegando que ele sempre havia lhe pertencido e que era preciso libertar ...

SANFLIX
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Em 1949, a recém criada República Popular da China, comunista e incomodada pela influência britânica na região, anuncia seus planos de anexar o Tibete ao seu território, alegando que ele sempre havia lhe pertencido e que era preciso libertar o Tibete dos invasores estrangeiros. Em 1950 o exército chinês inicia a ocupação do Tibete, forçando a fuga do Dalai Lama, então com 16 anos, para a Índia. Ele retorna posteriormente a Lhasa e, após fracassadas a retomada pelas milícias tibetanas, busca asilo político em definitivo, estabelecendo um governo tibetano na cidade de Dharamsala, no norte da Índia. Calcula-se que nos anos que se seguiram à ocupação chinesa cerca de 1 milhão de tibetanos morreram, perseguidos, assassinados, torturados ou presos. Hoje existem cerca de 130 mil refugiados tibetanos no mundo, a maioria na Índia e Nepal.

Um comunista da China endureceu suas políticas internas, fechou-se ao mundo ocidental durante o período da Guerra Fria e vários projetos de ocupação do território tibetano. Sob pressão internacional, é até possível que a China não abrirá concessões sobre os direitos do povo tibetano. Mas é muito pouco provável que ela conceda uma independência ao Tibete.

Por uma razão simples, recursos naturais. A região do Tibete tem 2,5 milhões de km2, área um pouco maior do que os estados de Minas Gerais, Bahia e Goiás juntos e é muito rica em recursos naturais, de madeira a minérios, e tem um enorme potencial hidrelétrico. São nos recursos minerais e hidrelétricos que se entende a importância estratégica do Tibete para a China. A mineração em larga escala na região do Tibete pelos chineses começou no final da década de 1960, como forma de suprir como indústrias com matérias primas. Sete dos 15 principais minerais da China devem se esgotar nos próximos 10 anos, forçando um aumento na extração das reservas destes minerais no Tibete.

Metade das reservas mundiais de urânio de alta qualidade do mundo estão nas montanhas ao redor da capital Lhasa e o Tibete a 40% das reservas de minério de ferro da China, além de grandes reservas de carvão mineral, ouro, chumbo, bórax e petróleo. Estudos preliminares estimam reservas de 30 a 40 milhões de toneladas de cobre, 40 milhões de toneladas de chumbo e zinco e uma enorme quantidade de minério de ferro. Hoje, cerca de 90% das reservas de minério de ferro da China são de baixa qualidade, mas no platô tibetano existe minério de alta qualidade.

Especialistas estimam que como reservas minerais no Tibete valham, no mínimo, 82 bilhões de dólares. Reservas promissoras de petróleo também foram encontradas na região. Alguns geólogos chegam a dizer que o Tibete talvez tenha a última e maior reserva de petróleo do continente.

O histórico de total desrespeito à legislação ambiental pelo setor de mineração chinês é repleto de exemplos e a China detém os recordes mundiais de mortes de mineiros em suas minas. É sabido também que a maioria das concessões não elaboram estudos de impacto ambiental e nem tratamento de dejetos e subprodutos da mineração.

Os que ousam protestar contra este cenário são censurados e “desaparecem”. Em 2007, centenas de tibetanos protestaram contra uma exploração da montanha Yala, uma das nove montanhas considerada sagradas pelos budistas. O que se seguiu foi o desaparecimento de vários dos manifestantes. Um bom exemplo de como funciona a liberdade de expressão na China.

O uso do Tibete como depósito de lixo tóxico, incluindo lixo nuclear, pela China também é uma questão ambiental que atrai cada vez mais a atenção de outros países. Em 1984, a China já oferece receber e estocar no Tibete lixo radioativo de outros países ao preço de 1500 dólares por quilo. O platô tibetano também é local de instalações nucleares secretas chinesas.

Com vizinhos detentores de bombas nucleares (Índia e Paquistão), a China transferiu algumas de suas bases para o lançamento de mísseis nucleares para o território tibetano. A militarização da fronteira disputada com Índia também ocorreu. A relação entre os dois países nunca foi boa e a China não se conforma com o fato da Índia ter dado asilo político ao Dalai Lama. Em 2005, China e Índia chegaram a um protocolo de acordo com a China reconhecia a posse de algumas regiões pela Índia, e esta reconhecia a soberania chinesa no Tibete. Ainda hoje são frequentes como incursões do exército chinês dentro do território indiano, gerando uma tensão na fronteira.

Para garantir a ocupação do território, a China usa ainda um programa de incentivo de migrações de chineses para o platô tibetano, bancando a construção de estradas e ferrovias, permitindo o relaxamento do controle de migração (rigoroso em outras áreas), facilitando a instalação de empreendimentos privados e concedendo subsídios aos migrantes. A China conheceu a construção de uma ferrovia a fim de permitir o escoamento de recursos naturais do platô tibetano para a China e encorajar a migração de chineses para o Tibete.

Mas são os recursos hídricos que talvez melhor expliquem o porquê da China nem pensar na independência da região. O Tibete concentrou-se como nascentes de vários dos mais importantes rios da Ásia. Estes rios fluem por países como China, Índia, Paquistão, Nepal, Butão, Bangladesh, Burma, Tailândia, Laos, Vietnã e Camboja. A disponibilidade de água doce no Tibete coloca-o entre os maiores depósitos do mundo e cerca de 40 mil vezes maior do que as reservas em território chinês. A falta de água é uma questão crônica na China e entre as 640 maiores cidades chinesas, 300 experimentam racionamento de água e em 100 a falta de água pode ser considerada severa.

As nascentes e o relevo acentuado do Tibete, gera um potencial gigantesco para a geração de energia elétrica, essencial para manter o crescimento econômico da China. Cerca de dois terços do potencial hidrelétrico da China estão dentro ou imediatamente ao redor do Tibete.

Diante dessas fatos, fica claro que a questão além de envolver direitos humanos, passa obrigatoriamente pela posse e utilização de recursos naturais, bem como questões geopolíticas. Basta saber agora até que ponto a paciência budista suportará a impaciência comunista chinesa.

Olha ... Tudo de bom.