O clima era bom para quem gosta de frio, a temperatura chegava aos dois graus abaixo de zero e o pasto e as plantas frequentemente ficavam brancos por causa da geada. A Serra do Rio do Rastro é uma beleza natural esplêndida. Conta-se que foi explorada, há centenas de anos, pelos índios, logo, os tropeiros foram obrigados a descerem com seus cavalos formando uma das estradas mais espetaculares do mundo. É um dos poucos lugares que neva no Brasil, a neve, chega até as canelas dos turistas que não precisam sair do território brasileiro para contemplar esse maravilhoso fenômeno da natureza. Ao descer a serra, pode-se ver as cachoeiras que embelezam as montanhas altas e quase inexploradas. As águas que descem pelas rochas congelam, fazendo parecer cristais preciosos que se quebram e caem na medida que o sol vai resplandecendo e aquecendo as tardes. O povoado que fica logo abaixo dessas montanhas é pequeno, tem cerca de treze mil habitantes. A maioria dos homens, trabalham nas minas de carvão, é comum encontrar nas pequenas ruas homens com o rosto preto por causa do carvão mineral. As mulheres trabalham no comércio, vendem roupas, sapatos, cobertores e utensílios para a casa. As crianças estudam meio período, quando não estão na escola, brincam pelas ruas de esconde-esconde, futebol, pescam, andam em bicicletas, ou com os famosos carrinhos de rolimã. Os pais ficam tranquilos porque a cidade é segura. Não há crimes, quando há algum roubo ou assalto (coisa que quase nunca acontece) é notícia para todos ficarem sabendo. O lugar é bonito, em volta da cidade há montanhas e árvores grandes, elas são pinheiros ou eucaliptos que dançam ao ritmo do vendo. Há um rio, sujo, mas faz parte da cidade. À noite, pode-se contemplar o céu estrelado, as estrelas brilham mais do que em qualquer outro lugar e a lua parece sorrir. Ao amanhecer, a cidade é coberta por uma forte neblina que não permite o transeunte enxergar o que há em dois metros de distância. A culinária é boa, pois, imigrantes italianos trouxeram a polenta e os gaúchos mostram sua habilidade em fazer os churrascos mais famosos do país. Nos domingos o cheiro da carne invade a cidade. O transporte é diferenciado. Há carros, bicicletas, motos, mas há também carroças de bois ou cavalos que transportam os colonos do campo para a cidade, com um palheiro na boca e um chapéu na cabeça, os senhorzinhos vão à cidade comprar sementes ou negociar seus produtos, quando não vão aos bancos ou lojas. Há pelo menos três clubes que as pessoas frequentam: o clube Cruz de Malta, o Clube do Cairu ou o Clube do Arizona, as pessoas vão para ouvir músicas e namorarem, os grupos de amigos já são formados e a maioria gosta de tomar cervejas, vinhos e conhaque. A cidade é unida, quase todos se conhecem: quando não conhece o pai, conhece o tio; ou, o primo; ou, os avós. O homem do campo acorda cedíssimo, coloca lenha no forno para esquentar a casa, pega o bolo de fubá e o café quente para desjejuar antes de ir para a roça. As casas no interior são belas, algumas são chalés com pelo menos uma chaminé fumaceando. As casas no centro da cidade são muito bem pintadas, cuidadas, a maioria com um jardim na frente com a grama cortada e com algumas flores que combinam com os portões. Tudo na cidade é lindo e maravilhoso, não parece que estamos no Brasil, parece que estamos em alguma luxuosa cidade italiana. A cidade conserva o que é bom: cultura, valores, bons hábitos, religiosidade, festas, amizades e tudo o que foi bom e que sobreviveu aos testes do tempo. O que não foi bom simplesmente foi descartado para que o novo fosse adaptado. |