Resumo da semana 09/10/21
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Resumo da semana 09/10/21

Após um ano sem pisar por aqui, estou de volta ao meu querido Rio de Janeiro, à cidade maravilhosa onde nasci, cresci e vivi por 38 anos. Sempre que volto é uma sensação mista de sentimentos. Nostalgia e saudades, misturadas com uma leve tris...

Constantino
12 min
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O Rio é lindo

Após um ano sem pisar por aqui, estou de volta ao meu querido Rio de Janeiro, à cidade maravilhosa onde nasci, cresci e vivi por 38 anos. Sempre que volto é uma sensação mista de sentimentos. Nostalgia e saudades, misturadas com uma leve tristeza. Esta bate justamente porque escolhi sair, e pelas causas dessa decisão.

O potencial do Rio é incrível. E essa tristeza vem exatamente da clara noção de que tínhamos tudo para arrasar. O turismo, para começo de conversa, era para ser muito, muito maior. Temos as mais belas praias, com montanhas, serra, clima bom, povo animado e receptivo. A beleza natural é imbatível, qualquer gringo fica louco. Angra, Búzios, Copacabana, Itaipava: alguém pode passar o mês todo passeando e ficará encantado a cada dia.

Mas não usamos nem uma fração do nosso potencial. E aí vem aquela lista de motivos pelos quais muita gente cansa e, quando pode, se manda. E a cada vez que venho visitar, noto que pouco ou nada mudou quanto a isso. Trânsito caótico, ruas esburacadas, motoristas afoitos e sem educação. Sensação constante de perigo, pois a criminalidade é elevada e somos obrigados a atravessar locais hostis mesmo nos bairros mais nobres. E o mais grave, ainda que compreensível: o carioca é adaptado a isso, banalizou o absurdo como mecanismo de sobrevivência.

É preciso viver num lugar diferente por um tempo para se dar conta de que nada disso é razoável ou aceitável. Mas o "malandro" não só absorve o bizarro, como tira proveito dele. O problema, claro, é que tem malandro demais para otário de menos, e o resultado é um concurso de oportunismo que reduz os benefícios gerais. 

Os anglo-saxões são mais "certinhos" ou "caretas", sem dúvida, mas será por isso que foram capazes de construir sociedades mais estáveis, prósperas? O tecido social depende de alguns valores básicos disseminados, entre eles a boa fé quanto ao próximo, para se consolidar uma sociedade de confiança. No Rio isso está basicamente ausente.

É preciso olhar para os países mais avançados para entender como chegaram lá. Não precisamos inventar a roda. Basta endireitar aquilo que ainda é sinistro. Basta começar a valorizar as virtudes e rejeitar os vícios. Aí sim, teremos uma cidade maravilhosa digna de atrair para visitar e morar o mundo inteiro. Aí sim, teremos um país decente. É sonhar muito?

Offshore não é crime

Assim que pisei em solo nacional, o tema mais debatido era sobre offshores, por conta do vazamento dos Pandora Papers que indicavam empresas em paraísos fiscais do ministro Paulo Guedes e do presidente do Banco Central Roberto Campos Neto. Vamos lá:

1) Ainda bem que vivemos em um país aberto, como os países mais desenvolvidos, que nos permite investir em empresas em outras jurisdições. Gostaríamos de viver em um país em que a única possibilidade de investimento seja dentro do próprio país? Abrir offshore é a coisa mais natural do mundo;

2) Podemos investir em empresas nos EUA, na Europa, no Caribe. A escolha é nossa e depende exclusivamente das vantagens oferecidas. Imagina um modelo em que o estado nos obriga a permanecer com nossos recursos aplicados nele: seria coisa meio cubana, não?

3) O importante é que a origem do dinheiro seja fruto do nosso trabalho e que o investimento esteja declarado às autoridades fiscais. Para a a Receita Federal pelo valor de aquisição e lembrando que para o Banco Central pelo valor de mercado;

4) Não há nada de ilegal nisso, nada a se envergonhar. A única vergonha é uma mídia oportunista e tendenciosa que transforma o sucesso e a riqueza em pecado, sem separar o que é fruto de trabalho e investimento do que é fruto de roubo e corrupção.

Aqui vem o cerne da questão: ladrão é quem, como o Lula, desvia recursos do governo, pilha o estado com seus comparsas, enriquece na política. Quem ganhou dinheiro com seu trabalho no livre mercado tem todo direito de fazer um planejamento para proteger melhor seu patrimônio, ainda mais num país hostil como o Brasil, que teve desde a redemocratização inúmeros planos econômicos heterodoxos e até confisco. Sem segurança jurídica, o óbvio é quem tem dinheiro manter uma parte mais segura no exterior.

Paulo Guedes é um herói por ter tanto dinheiro legal, no Brasil e no exterior, e mesmo assim se dedicar à coisa pública, aturando esse tipo de coisa. No fundo todos sabem que o alvo é Bolsonaro. A oposição, desesperada, mira no ministro para desestabilizar a economia, torcendo pelo pior. É um jogo sujo, que tenta desestimular gente séria a trabalhar em prol do país.

