O ENCONTRO
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O ENCONTRO

Uiliam da Silva Grizafis
7 min
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Enquanto isso, Manuel levou nosso herói à casa de um amigo que prontamente os atendeu, Gerard se banhou, comeu algo e experimentou roupas que Adrian podia emprestar-lhe. Gerard já havia tido namoradas, mas nenhuma o impressionou tanto quanto Mari. Pela primeira vez se sentia feliz, sua vida sempre fora de incertezas e indecisões, sempre buscou um sentido e até o momento não havia encontrado. Seus olhos brilhavam quando se lembrava da voz de sua amada, teve esperança e motivo para acreditar que a vida tinha algum sentido. O narrador poderia colocar aqui outros sentidos como: dinheiro, viagens, prazeres momentâneos ou qualquer outra coisa, mas foi colocado uma pessoa.

Uma mulher pode trazer esperança para uma vida sem sentido, também pode motivar e trazer novos sonhos, pode trazer vida para aquilo que já está morto. Deus viu que Adão estava só e lhe preparou uma companheira. Um amor pode destruir uma vida quando não é correspondido, pessoas se suicidam por amor como o jovem Werther, outros, se contentam, mas vivem uma vida desgraçada, ou até encontrar outra que lhe dê sentido.

O amor traz cores a uma vida em preto e branco, o beijo de dois enamorados transcende todo pensar, os elevava a um outro patamar, no ato, só há os dois, ninguém mais. A noite chegou, já era hora, Gerard não tinha certeza se seria correspondido, talvez, ela só viu nele uma amizade que poderia se desenrolar. O jovem não via desse jeito, a esperança é a última que morre. A essas alturas, Vitor já havia saído da prisão, foi libertado e se encontrava nos bares, bêbedo e procurando prazeres momentâneos com outras mulheres, Camila, vivia sua vida, passou a estar triste e pensava procurar o padre que estava atrás do pastor para resolver um problema que ele havia causado ao visitar membros da igreja católica. Hercílio, Bastião e os outros políticos, estavam ansiosos pela campanha política, andavam otimistas pelas ruas da cidade entregando folhetos com as propostas para melhorar a vida da população. Dom Chico saiu do hospital, a polícia encontrou seu cavalo e o havia entregado. Já recuperado e sabendo que Gerard estava acompanhado, voltou a Lauro Müller, pois dona Laura estava a ponto de infartar porque não tinha notícias de seu marido. No caminho, encontrou Junior e lhe explicou o que havia passado e que Gerard estava em Nova Veneza, Junior, por sua vez, decide voltar à Lauro Müller. “Meu irmão é um louco”, pensava consigo. Walter, o professor, andava dizendo aos seus alunos para não confiarem nos políticos que andavam pela cidade, que tudo era balela. Os alunos teriam que ser virtuosos em tudo, e se decidissem seguir na política, não poderiam perder a virtuosidade. Mas nossa atenção aqui é com Gerard e Mari que por fim se encontraram para o jantar, Mari queria saber mais daquele jovem, a inteligência do rapaz a impressionara, ela queria ouvi-lo mais.

Gerard entra no restaurante com roupas emprestadas, uma calça preta, uma camisa de quadros cinza e branca e um sobretudo marrom. Mari, por sua vez, estava elegantíssima, vestia um vestido prateado e brilhante que combinava com suas joias de prata que estavam penduradas no seu lindo pescoço e punhos. Ela havia feito tranças no cabelo e isso deixou nosso herói mais louco de amor. Cabe deixar claro aqui, caro leitor, que foi o próprio Adrian que lhe emprestou dinheiro para o jantar, lembremos que Gerard estava sem um tostão. A moça já estava no local, sentada a espera do moço que se aproxima e lhe beija a mão.

Gerard estava tímido enquanto Mari queria saber mais de sua vida, onde trabalhava, o que estudava, eram perguntas que saíam daquela linda boca.

