Wladmir da "Democracia"
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Wladmir da "Democracia"

Mesmo aquele corintiano que não viveu o final dos anos 70 e início dos anos 80 já escutou falar da “Democracia Corintiana”. O movimento tinha como objetivo dar autonomia para os jogadores decidirem sobre os rumos que o clube estava tomando, c...

Rômulo Souza Rosa
3 min
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Mesmo aquele corintiano que não viveu o final dos anos 70 e início dos anos 80 já escutou falar da “Democracia Corintiana”. O movimento tinha como objetivo dar autonomia para os jogadores decidirem sobre os rumos que o clube estava tomando, como a divisão do bicho, qual atleta deveria ser contrato, ter ou não ter a polêmica concentração, entre outras escolhas. Mas também era uma forma de exigir o fim da ditadura militar e claro, a volta das eleições para Presidente da República. 

Dentro deste grupo de profissionais havia três figuras muito importantes: o Dr. Sócrates, Walter Casagrande e Wladimir, considerado o maior lateral-esquerdo da história do Sport Club Corinthians Paulista.

Ídolo do Alvinegro do Parque São Jorge com mais jogos com a camisa do clube (Fonte: Acervo Corinthians) 
Ídolo do Alvinegro do Parque São Jorge com mais jogos com a camisa do clube (Fonte: Acervo Corinthians) 

Quem foi Wladimir

Segundo Sócrates, Wladimir era uma das figuras mais importantes para a Democracia Corintiana. Doutor relata no documentário “Democracia em Preto e Branco” que o lateral esquerdo tinha um simbolismo especial para o movimento, pois era negro, e um jogador como ele, politizado e por dentro das pautas sociais do país, tornava-se “representativo em um Brasil extremamente racista.”

O camisa seis  do Parque São Jorge nasceu em 24 de agosto de 1954, começou sua carreira nas categorias de base do Corinthians e é considerado o melhor em sua posição. Recordista de jogos com o uniforme do alvinegro paulista, Wladimir jogou 806 partidas e marcou 34 gols. O jogador também participou de momentos históricos no clube, como a “Invasão da Fiel” no Maracanã em 1976, a quebra do jejum de títulos em 1977 e os três Campeonatos Paulista, 1979, 1982 e 1983.

Sua importância para a democracia e para o futebol

Segundo o Relatório Anual da Discriminação Racial, no Brasil em 2020 foram 31 casos de incidentes  raciais envolvendo jogadores ou profissionais ligados ao futebol. Um deles aconteceu com o atleta Marinho do Santos Futebol Clube. O comentarista esportivo conhecido como Chef Benetti na transmissão do jogo Santos x Ponte Preta pela “Rádio Energia 97” disse o seguinte comentário: “ Marinho é Burro e está na senzala” após o camisa 11 do Santos ser expulso da partida.

Por esses motivos, a história de Wladimir se torna valorosa na luta contra o preconceito racial. O jogador do Corinthians, bem como Marinho, Tinga e o goleiro Aranha foram figuras que não ficaram passivas perante as opressões e atos intolerantes. Tiveram posições combativas e firmes. 

A postura conscientizada sobre questões políticas de Wladimir tem muita influência dos movimentos sindicais do ABC paulista.  O lateral esquerdo do Timão tinha uma proximidade muito grande com os metalúrgicos que na mesma época da Democracia Corintiana estavam realizando as importantes greves lideradas pelo Ex-presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva. Outro fato histórico importante para por fim no período ditatorial no Brasil.

Jogador "diferenciado"

O termo diferenciado é muito utilizado no mundo esportivo para designar aquele atleta extraordinário, o “gênio da bola”. Wladimir era sim um jogador singular, mas por outros motivos. Distinto daquele estereótipo de profissional que chama atenção pelas roupas extravagantes, festas com a participação de todos as celebridades  do momento, ou por colecionar polêmicas em noticiários de fofoca.

O corintiano entendia a situação social e política do Brasil. Como Sócrates e Casagrande, tinha consciência que poderia utilizar da imagem para fazer a diferença. Para quem pensa que futebol e política não se misturam, Wladimir e aquela equipe do Corinthians provaram ao contrário. Eles tomaram posição, levantaram uma bandeira e brigaram pela democracia