Fonte virou informante

"Blogueiro bolsonarista investigado pelo STF usou estagiária de Lewandowski como informante", dizia a manchete em destaque na Folha de SP. O jornal conseguiu acesso às conversas trocadas entre o jornalista e a funcionária do ministro, usando alguma fonte. Mas eis o interessante: só quem tem fonte é jornalista de esquerda!

A tática da velha imprensa é tão manjada que falta sutileza. Todos percebem o truque. Para começo de conversa, o uso do rótulo blogueiro, que os militantes disfarçados de jornalistas usam para se referir a qualquer jornalista que não seja de esquerda.

Mesmo alguém que atua e atuou nos principais veículos de comunicação do país, como no meu caso, continua chamado de blogueiro se não for da patota corporativista, dominada pelo esquerdismo. Jornalista é termo reservado só para quem é do clubinho, gente que leva a sério Renan Calheiros.

É a mesma tática do uso da expressão "empresário bolsonarista". Ora, nunca vimos a imprensa falar em empresário tucano ou empresário lulista, mesmo quando o empresário em questão é ligado umbilicalmente ao PT ou ao PSDB. Mas bastou enxergar virtudes no presidente ou em seu governo para virar um empresário bolsonarista, em tom depreciativo.

Voltando ao caso de Allan dos Santos, do Terça Livre, eu poderia jurar que a mídia chamasse esse tipo de contato de "fonte". Algo inclusive preservado pela Constituição Federal, com direito ao sigilo e tudo. Mas como se trata de um "blogueiro bolsonarista", a fonte virou "informante", e o panfleto esquerdista disfarçado de jornal faz de tudo para criar ares golpistas e criminosos na relação entre fonte e jornalista.

A ponto de passar batido pelo que realmente importa nessas trocas de mensagens! "O que vi de mais espantoso é que realmente eles decidem como querem e o que querem. Algumas decisões são modificadas porque alguém importante liga para o ministro", diz a funcionário do ministro Lewandowski.

A prioridade dessa turma é lutar com unhas e dentes para resgatar uma era de hegemonia e monopólio das narrativas, uma época que não volta mais após o advento das redes sociais. Não há mais espírito público, compromisso com os fatos, a busca da verdade. Restou apenas a militância ideológica e a tentativa de assassinato de reputação dos novos concorrentes. São os blogueiros socialistas, que comandam o espetáculo da velha imprensa decadente...

Terrivelmente evangélico

O senador Davi Alcolumbre justificou ao Supremo Tribunal Federal, após provocação do senador Alessandro Vieira, que a demora para a sabatina de André Mendonça acontece por falta de consenso sobre a aprovação de seu nome. Oi? Mas não serve justamente para isso a sabatina? Ou só pode ser sabatinado para ver se é ou não aprovado quem já tem consenso garantido para ser aprovado?

A desculpa é esfarrapada, e todos sabem que Alcolumbre prefere outro nome e usa a demora na CCJ para retaliar o Presidente Bolsonaro. Este, por sua vez, segue seguro de que Mendonça será aprovado, e repete o aspecto crucial de sua indicação: é alguém terrivelmente evangélico, conforme havia prometido. Esse discurso tem gerado reações e a lembrança de que o estado é laico.

De fato, o estado é laico, e o critério de escolha de um juiz constitucional não deveria ser a sua religiosidade. Bolsonaro pode estar simplesmente jogando para sua plateia, ganhando dividendos políticos com seus eleitores. Um juiz tem de ser um juiz, ou seja, alguém que coloca as leis acima de suas preferências pessoais. Afinal, ele não está lá para "empurrar a história" na direção que ele considera certa.

Claro que a imprensa tem batido muito nessa tecla. Mas aqui ela, em geral, expõe seu duplo padrão também. Não houve grita quando Lula quis escolher alguém negro, e cor da pele tampouco deveria ser critério de escolha para o STF. Idem para quando a escolha visava colocar uma mulher no Supremo. O gênero não deveria importar.

Além disso, pode haver uma explicação razoável para se desejar alguém "terrivelmente evangélico", além da eleitoral: um crente cristão costuma ser mais humilde, se for crente verdadeiro, pois sabe que existe uma régua moral superior, acima dos homens, e que não cabe ao ser humano tentar usurpar o papel divino. O crente não é um revolucionário ungido que quer empurrar a história com seu ativismo, em suma.

Não foram poucos os pensadores importantes que enxergaram os pilares da liberdade ocidental como indissociáveis do cristianismo. Tocqueville foi um deles, entre tantos outros. Os pais fundadores da América estavam seguros de que a república que criavam não sobreviveria numa sociedade sem os valores cristãos.

Nobel da Paz

Os jornalistas Maria Ressa, das Filipinas, e Dmitri Muratov, da Rússia, ganharam o prêmio Nobel da Paz de 2021. O anúncio foi feito na manhã desta sexta-feira (8) pelo comitê norueguês do Nobel.