- Me parece que eres un chico muy listo – afirmara Mari enquanto o ouvia falar de filosofia.

- Tudo que é bom acaba – dizia-lhe Gerard quase gaguejando – e sei que você voltará à Espanha em breve, mas foi um prazer conhecê-la.

- Me gusta viajar pelo mundo, conhecer novas pessoas e lugares, quem sabe um dia volveremos a nos encontrar, se não for nessa vida, será na próxima.

- Você acredita em outra vida?

- Não sei, falei por hábito, mas, mudando de assunto, acho que te vi em Lauro Müller quando estava lá, você estava sentado ao lado de um casal de idosos. Também prestei a atenção em você.

Gerard ficou sem palavras. A comida chegou e Gerard teve tempo para se recompor. Estava aflito diante de uma mulher que apareceu de repente em sua vida. Algumas pessoas se acercaram à moça para cumprimentá-la e elogiá-la pelo talento que possuía, Gerard, ao ver que a moça estava incomodada lhe propõe sair e dar uma volta, caminhar um pouco pela praça da cidade. Mari aceitou. Após terminarem de comer os dois se levantaram e saíram do restaurante. Enquanto caminhavam pela cidade Mari lhe contou quase toda a sua vida, Gerard, por sua vez, lhe contou sobre seu fiel amigo Dom Chico, Vitor, e contou-lhe mais sobre a história de Lauro Müller. Quando menos perceberam viram no relógio que estava na igreja que já se passava da meia noite, a cidade estava solitária, era somente os dois que caminhavam tranquilamente pelas ruas, Mari tirou seus sapatos e passou a andar descalça, Gerard se ofereceu para segurar-lhes.

A noite estava estrelada e clara, Gerard se surpreendeu com o gênio alegre e descontraído da moça, mas teve uma dor no coração quando ela disse que já precisava dormir, pois, no outro dia, cedinho, já ia viajar para seu país. Quando chegaram na porta do hotel, após se despedirem Gerard lhe agarra sua mão esquerda e a puxa de encontro a ele, Mari não se detém, se aproxima dele e lhe dá um beijo na boca. Não há como explicar aqui, em palavras, como foi esse momento, Mari o abraça e o beija com carinho. Ficaram mais ou menos meia hora abraçados, tudo era estranho, haviam se conhecido a pouco tempo, mas o amor os tomou por inteiros. Mari abre a porta do hotel, o olha com olhar triste:

- Adiós, si es de la permisión de Él nos volveremos a ver.

“Permissão de Deus, tomara que Ele permita”, pensava Gerard, Mari, em seguida, fecha a porta. Gerard se senta no chão e começa a meditar como uma criança, olha para o céu e vê a lua que parecia estar sorrindo para ele. “É o mesmo céu que ela vai estar olhando onde quer que esteja”. Ali mesmo dormiu, quando, de súbito, aparece Manuel para despertar-lhe. Os dois foram juntos para a casa de Adrian. Gerard não conseguiu mais dormir e quando amanheceu correu para o hotel, mas Mari já não estava lá.

Gerard, antes de voltar para Lauro Müller, sabendo que talvez nunca mais a veria, pega um pedaço de papel e escreve:

“Guarda estes versos que escrevi chorando,Como um alívio a minha saudade,Como um dever do meu amor; e quandoHouver em ti um eco de saudade,Beija estes versos que escrevi chorando.”[1]

Logo, dobra o papel e o guarda no bolso. Manuel pega o cavalo e anuncia a partida, Gerard sobe na carroça e retorna ao lar. Manuel foi até Lauro Müller para deixá-lo, depois, claro, de passar na casa de Adrian para devolver-lhe as roupas. Nosso herói chegou em casa por volta das sete da manhã, abriu uma garrafa de whisky e se senta sobre a grama e fica a olhar para o céu, havia encontrado, mesmo que por alguns instantes o sentido para sua vida.



[1] Poema de Machado de Assis.