Ressa, 58, repórter filipino-americana, é editora do site de jornalismo investigativo Rappler e foi presa pelo governo de Rodrigo Duterte, em 2019, acusada de violar uma controversa legislação contra “difamação cibernética” devido a uma reportagem em que acusava um empresário filipino de atividades ilegais.

Já Muratov, 59, é cofundador e editor-chefe do Novaia Gazeta (novo jornal, em russo), um dos principais jornais de oposição ao governo de Vladimir Putin. O comitê norueguês descreveu o veículo como o mais independente da Rússia atualmente.

A escolha, justificou a porta-voz do comitê, Berit Reiss-Andersen, foi um aceno à defesa das liberdades de imprensa e de expressão, "pré-requisitos para sociedades democráticas e para a paz duradoura".

Não sou exatamente alguém simpático ao Nobel da Paz, prêmio que foi banalizado e já foi parar em lugares sem qualquer sentido, até mesmo com terroristas como Yasser Arafat ou embusteiros como Al Gore. Mas esse prêmio deste ano reforça a importância do fator coragem na profissão de jornalista, algo um tanto em falta no Brasil.

Ao buscar a verdade e lançar luz sobre o que os poderosos gostariam de manter às sombras, o jornalismo leva informação ao público e serve como uma espécie de poder moderador. Ou deveria ser assim. E o grande teste é observar quem realmente detém poder para calar, intimidar ou perseguir jornalistas.

Qualquer um pode xingar, demonizar ou mesmo desejar a morte de Bolsonaro abertamente, que nada acontece. Mas há jornalistas presos por "atacarem" o STF, e nossa imprensa considera isso normal. O grande teste de coragem do jornalismo é perguntar qual risco de retaliação que suas investigações produzem. Investigar Putin e Duterte é perigoso mesmo. Investigar Bolsonaro não. Já investigar ministros supremos...

Chicobrás

O presidente Bolsonaro vetou o trecho de uma nova lei que previa a oferta gratuita de absorventes higiênicos e outros cuidados básicos de saúde menstrual. Na justificativa, o presidente alega que consultou tanto o Ministério da Economia como o da Educação e que "a proposição legislativa contraria o interesse público, uma vez que não há compatibilidade com a autonomia das redes e estabelecimentos de ensino". Além disso, Bolsonaro afirma que o projeto "não indica a fonte de custeio ou medida compensatória".

Nas redes sociais, porém, a esquerda em peso explorou o caso para pintar o presidente como alguém insensível, cruel e até misógino. A deputada Tabata Amaral, por exemplo, afirmou que Bolsonaro “mostra seu desprezo pela dignidade das mulheres vulneráveis e pela luta da sociedade contra a pobreza menstrual”. Em seguida puxou uma hashtag “LivreParaMenstruar”. Esse foi o tom adotado por Randolfe Rodrigues, o companheiro do ditador Maduro, e também pelo senador Alessandro Vieira, sem falar do PT em peso e de muitos jornalistas.

Claro que essa oposição oportunista está sempre em busca de qualquer pretexto para demonizar Bolsonaro, que já é responsabilizado de forma bizarra até pelas mortes na pandemia e também pela inflação e o desemprego, frutos dos lockdowns que o presidente condenou. Não perdem uma oportunidade de vender a ideia de que Bolsonaro é alguém malvado. Mas o caso serve para uma reflexão mais profunda.

A esquerda adota a falácia de que se você é contra o estado distribuir algo "gratuito" (risos), então você só pode ser contra o uso dessa coisa pelos pobres. Quem acha que não cabe ao governo distribuir absorventes, então só pode ser contra o uso de absorventes pelas mulheres pobres. Isso é ridículo, sem sentido e denuncia a mentalidade socialista dessa turma. 

Ora, o estado deve cuidar da produção de alimentos então? Pois nada é mais básico e essencial do que comida, não é mesmo? Na União Soviética tentaram seguir por esse caminho e milhões morreram de inanição. No ocidente capitalista, o estado não cuidava da alimentação dos pobres, mas os pobres tinham alimentos acessíveis. 

É o velho monopólio das virtudes, dos fins nobres, para não precisar debater os meios. A esquerda ignora os conceitos de escassez, de custo de oportunidade, e enxerga o estado como um instrumento da justiça social, a locomotiva do progresso, uma entidade formada por anjos clarividentes e abnegados que possuem infindáveis recursos à disposição, pois eles brotam do solo ou caem do céu. Considerar que o próprio mercado atende melhor os mais pobres, ou que a filantropia voluntária seja um caminho melhor é algo que nem passa pela cabeça dessa gente. 

Tudo que querem é gritar “absorvente para todos”, ou melhor, para “todes”, já que é preciso incluir os trans e pessoas não-binárias na jogada, e depois demonizar quem discorda de seus métodos. É um truque velho e manjado, mas sem isso o que resta aos esquerdistas?